a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
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acontece, por ex<strong>em</strong>plo, nos estudos literários institucionalizados ou pela Crítica<br />
Literária.<br />
Assevera Paul Ricoeur que para vislumbrarmos o caminho <strong>da</strong> epist<strong>em</strong>ologia<br />
<strong>da</strong> interpretação à ontologia <strong>da</strong> compreensão, precisamos levar <strong>em</strong> consideração os<br />
planos “s<strong>em</strong>ântico”, “reflexivo” e “existencial” que envolv<strong>em</strong>, de acordo com a sua<br />
concepção, o movimento hermenêutico. O filósofo entende por “plano s<strong>em</strong>ântico” o<br />
momento hermenêutico relativo à linguag<strong>em</strong>, isto é, a questão <strong>da</strong> interpretação de<br />
símbolos, discussão que enre<strong>da</strong>, consequent<strong>em</strong>ente, a probl<strong>em</strong>ática dos estilos<br />
hermenêuticos e suas “grades de leituras”. No que se refere ao plano reflexivo, ele o<br />
toma como o desdobramento <strong>da</strong> consciência, dimensão <strong>hermenêutica</strong>, aliás,<br />
bastante destaca<strong>da</strong> pelo filósofo, pois é ela que faz o intercâmbio entre o plano<br />
s<strong>em</strong>ântico (linguag<strong>em</strong>) e o plano existencial (ontologia).<br />
A compreensão ontológica para Ricouer não se dá de forma direta e imediata<br />
como no Dasein heideggeriano, mas através <strong>da</strong>s mediações <strong>da</strong> exegese-<strong>recepção</strong><br />
de obras <strong>da</strong> cultura, já que ele acredita que a consciência só pode ter acesso a ela<br />
mesma por meio de mediações. Segundo estes pressupostos, a compreensão<br />
ontológica não é uma dádiva <strong>da</strong> existência, mas uma conquista que exige a<br />
epist<strong>em</strong>ologia <strong>da</strong> interpretação e a tarefa existencial do leitor-intérprete.<br />
Dessa maneira, a decifração posta pelos símbolos <strong>da</strong> cultura está<br />
condiciona<strong>da</strong> tanto pelos probl<strong>em</strong>as colocados pelos próprios símbolos quanto por<br />
implicações ontológicas, isto é, pelo “desejo de ser” e “esforço por existir” do<br />
intérprete. De acordo com isso, o que nos motiva a colocar <strong>em</strong> refletivi<strong>da</strong>de do “Si” 18<br />
<strong>em</strong> ação, através <strong>da</strong> exegese-<strong>recepção</strong> dos símbolos, é a nossa condição ontológica<br />
de desejar superar as nossas indigências através de nossas potências, isto é, do<br />
18 A escolha de Paul Ricouer pelo “Si”, pronome reflexivo, <strong>em</strong> vez do “Eu” revela a preocupação desse<br />
filósofo <strong>em</strong> não cair não tradição <strong>da</strong> Filosofia do cogito que tornou a consciência do hom<strong>em</strong><br />
transparente para si. Como ele mesmo afirma <strong>em</strong> “O si-mesmo como o outro”: a sua <strong>hermenêutica</strong><br />
do “si” se situa entre a tradição do cogito, defendi<strong>da</strong> por Descartes, Husserl, etc. e do anti-cogito,<br />
estan<strong>da</strong>rdiza<strong>da</strong> por Heidegger, Freud e Nietzsche. Para ele, a consciência só pode se apropriar de si<br />
mesma de forma media<strong>da</strong>, que no caso de sua filosofia, se realiza através <strong>da</strong> exegese dos signos e<br />
símbolos <strong>da</strong> cultura, como por ex<strong>em</strong>plo, po<strong>em</strong>as, romances e simbólicas priva<strong>da</strong>s. Nesse caso, só<br />
através do “si”, que possui a ação de refletir, é que se pod<strong>em</strong>os atingir o “Eu”.<br />
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