a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
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Ser e T<strong>em</strong>po, preocupou-se, <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente, com as experiências autênticas e<br />
inautênticas <strong>da</strong> existência e elegeu o fenômeno <strong>da</strong> compreensão-interpretação como<br />
a via de acesso ao sentido do Ser, fato que o distanciou do pai <strong>da</strong> fenomenologia<br />
porque, para Edmund Husserl, o sentido do Ser estava relacionado à sua essência<br />
universal, isto é, à irredutibili<strong>da</strong>de, à at<strong>em</strong>porali<strong>da</strong>de e à ideali<strong>da</strong>de.<br />
O fato de Heidegger ter escolhido a Fenomenologia como um método<br />
privilegiado para a investigação do sentido do ser, pode ser explicado, <strong>em</strong> parte,<br />
pelo desejo do filósofo de se afastar do psicologismo dominante no século XIX, que<br />
de forma rigorosa explicava os sentidos produzidos pelos sujeitos através <strong>da</strong><br />
incidência mecânica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de sobre a consciência deles. Diferent<strong>em</strong>ente dessa<br />
perspectiva, o filósofo aliou a Fenomenologia, que postulava a investigação dos<br />
“fenômenos”, à ontologia e a uma concepção sui generis de Hermenêutica. Assim,<br />
depois de Heidegger passamos a compreender a Hermenêutica, pelo menos <strong>em</strong> sua<br />
primeira fase, 5 não mais como uma prática exegética de texto, mas como um evento<br />
<strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente ontológico. Isso implica dizer que, através do autor de Ser e T<strong>em</strong>po,<br />
o Ocidente passou a conviver com uma <strong>nova</strong> concepção de Hermenêutica, na qual a<br />
noção de compreensão-interpretação tornou-se um correlato ontológico <strong>da</strong><br />
existência concreta, já que para esse filósofo não há compreensão “fora do mundo”.<br />
Para ele, to<strong>da</strong>s as compreensões estariam imbrica<strong>da</strong>s com o mundo e com os<br />
modos de existência, asseverando dessa forma o caráter histórico e situado <strong>da</strong><br />
Hermenêutica, consciência histórica, que Heidegger aprendeu com Dilthey.<br />
A opção de Heidegger pela historici<strong>da</strong>de e pela ontologia destitui a sua<br />
Hermenêutica de preocupações relaciona<strong>da</strong>s a sist<strong>em</strong>as interpretativos, pois<br />
segundo Fernando Romo Feito, no livro Hermenêutica, Interpretação, Literatura: “se<br />
a Hermenêutica se concebe como ontologia, fica pouco ou nenhum espaço para o<br />
método. Se como <strong>teoria</strong> <strong>da</strong> interpretação, este ocupa o primeiro plano.” (FEITO,<br />
2007,p.125, tradução nossa) 6 De fato, ao lermos as obras capitais <strong>da</strong> Hermenêutica<br />
do século XX, como Ser e T<strong>em</strong>po e A orig<strong>em</strong> <strong>da</strong> obra de Arte (1935), ambas de<br />
5 A maioria dos comentadores de Heidegger enxerga duas fases no percurso filosófico do autor de<br />
Ser e T<strong>em</strong>po. Uma primeira fase na qual esse filósofo se voltou para a <strong>hermenêutica</strong> <strong>da</strong> existência<br />
<strong>em</strong> si, e a segun<strong>da</strong> volta<strong>da</strong> para a compreensão ontológica <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> poética.<br />
6 (..)Si la <strong>hermenêutica</strong> se concibe como ontologia, poco o ningún espacio que<strong>da</strong> para el probl<strong>em</strong>a del<br />
método. Si como <strong>teoria</strong> de la interpretación, este ocupa el primeiro plano.<br />
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