a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
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isto é, elas põ<strong>em</strong> <strong>em</strong> jogo a ação e passivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> economia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana, tal<br />
como vimos nas tragédias Édipo Rei e Édipo <strong>em</strong> Colono. Por essa razão, ele não<br />
concebe a leitura compreensiva desarticula<strong>da</strong> de um compreender-se, ou melhor, de<br />
um self (identificação com a configuração narra<strong>da</strong>), pois para ele não há leitura s<strong>em</strong><br />
interação, interlocução e identificação, como pod<strong>em</strong>os perceber abaixo:<br />
A leitura como meio <strong>em</strong> que se opera a transferência do mundo <strong>da</strong><br />
narração – e, portanto, também do mundo dos personagens literários<br />
– ao mundo do leitor, constitui um lugar e um vínculo privilegiados de<br />
afeição do sujeito que lê. A catharsis do leitor, poderíamos dizer,<br />
retomando livr<strong>em</strong>ente algumas categorias <strong>da</strong> estética <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> de<br />
H.R. Jauss, se opera se ela procede de uma aisthésis prévia, que a<br />
luta do leitor com o texto transforma <strong>em</strong> poiésis. Parece, desse<br />
modo, que a afeição do si pelo diverso de si encontra na ficção um<br />
meio privilegiado para as experiências do pensamento que não<br />
poderiam eclipsar as relações “reais” de interlocução e de interação.<br />
(RICOUER, 1991, p.384)<br />
Nesse ponto, as <strong>teoria</strong>s de Ricouer e Jauss converg<strong>em</strong> para um solo comum,<br />
já que ambos foram dois dos mais importantes pensadores <strong>em</strong> reativar o debate <strong>em</strong><br />
torno <strong>da</strong> experiência estética e <strong>da</strong> comunicação artística no século XX. Ricouer<br />
confessa<strong>da</strong>mente atribuiu a Jauss a responsabili<strong>da</strong>de de tê-lo feito enxergar a<br />
relação entre o mundo <strong>da</strong> obra e o mundo do leitor, 26 Influência que o filósofo<br />
francês encaminhou para <strong>recepção</strong> “selfica” e ética do leitor.<br />
Além disso, enquanto Jauss encontrou na “dialética sócratica” o meio para se<br />
chegar ao mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, Ricouer o visa por meio de uma epist<strong>em</strong>ologia <strong>da</strong><br />
interpretação, que ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que nos possibilita uma ascese à<br />
compreensão ontológica, transformam, igualmente, os nossos de esforços de nos<br />
26 Relata Ricouer <strong>em</strong> A Critica e a Convicção: “Devo o reconhecimento <strong>da</strong> função de passador, típica<br />
do leitor, a Hans Robert Jauss e à chama<strong>da</strong> escola <strong>da</strong> – <strong>recepção</strong> -, que é, aliás – diga-se de<br />
passag<strong>em</strong> -, um ramo derivado mais ou menos herético, <strong>da</strong> <strong>hermenêutica</strong> de Dilthey e de Ga<strong>da</strong>mer.<br />
Espanto-me depois por não ter estado mais cedo atento a este papel do leitor enquanto mediador<br />
entre linguag<strong>em</strong> e mundo, uma vez que to<strong>da</strong> a exegese bíblica, mas também to<strong>da</strong> a filologia clássica,<br />
assenta numa história de leituras, digamos dos - actos de leitura-, para retomar o título do livro de<br />
Wolfgang Iser.” (RICOUER, 1995, p.142).<br />
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