a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
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fenomenológico é uma estrutura do texto, além disso, reivindicam a posição do leitor<br />
real nessa <strong>teoria</strong>. Dentre as análises, tentar<strong>em</strong>os responder ao argumento do teórico<br />
inglês Terry Eagleton (2003), que, <strong>em</strong> seu manual Teoria <strong>da</strong> Literatura, confessa que<br />
esse leitor lança um probl<strong>em</strong>a epist<strong>em</strong>ológico à investigação teórica, pois, de acordo<br />
com ele, esse tipo de leitor só se torna objeto de estudo quando efetua e concretiza<br />
a leitura. Entretanto, intuímos que, para além do leitor real de carne e osso, o<br />
analista <strong>da</strong> literatura pode encontrar na performance <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> do leitor<br />
fenomenológico uma via de acesso do mundo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> para o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
(lebenswelt).<br />
1. Arqueologia <strong>da</strong> Nova Hermenêutica<br />
Etimologicamente, o termo <strong>hermenêutica</strong> provém de Hermes, deus grego<br />
conhecido por sua habili<strong>da</strong>de de transportar as mensagens envia<strong>da</strong>s pelos deuses<br />
aos mortais. 1 Ao longo do t<strong>em</strong>po, esse termo passou a ser utilizado para nomear<br />
uma disciplina humanística que se impunha a tarefa de reavivar os significados<br />
silenciados pelo t<strong>em</strong>po através <strong>da</strong> arte <strong>da</strong> interpretação. Segundo Luiz Costa Lima<br />
(LIMA, 1983, p.52), como arte de interpretação, a <strong>hermenêutica</strong> é uma ativi<strong>da</strong>de<br />
conheci<strong>da</strong> desde a Era Clássica ateniense, pois os pensadores dessa época<br />
estiveram interessados na reabilitação dos significados perdidos <strong>da</strong> epopeia<br />
homérica. Desse modo, os gregos foram os primeiros estudiosos, na cultura<br />
ocidental, a enfrentar um dos probl<strong>em</strong>as centrais <strong>da</strong> disciplina Hermenêutica, isto é,<br />
o hiato t<strong>em</strong>poral que separa o “mundo” do texto <strong>em</strong> relação ao do intérprete. O<br />
projeto de superar esse hiato se tornou evidente, no mundo grego, quando os<br />
1 Segundo Peixoto (2003), Hermes, filho de Zeus e Maia, ao nascer foi enfaixado com gazes e colocado num<br />
berço como era de costume. Entretanto, esse deus irrequieto se libertou <strong>da</strong>s amarras <strong>da</strong>s gazes e saiu <strong>em</strong> direção<br />
ao mundo. Nas proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> caverna onde nascera, Hermes construiu com uma carapaça de tartaruga e tripa<br />
de bode a primeira lira. Mas logo <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, guardou a lira no berço e numa determina<strong>da</strong> noite saiu pelo mundo<br />
ostentando a astúcia. Esse deus ao cobiçar o gado do deus Apolo arquitetou e pôs <strong>em</strong> prática uma artimanha para<br />
roubá-los. Ao transla<strong>da</strong>r os animais <strong>da</strong> Tessália <strong>em</strong> direção à estra<strong>da</strong> arenosa de Pilos, Hermes pôs <strong>em</strong> prática a<br />
sua astúcia, inverte o sentido tanto de suas pega<strong>da</strong>s quanto a desses animais, para ludibriar Apolo. Finalmente,<br />
quando este descobre o feito, através do relato de um ancião, que testumanhara a passag<strong>em</strong> de Hermes com o<br />
gado, resolve pedir a intervenção de Maia e Zeus, para reapropriar-se dele. To<strong>da</strong>via, ao ver a lira produzi<strong>da</strong> por<br />
Hermes, o deus <strong>da</strong> beleza almejou trocar seu gado pelo instrumento musical. Zeus, por sua vez, orgulhoso <strong>da</strong><br />
habili<strong>da</strong>de do filho, nomeou-o mensageiro, para que ele transmitisse as suas ordens ao mundo e escoltasse os<br />
mortos ao inferno.<br />
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