a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Posto isso, pod<strong>em</strong>os inferir que a <strong>recepção</strong> teórica de Heidegger por<br />
Ga<strong>da</strong>mer intercambiou uma noção mais “amadureci<strong>da</strong>” <strong>da</strong> Hermenêutica<br />
fenomenológica, pois se a compreensão-interpretação <strong>em</strong> Heidegger é<br />
ontologicamente fun<strong>da</strong>mental, <strong>em</strong> Ga<strong>da</strong>mer, além de ontológica, já que seu modo<br />
de ser é a t<strong>em</strong>porali<strong>da</strong>de, é também fruto de performance, ou seja, <strong>da</strong> educação<br />
<strong>hermenêutica</strong> do intérprete que deve ouvir a “fala” <strong>da</strong> tradição e refazer a pergunta<br />
para qual o texto é uma resposta. Nesse sentido, longe <strong>da</strong> presunção <strong>da</strong> ciência<br />
positiva, Ga<strong>da</strong>mer lega à Hermenêutica a consciência de que as interpretações são<br />
finitas e situa<strong>da</strong>s e, por isso, não cabe a elas pôr as “questões últimas”. Por outro<br />
lado, ele não nos deixa órfãos de um saber, que necessitamos no aqui e agora, isto<br />
é, ele nos aponta como horizonte a noção de eficácia histórica.<br />
As idéias de Ga<strong>da</strong>mer, desenvolvi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Ver<strong>da</strong>de e Método, foram<br />
assimila<strong>da</strong>s pelos estudiosos al<strong>em</strong>ães <strong>da</strong> escola de Constança, sobretudo, por Hans<br />
Robert Jauss, que as aplicaram a uma Teoria <strong>da</strong> Literatura. No contexto <strong>da</strong><br />
segun<strong>da</strong> metade do século XX, as ideias de Ga<strong>da</strong>mer ressoavam nos<br />
departamentos de humani<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des al<strong>em</strong>ãs, <strong>em</strong> meio a um momento<br />
de crise, período <strong>em</strong> que se esgotava a tradição dos estudos filológicos, assim como<br />
<strong>da</strong> historiografia literária. Nesse período, os centros acadêmicos al<strong>em</strong>ães,<br />
fort<strong>em</strong>ente influenciados pelas pesquisas de lastro histórico e filológico reagiam<br />
também às ideias nascentes do Estruturalismo francês. Soma-se a esse panorama<br />
de crise a d<strong>em</strong>ocratização <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des al<strong>em</strong>ãs que exigiam a modernização<br />
dos estudos literários.<br />
Por essa razão, enquanto os centros de estudos franceses, pós déca<strong>da</strong> de<br />
60, viviam o apogeu dos estudos estruturalistas, a Al<strong>em</strong>anha legou, através <strong>da</strong><br />
Escola de Konstanz, à comuni<strong>da</strong>de de estudiosos <strong>da</strong> literatura, a Teoria <strong>da</strong><br />
Recepção sob a maestria de Hans Robert Jauss, 12 discípulo <strong>da</strong> Hermenêutica de<br />
Ga<strong>da</strong>mer.<br />
Esse estudioso, <strong>em</strong> sintonia com os paradigmas hermenêuticos ga<strong>da</strong>merianos,<br />
adotou a noção de “dialética socrática” para erigir uma história <strong>da</strong> <strong>recepção</strong> pauta<strong>da</strong><br />
12 Gadmer, no Pósfácio referente à 3º edição (1972) de Ver<strong>da</strong>de e Método, revela-se consciente <strong>da</strong><br />
contribuição de sua <strong>hermenêutica</strong> para a Teoria <strong>da</strong> Literatura, inclusive, cita o trabalho de Hans<br />
Robert Jauss Literaturgeschichte als Provokation (A história <strong>da</strong> literatura como provocação, 1970).<br />
51