a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
progressiva. Com efeito, ele argumenta que a própria quali<strong>da</strong>de de<br />
ser clássico pressupõe uma segun<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça no horizonte de<br />
interpretação, a qual oblitera a negativi<strong>da</strong>de latente do antigo<br />
horizonte. A negativi<strong>da</strong>de original <strong>da</strong> obra torna<strong>da</strong> clássica escondese,<br />
por efeito <strong>da</strong> tradição, atrás de uma aparente obvie<strong>da</strong>de<br />
inquestionável, a qual poderia, por sua vez, revesti-la de aspectos<br />
s<strong>em</strong>elhantes aos produtos <strong>da</strong> indústria cultural. Deve-se admitir, no<br />
entanto, que abor<strong>da</strong>r as chama<strong>da</strong>s “obras primas” por via de uma<br />
suposta afirmação do status quo é perder de vista a originária<br />
relação de tensão causa<strong>da</strong> pelo texto e seu respectivo t<strong>em</strong>po<br />
histórico. (MIRANDA, 2007, p. 46).<br />
Por outro lado, <strong>em</strong>bora a índole <strong>da</strong> Estética <strong>da</strong> Recepção seja o Humanismo,<br />
o seu mentor não deixa de levar <strong>em</strong> consideração o valor estético <strong>da</strong>s obras, pois,<br />
para Jauss, herdeiro também <strong>da</strong> desfamiliarização do Formalismo russo, não há<br />
<strong>em</strong>ancipação s<strong>em</strong> “tensão” e impacto com as formas literárias. Para ilustrar essa<br />
concepção, é válido recorrermos à análise do impacto <strong>da</strong> obra Ma<strong>da</strong>me Bovary, de<br />
Gustave Flaubert, realiza<strong>da</strong> por Jauss, <strong>em</strong> Teoria <strong>da</strong> Literatura como Provocação à<br />
História <strong>da</strong> Literatura (1994). Segundo Jauss, o escân<strong>da</strong>lo social presente na obra<br />
de Flaubert visava “arrancar o leitor de Ma<strong>da</strong>me Bovary <strong>da</strong> certeza de seu juízo<br />
moral”. Para ele, do ponto de vista metodológico <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> Recepção, o analista<br />
<strong>da</strong> literatura só pode resgatar esse impacto <strong>da</strong> obra através do próprio sist<strong>em</strong>a<br />
literário, no qual as tramas entre as pré-concepções dos leitores e as normas<br />
vigentes <strong>da</strong> literatura e do mundo histórico urd<strong>em</strong> as experiências literárias. Por isso,<br />
de acordo com Jauss, não existe o grau zero <strong>da</strong> leitura, pois todos os leitores têm<br />
certa familiarização com as normas literárias vigentes de sua época, que os<br />
possibilita reexperenciá-los ou romper com os seus códigos. Desse modo, para esse<br />
teórico, a derroca<strong>da</strong> <strong>da</strong> moral francesa, através do romance se dá, sobretudo,<br />
primeiramente pelo tipo de narrativa adotado, isto é, impassível e extr<strong>em</strong>amente<br />
agudo quanto à revelação <strong>da</strong> consciência mais íntima <strong>da</strong> personag<strong>em</strong>; <strong>em</strong> outras<br />
palavras, segundo ele, com Ma<strong>da</strong>me Bovary veio à tona o amoralismo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
burguesa.<br />
Além disso, outra rivali<strong>da</strong>de que Jauss teve que enfrentar com Adorno foi<br />
relativa à questão <strong>da</strong> identificação estética, isto é, o self. Nessa polêmica entra <strong>em</strong><br />
jogo a questão <strong>da</strong> aisthesis, o prazer estético e a katharsis (comunicação). No que<br />
se refere à <strong>teoria</strong> estética de Adorno, este militava <strong>em</strong> prol de uma <strong>recepção</strong> literária<br />
59