a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
a consciência para vivenciar o objeto, intencionalmente, precisa preenchê-lo. Como<br />
b<strong>em</strong> ilustra o próprio filósofo:<br />
Quando, por ex<strong>em</strong>plo, uma melodia conheci<strong>da</strong> começa a ressoar,<br />
são suscita<strong>da</strong>s determina<strong>da</strong>s intenções que vão ser preenchi<strong>da</strong>s na<br />
melodia que se desenvolve progressivamente. Algo s<strong>em</strong>elhante<br />
ocorre também quando a melodia nos é desconheci<strong>da</strong>. As<br />
regulari<strong>da</strong>des que vig<strong>em</strong> no melódico condicionam intenções que,<br />
<strong>em</strong>bora careçam de uma plena determinação objetal, também vêm,<br />
ou pod<strong>em</strong> vir a ser preenchi<strong>da</strong>s. (HUSSERL, 1996, p.55)<br />
Tal ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> consciência de buscar equacionar a intencionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
significação com a determinação dos objetos cognoscentes serviu de base para<br />
<strong>teoria</strong> <strong>da</strong> leitura de Roman Ingarden. Para ele, cabia ao leitor, no ato <strong>da</strong> leitura,<br />
preencher os aspectos esqu<strong>em</strong>atizados e os pontos de indeterminação <strong>da</strong> obra de<br />
arte, fato, que, aliás, já nos revela a ontologia <strong>da</strong> obra literária <strong>em</strong> Ingarden, isto é,<br />
que ela é ao mesmo t<strong>em</strong>po um objeto <strong>em</strong> parte conhecido e <strong>em</strong> parte lacunar.<br />
Como l<strong>em</strong>bra Bordini (1990), para escapar do puro idealismo, Ingarden<br />
preferiu considerar o artefato artístico, do ponto de vista ontológico, como uma<br />
heteronomia, isto é, por um lado real, substância física, por outro ideal, ou seja,<br />
aquela parte <strong>da</strong> obra que é constituí<strong>da</strong> pela consciência de qu<strong>em</strong> a frui, sendo,<br />
to<strong>da</strong>via, a obra material irredutível à consciência do fruidor. Desse modo, a<br />
ontologia <strong>da</strong> obra de arte de Roman Ingarden, como pod<strong>em</strong>os observar, não se<br />
absolutiza apenas na imanência <strong>da</strong> obra, mas reclama uma transcendência na<br />
imanência, ou seja, a consciência constitutiva do leitor que frui e dá “existência” à<br />
obra de arte.<br />
Essa questão <strong>da</strong> imanência e <strong>da</strong> transcendência é um t<strong>em</strong>a delicado na <strong>teoria</strong><br />
de Roman Ingarden, já que, para ele, o leitor se movimenta nos esqu<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />
própria obra, cabendo-lhe atualizar as determinações <strong>da</strong> obra, assim como<br />
concretizar, de acordo com a estrutura texto e com a sua atitude momentânea, as<br />
indeterminações <strong>da</strong> obra de forma adequa<strong>da</strong>, fato que evidencia um t<strong>em</strong>or de<br />
Roman Ingarden de cair num idealismo transcendental e de destituir <strong>da</strong> obra a sua<br />
identi<strong>da</strong>de ontológica. Segundo ele, <strong>em</strong> A Obra de Arte Literária: “Para o nosso<br />
objetivo basta apenas o facto essencial de a obra literária poder sofrer<br />
transformações s<strong>em</strong> perder a sua identi<strong>da</strong>de” (INGARDEN, 1965, p.389). Para esse<br />
23