são mais bem conhecidos do que outros. As expressões regionaissão infinitamente <strong>maio</strong>res do que a produção <strong>de</strong> conhecimento<strong>de</strong>tecta<strong>da</strong> pela pesquisa nas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, pelas históriasnos filmes, na literatura, nas músicas, po<strong>de</strong> acompanhar e difundir.As tentativas <strong>de</strong> estabelecer correspondências entre origens<strong>de</strong> um panteão religioso existente no Brasil e em África também ébastante complexo. Há dinamismos, tanto lá quanto aqui, poucoconhecidos. Mas, apesar dos infinitos arranjos tecidos na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>brasileira, eles resguar<strong>da</strong>m uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> africana. O quadro aseguir traz algumas <strong>da</strong>s referências mais consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s nessa correspondência.Ele não esgota, mas procura aju<strong>da</strong>r na localizaçãoinicial <strong>de</strong>ssas tradições.O encontro entre o universo religioso cristão, as inúmeraspráticas religiosas indígenas, as religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s africanas e <strong>de</strong>maisorigens formadoras <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, apresenta nuancesconstruí<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> história brasileira. Mais do que precisarcorrespondências, o importante é enfatizar que as crenças quecirculam sobre essas manifestações <strong>de</strong>vem estar diretamente relaciona<strong>da</strong>sao respeito <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira para com elas.A população afro-brasileirae suas religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>sAs pessoas negras po<strong>de</strong>m ter as mais diversas religiões. Po<strong>de</strong>m chegarao sacerdócio como ialorixás, babalaôs, babalorixás, humbonos,humbondos (<strong>de</strong>nominação jeje), mametos, tatetos, tatas (<strong>de</strong>nominaçãocongo-angola), mas também padres, rabinos, pastores, monges.Ou po<strong>de</strong>m ter a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> principal numa religião e se interessarou ter simpatia por preceitos <strong>de</strong> outra(s). No entanto, a religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>caracteriza<strong>da</strong> como afro-brasileira é i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> imediatamente,em nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, com o candomblé ou com a umban<strong>da</strong>.Vale ressaltar que, <strong>da</strong> mesma forma que o cotidiano <strong>da</strong> populaçãonegra foi atingido por uma série <strong>de</strong> sinais negativos, a vi<strong>da</strong> religiosatambém foi alvo <strong>de</strong> muita con<strong>de</strong>nação e perseguição.De olho na Cultura 63
Uma <strong>da</strong>s <strong>maio</strong>res dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira é tratardo tema <strong>da</strong>s religiões com to<strong>da</strong>s as dimensões que ele merece:a histórica, a estética, a filosófica dos preceitos, a terapêutica,a lingüística, a ética. Isto se constitui uma <strong>da</strong>s piores faces <strong>da</strong> intolerânciaque é a perseguição religiosa.A Constituição garante a ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão o direito <strong>de</strong> ter suacrença, <strong>de</strong> praticá-la ou, até mesmo. o direito <strong>de</strong> não ter crença. Épreciso lembrar que houve muita luta até esse direito estar garantido.Todos ganham exercitando uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito às manifestações<strong>de</strong> fé, pois entre elas há um circuito <strong>cultura</strong>l <strong>de</strong> afetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>.Consi<strong>de</strong>rando a leitura do texto:Você é praticante <strong>de</strong> alguma religião? Hoje em dia, você po<strong>de</strong>praticá-la sem ser con<strong>de</strong>nado por isso?Os homens e as mulheres que vieram escravizados para oBrasil trouxeram consigo suas religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas, por geraçõessegui<strong>da</strong>s, foram entrando em contato com a religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> trazi<strong>da</strong><strong>da</strong> Europa, e outras influências que, já em África, aconteciam.O culto católico, por exemplo, ofereceu repertório ao modo<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> religioso afro-brasileiro. Lembremos que to<strong>da</strong> a rica e varia<strong>da</strong>ritualística africana passou por perseguições e excomungações.No caso do culto aos orixás, principalmente na Bahia, se contaque, numa sábia operação, os santos do hagiológico cristão entraramem ação. Santos e orixás, unidos, abriram caminhos para permanecercultuados. Santa Bárbara, na leitura africana, foi reconheci<strong>da</strong>como Iansã, os gêmeos S. Cosme e Damião foram reconhecidoscomo os gêmeos ioruba Ibeji, Nosso Senhor do Bonfim,como Oxalá, e assim por diante.Com a segregação, a separação <strong>de</strong> igrejas para brancos e paranegros, promovi<strong>da</strong> pelo sistema escravagista, as irman<strong>da</strong><strong>de</strong>s cumpriraminúmeras funções, <strong>de</strong>ntre elas a <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os“malungos”, isto é, irmãos. Havia i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s compartilha<strong>da</strong>s, apesar<strong>da</strong>s origens e <strong>da</strong>s línguas diversas. Era um espaço <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Na <strong>de</strong>voção também se garantiu o culto aos mortos e atémesmo a organização para o objetivo <strong>de</strong> alforriar os escravizados.64 De olho na Cultura
- Page 4:
Andréia Lisboa de SouzaAna Lúcia
- Page 10 and 11:
IntroduçãoLivros circulam em todo
- Page 12 and 13:
A CRIAÇÃO DOS MUNDOSPELA CULTURAA
- Page 14: Nomeando e julgandoO ser humano tem
- Page 18 and 19: As lentes da culturana representaç
- Page 20 and 21: Antigas colônias francesasAntigas
- Page 22 and 23: de certas relações sociais e econ
- Page 24 and 25: Mas nem sempre a cultura a ser cons
- Page 26 and 27: CULTURAE FORMAÇÃO DE IDENTIDADESO
- Page 28 and 29: Quais são as relações entre cult
- Page 30 and 31: Identidades:pequenos grandes retrat
- Page 32 and 33: Porém, independentemente da miscig
- Page 34 and 35: Texto AFrechal: Terra de Preto 3Ter
- Page 36 and 37: Na escola dos mestres das palavras
- Page 38 and 39: REPRESENTAÇÕES DO HOMEME DA MULHE
- Page 40 and 41: Em nossa sociedade muito se tem dis
- Page 42 and 43: Mãe Hilda JitoluHilda Dias dos San
- Page 44 and 45: Esta é uma conhecida frase da pesq
- Page 46 and 47: E tu te lembras da Casa-Grandee vam
- Page 48 and 49: Filhote no subúrbioMulato, pardo o
- Page 50: mulher. Os adultos educam as crian
- Page 53 and 54: 52 De olho na Cultura
- Page 55 and 56: Geralmente podemos observar, por me
- Page 57 and 58: cabelos dreadlocks, em contraste à
- Page 59 and 60: mada em mercadorias. As expansões
- Page 61 and 62: criadas no Brasil. Essas classifica
- Page 63: Dicas culturais:A Casa Branca do En
- Page 67 and 68: Nas irmandades, um dos princípios
- Page 69 and 70: 68 De olho na Cultura
- Page 71 and 72: Sim, somos todos seres humanos, por
- Page 73 and 74: Brincadeiras sem constrangimentosN
- Page 75 and 76: Mais explicitamente agressora, do p
- Page 77 and 78: Estudo sobre a relação entre tele
- Page 79 and 80: Dicas culturais:Você sabia que, h
- Page 81 and 82: Das ruas para as academiasNo ano de
- Page 83 and 84: 82 De olho na Cultura
- Page 85 and 86: 84 De olho na Cultura
- Page 87 and 88: Essa interação envolve os reinos
- Page 89 and 90: os valores e a memória são revivi
- Page 91 and 92: Ancestral do metalDo ferro naturalD
- Page 93 and 94: Muitos só tiveram a sorteda mortal
- Page 95 and 96: prospectivo, vertical e horizontal,
- Page 97 and 98: 1. O Cacumbi, manifestação da reg
- Page 99 and 100: tral — espécie de bateria — co
- Page 101 and 102: Desafio no rap emboladaÉ o Rap emb
- Page 103 and 104: Mente em açãoNote que o jogo desa
- Page 105 and 106: 104 De olho na Cultura
- Page 107 and 108: Levante de Sabres Africanos(Guellwa
- Page 109 and 110: línguas faladas no continente afri
- Page 111 and 112: ar um movimento em direção oposta
- Page 113 and 114: 4. Um dos significados de territori
- Page 115 and 116:
Linguagem e poder... A começar do
- Page 117 and 118:
termos lingüísticos com a finalid
- Page 119 and 120:
da igreja/comprovante vai pro fogo/
- Page 122 and 123:
MODALIDADES CULTURAISDE LINGUAGEML
- Page 124 and 125:
Patrimônio oralNas unidades anteri
- Page 126 and 127:
Soltando o verboO provérbio é out
- Page 128 and 129:
Um traço marcante nas modalidades
- Page 130 and 131:
Certo de que a Caveira não o decep
- Page 132 and 133:
pre afirmam explicitamente uma verd
- Page 134 and 135:
cas em histórias e tradições. Do
- Page 136 and 137:
Mestre Lico: Tatu tá véio/ (coro)
- Page 138:
Utilizando outras modalidades na fa
- Page 141 and 142:
140 De olho na Cultura
- Page 143 and 144:
Os adornos corporais, os objetos ri
- Page 145 and 146:
uso de madeira, que era entalhada c
- Page 147 and 148:
Da África para o MundoPor muito te
- Page 149 and 150:
pectiva e a ilusão de profundidade
- Page 151 and 152:
Arte de MemóriaQuando o ser humano
- Page 153 and 154:
Cultura e identidade na arteNem tod
- Page 155 and 156:
África-Brasil - re/traduçãoNão
- Page 157 and 158:
técnica e expressão artística, c
- Page 159 and 160:
etratam suas lembranças de infânc
- Page 161 and 162:
Pérolas do BrasilTambém nos anos
- Page 163 and 164:
Afinal, o que é arte?Podemos aceit
- Page 165 and 166:
Para dar certo: Encha a bexiga até
- Page 167 and 168:
Caso esteja quebradiça, proceda da
- Page 169 and 170:
168 De olho na Cultura
- Page 171 and 172:
A cara negra da imprensaA imprensa
- Page 173 and 174:
Herbel e Tibério, o Teatro Experim
- Page 175 and 176:
Televisão em questãoA televisão,
- Page 177 and 178:
Em 1996, a Rede Manchete de Televis
- Page 179 and 180:
Cinema em preto e brancoNo Brasil d
- Page 181 and 182:
Luz, câmera... re/açãoA represen
- Page 183 and 184:
O papel da mídiana discussão étn
- Page 185 and 186:
etomado, mas também é generoso, p
- Page 187 and 188:
Capítulo 21. CARNEIRO, Sueli. Negr
- Page 189 and 190:
Capítulo 51. AREIAS, Almir. O que
- Page 191 and 192:
3. __________. “Colaboração, An
- Page 193 and 194:
5. RODRIGUES, João Carlos. O Negro
- Page 195 and 196:
194 De olho na Cultura
- Page 197:
Uma história do negro no Brasilde