a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Husserl confere <strong>em</strong> primeiro lugar à noção de intencionali<strong>da</strong>de<br />
to<strong>da</strong> a sua envergadura: to<strong>da</strong> consciência é consciência de<br />
(consciência significa aqui não a uni<strong>da</strong>de individual de um “fluxo<br />
de vivido”, mas ca<strong>da</strong> cogitatio distinta volta<strong>da</strong> para um cogitatum<br />
distinto). Portanto, haverá tantas espécies de intencionali<strong>da</strong>des,<br />
tantas “consciências” quantas maneiras, para um cogito, de se<br />
voltar para alguma coisa; para o real e o irreal, para o passado e o<br />
querido, para o amado e o desejado, para o julgado, etc. De um<br />
ponto de vista estritamente descritivo, a intencionali<strong>da</strong>de escapa à<br />
alternativa do realismo e do idealismo. (RICOUER, 2009, p.11-12)<br />
A partir, portanto, dessa noção de intencionali<strong>da</strong>de proposta por Husserl,<br />
fomos interpelados a não só levar <strong>em</strong> consideração a percepção como el<strong>em</strong>ento<br />
mediador <strong>da</strong> significação, mas também o horizonte de visa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> consciência. Para<br />
o criador <strong>da</strong> fenomenologia, “quando quero dizer uma coisa, há uma primeira<br />
intenção que vai ao sentido, como face a face estável de todos os atos de<br />
significações que quer<strong>em</strong> dizer a mesma coisa. Eis aqui a raiz fenomenológica <strong>da</strong><br />
lógica: há algo de determinado no sentido visado.” (RICOUER, 2009, p.10).<br />
Dessa forma, com Husserl aprend<strong>em</strong>os que antes de pensarmos o pensado,<br />
o mundo já está instalado na consciência, <strong>em</strong> outras palavras, mundo é “para mim”.<br />
Mas o que distinguiria esse mundo de visa<strong>da</strong>s ou de intencionali<strong>da</strong>des de uma<br />
atitude <strong>em</strong>pirista? O fato de a consciência fenomenológica ocupar-se <strong>da</strong> ontologia,<br />
ou seja, do ser <strong>da</strong>s coisas, pois uma vez instalado o objeto na consciência<br />
(fenômeno) através <strong>da</strong> redução fenomenológica, cabe à redução eidética (essência)<br />
conduzir os objetos <strong>da</strong> consciência à reali<strong>da</strong>de de suas essências, ou melhor, aos<br />
seus sentidos. Como l<strong>em</strong>bra Bordini:<br />
A fenomenologia é, então, uma ciência eidética, descritiva <strong>da</strong><br />
consciência. A intuição filosófica, reflexiva, é uma reflexão sobre a<br />
vi<strong>da</strong>, considera<strong>da</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a sua riqueza concreta. Entretanto, esta<br />
vi<strong>da</strong> não é vivi<strong>da</strong>, é apenas considera<strong>da</strong>, de modo que filosofia e vi<strong>da</strong><br />
não se confund<strong>em</strong>. Não há metafísica implícita no modelo<br />
fenomenológico. É a vi<strong>da</strong> que dita as regras para a fenomenologia,<br />
não ao contrário. (BORDINI, 1990, p.53)<br />
O afã de Husserl de retornar às coisas <strong>em</strong> sua dimensão mais fun<strong>da</strong>mental,<br />
na primeira fase de sua filosofia, conheci<strong>da</strong> por Fenomenologia metódica ou <strong>da</strong><br />
16