cados — e, na própria voz dos sujeitos, buscar saí<strong>da</strong>s pararedimensionar a condição atual.Vejamos a seguir algumas maneiras encontra<strong>da</strong>s para enfrentartal <strong>de</strong>safio.A linguagem – uma forma <strong>de</strong> inter-açãoA linguagem configura-se nos discursos falados ou escritos quecirculam em espaços abertos ou fechados, na mídia impressa ouem sites mantidos por vários grupos na Internet. Tais discursosapresentam várias proposições para a construção <strong>de</strong> um auto-conceitopositivo e a re<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>cultura</strong>l.O movimento Hip Hop completou 30 anos <strong>de</strong> existênciaem Nova York, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> foram disseminados seus conceitos e práticas,inspira<strong>da</strong>s nas festas <strong>de</strong> rua jamaicanas. Consi<strong>de</strong>rado um dosgran<strong>de</strong>s fenômenos socio<strong>cultura</strong>is <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, é predominantementeurbano, li<strong>de</strong>rado por jovens, em sua <strong>maio</strong>ria negros, que se<strong>de</strong>stacam como porta-vozes <strong>da</strong> periferia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s capitais. Nosúltimos anos, a linguagem do hip hop transbordou para espaços<strong>de</strong> classe média e interage com outros estilos musicais, tais comoo rock e a música eletrônica. Outra marca a ressaltar <strong>de</strong>ste movimentoé o uso <strong>da</strong> linguagem não-verbal.No Brasil, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo foi o berço do hip hop, nadéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980. A partir <strong>da</strong>í, o movimento se espalhou para outrasregiões como <strong>cultura</strong> <strong>de</strong> rua, pelo aspecto mais artístico e festivo,por um lado, e, por outro lado, como forma <strong>de</strong> retomar questionamentose reivindicações do movimento negro e <strong>de</strong> algumas organizaçõesnão-governamentais. Como exemplo, po<strong>de</strong>mos citar as políticas<strong>de</strong> ação afirmativa volta<strong>da</strong>s para a população negra.O movimento Hip Hop abrange o break — que faz uso <strong>da</strong>linguagem corporal, <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça; o grafite — que faz uso <strong>da</strong> linguagemvisual, plástica; e o rap — que faz uso <strong>da</strong> linguagem oral eescrita, como veremos neste capítulo. A música fala<strong>da</strong> é acompanha<strong>da</strong><strong>de</strong> gestos ritmados, ao som <strong>de</strong> bati<strong>da</strong>s.As letras apontam a intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> quem fala nos espaços<strong>de</strong> interação. Os Mestres <strong>de</strong> Cerimônia — MCs — usamDe olho na Cultura 115
termos lingüísticos com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> persuadir e chamar a atençãopara <strong>de</strong>terminados acontecimentos. Nas canções háentonações diferencia<strong>da</strong>s, para<strong>da</strong>s, alongamentos <strong>de</strong> algumas palavras,aumento e diminuição <strong>de</strong> volume. Os MCs falam e solicitamrespostas, organizam refrões que interrogam, afirmam e pe<strong>de</strong>m,<strong>de</strong> maneira mais ou menos direta, um comprometimentodos ouvintes. Tudo isso fortalece o uso socio<strong>cultura</strong>l <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Leia atentamente os textos a seguir, observe o emprego <strong>da</strong>linguagem e localize a relação existente entre territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>, cotidianoe <strong>cultura</strong>.Texto AA letra <strong>de</strong> rap a seguir é <strong>da</strong> primeira canção <strong>de</strong> sucesso doAliado G, do grupo Face <strong>da</strong> Morte — criado em 1995 e originário<strong>de</strong> Hortolândia, distrito <strong>de</strong> Campinas/SP.Bomba H - Aliado G (grupo Face <strong>da</strong> Morte)Só idéia forte/Aqui é face <strong>da</strong> morte que chegou praficar/Não veio pra rebolar/Na bati<strong>da</strong> que apavora/Orap é fo<strong>da</strong> e não é mo<strong>da</strong>/Fo<strong>da</strong>-se quem se incomo<strong>da</strong>/Revolução no ar/Minha rima é Bomba H/Difícil <strong>de</strong> segurar/Eucheguei pra somar/Trocar uma idéia <strong>de</strong> irmão/Eaí sangue bom, a coisa aqui não é fácil não/Cheirar cola, fumar crack, <strong>da</strong>r uns tiro ou tomar baque,encher a cara <strong>de</strong> cachaça, ou assistir o “Sai <strong>de</strong>baixo”/É melhor pensar um pouco e ver em qual drogaeu me encaixo/Eu acho que nenhuma vale a penaTô fora <strong>de</strong>sse esquema/Eu quero ir pra bem distante/Espere um instante, acho que vou pra beira-marpegar um táxi pra estação lunar/Quem sabe <strong>de</strong> lá, euconsiga ver e enten<strong>de</strong>r melhor esse mundo imundo/E como disse Zé Ramalho: ê vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> gado, baralhomarcado, não entendo esse jogo/Tão me fazendo <strong>de</strong>bobo/Vê se po<strong>de</strong>? No congresso mu<strong>da</strong>r a lei em benefício<strong>da</strong> sic/Enquanto o povo passa fome, é humilhadoe só se fo<strong>de</strong>/Nas ruas eu vejo as tropas <strong>de</strong> choquetrocando tiro /na favela o sangue escorre nasvielas/quem tem fé acen<strong>de</strong> vela/o corpo rola noescadão/essa é a missão/o militar <strong>de</strong> baixo e alto escalão/nosquartéis eles ensinam uma antiga lição <strong>de</strong>116 De olho na Cultura
- Page 4:
Andréia Lisboa de SouzaAna Lúcia
- Page 10 and 11:
IntroduçãoLivros circulam em todo
- Page 12 and 13:
A CRIAÇÃO DOS MUNDOSPELA CULTURAA
- Page 14:
Nomeando e julgandoO ser humano tem
- Page 18 and 19:
As lentes da culturana representaç
- Page 20 and 21:
Antigas colônias francesasAntigas
- Page 22 and 23:
de certas relações sociais e econ
- Page 24 and 25:
Mas nem sempre a cultura a ser cons
- Page 26 and 27:
CULTURAE FORMAÇÃO DE IDENTIDADESO
- Page 28 and 29:
Quais são as relações entre cult
- Page 30 and 31:
Identidades:pequenos grandes retrat
- Page 32 and 33:
Porém, independentemente da miscig
- Page 34 and 35:
Texto AFrechal: Terra de Preto 3Ter
- Page 36 and 37:
Na escola dos mestres das palavras
- Page 38 and 39:
REPRESENTAÇÕES DO HOMEME DA MULHE
- Page 40 and 41:
Em nossa sociedade muito se tem dis
- Page 42 and 43:
Mãe Hilda JitoluHilda Dias dos San
- Page 44 and 45:
Esta é uma conhecida frase da pesq
- Page 46 and 47:
E tu te lembras da Casa-Grandee vam
- Page 48 and 49:
Filhote no subúrbioMulato, pardo o
- Page 50:
mulher. Os adultos educam as crian
- Page 53 and 54:
52 De olho na Cultura
- Page 55 and 56:
Geralmente podemos observar, por me
- Page 57 and 58:
cabelos dreadlocks, em contraste à
- Page 59 and 60:
mada em mercadorias. As expansões
- Page 61 and 62:
criadas no Brasil. Essas classifica
- Page 63 and 64:
Dicas culturais:A Casa Branca do En
- Page 65 and 66: Uma das maiores dificuldades na soc
- Page 67 and 68: Nas irmandades, um dos princípios
- Page 69 and 70: 68 De olho na Cultura
- Page 71 and 72: Sim, somos todos seres humanos, por
- Page 73 and 74: Brincadeiras sem constrangimentosN
- Page 75 and 76: Mais explicitamente agressora, do p
- Page 77 and 78: Estudo sobre a relação entre tele
- Page 79 and 80: Dicas culturais:Você sabia que, h
- Page 81 and 82: Das ruas para as academiasNo ano de
- Page 83 and 84: 82 De olho na Cultura
- Page 85 and 86: 84 De olho na Cultura
- Page 87 and 88: Essa interação envolve os reinos
- Page 89 and 90: os valores e a memória são revivi
- Page 91 and 92: Ancestral do metalDo ferro naturalD
- Page 93 and 94: Muitos só tiveram a sorteda mortal
- Page 95 and 96: prospectivo, vertical e horizontal,
- Page 97 and 98: 1. O Cacumbi, manifestação da reg
- Page 99 and 100: tral — espécie de bateria — co
- Page 101 and 102: Desafio no rap emboladaÉ o Rap emb
- Page 103 and 104: Mente em açãoNote que o jogo desa
- Page 105 and 106: 104 De olho na Cultura
- Page 107 and 108: Levante de Sabres Africanos(Guellwa
- Page 109 and 110: línguas faladas no continente afri
- Page 111 and 112: ar um movimento em direção oposta
- Page 113 and 114: 4. Um dos significados de territori
- Page 115: Linguagem e poder... A começar do
- Page 119 and 120: da igreja/comprovante vai pro fogo/
- Page 122 and 123: MODALIDADES CULTURAISDE LINGUAGEML
- Page 124 and 125: Patrimônio oralNas unidades anteri
- Page 126 and 127: Soltando o verboO provérbio é out
- Page 128 and 129: Um traço marcante nas modalidades
- Page 130 and 131: Certo de que a Caveira não o decep
- Page 132 and 133: pre afirmam explicitamente uma verd
- Page 134 and 135: cas em histórias e tradições. Do
- Page 136 and 137: Mestre Lico: Tatu tá véio/ (coro)
- Page 138: Utilizando outras modalidades na fa
- Page 141 and 142: 140 De olho na Cultura
- Page 143 and 144: Os adornos corporais, os objetos ri
- Page 145 and 146: uso de madeira, que era entalhada c
- Page 147 and 148: Da África para o MundoPor muito te
- Page 149 and 150: pectiva e a ilusão de profundidade
- Page 151 and 152: Arte de MemóriaQuando o ser humano
- Page 153 and 154: Cultura e identidade na arteNem tod
- Page 155 and 156: África-Brasil - re/traduçãoNão
- Page 157 and 158: técnica e expressão artística, c
- Page 159 and 160: etratam suas lembranças de infânc
- Page 161 and 162: Pérolas do BrasilTambém nos anos
- Page 163 and 164: Afinal, o que é arte?Podemos aceit
- Page 165 and 166: Para dar certo: Encha a bexiga até
- Page 167 and 168:
Caso esteja quebradiça, proceda da
- Page 169 and 170:
168 De olho na Cultura
- Page 171 and 172:
A cara negra da imprensaA imprensa
- Page 173 and 174:
Herbel e Tibério, o Teatro Experim
- Page 175 and 176:
Televisão em questãoA televisão,
- Page 177 and 178:
Em 1996, a Rede Manchete de Televis
- Page 179 and 180:
Cinema em preto e brancoNo Brasil d
- Page 181 and 182:
Luz, câmera... re/açãoA represen
- Page 183 and 184:
O papel da mídiana discussão étn
- Page 185 and 186:
etomado, mas também é generoso, p
- Page 187 and 188:
Capítulo 21. CARNEIRO, Sueli. Negr
- Page 189 and 190:
Capítulo 51. AREIAS, Almir. O que
- Page 191 and 192:
3. __________. “Colaboração, An
- Page 193 and 194:
5. RODRIGUES, João Carlos. O Negro
- Page 195 and 196:
194 De olho na Cultura
- Page 197:
Uma história do negro no Brasilde