a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
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Ga<strong>da</strong>mer “resolve” esse conflito através de uma simbiose entre a crítica e a<br />
tradição, e, para atingir tal fim, o autor de Ver<strong>da</strong>de e Método adotou a noção de<br />
tradição positivamente, tal como os românticos, já que, para o filósofo, as nossas<br />
pré-concepções são frutos dos referenciais culturais transmitidos pela tradição e, por<br />
isso, pod<strong>em</strong> nos fornecer “matérias-primas” relevantes para o conhecimento.<br />
Embora ele justificasse criticamente a sua apropriação <strong>da</strong> tradição e <strong>da</strong><br />
compreensão, isso não o salvou de severas críticas.<br />
Dentre essas críticas a de Terry Eagleton (2003) soa bastante intrigante. Para<br />
o estudioso inglês, a História, <strong>em</strong> Ver<strong>da</strong>de e Método, não é um lugar de conflitos,<br />
rupturas e marginalizações, mas uma instância que deixa transcorrer de forma<br />
harmônica a tradição, na qual, por meio <strong>da</strong>s obras humanas, o “bastão” do<br />
patrimônio cultural é passado e re<strong>nova</strong>do s<strong>em</strong>pre positivamente.<br />
Paralelamente, ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> Ver<strong>da</strong>de e Método, Ga<strong>da</strong>mer esboça uma defesa<br />
antecipa<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua noção de Tradição. Como pod<strong>em</strong>os ver:<br />
Parece-me, no entanto, que entre a tradição e a razão não existe<br />
nenhuma oposição que seja assim tão incondicional. Por mais<br />
probl<strong>em</strong>ática que seja a restauração consciente de tradições ou a<br />
criação consciente de tradições <strong>nova</strong>s, também a fé romântica nas<br />
“tradições que vingaram”, ante as quais deveria silenciar to<strong>da</strong><br />
razão, acaba sendo preconceituosa e, no fundo, fiel à Aufklärung.<br />
Na reali<strong>da</strong>de, a tradição s<strong>em</strong>pre é um momento <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><br />
própria história. Também a tradição mais autêntica e a tradição<br />
melhor estabeleci<strong>da</strong> não se realizam naturalmente <strong>em</strong> virtude <strong>da</strong><br />
capaci<strong>da</strong>de de inércia que permite ao que está aí de persistir, mas<br />
necessita ser afirma<strong>da</strong>, assumi<strong>da</strong> e cultiva<strong>da</strong>. (GADAMER, 2008,<br />
p. 373).<br />
Na reali<strong>da</strong>de, subjaz a to<strong>da</strong> a justificativa ga<strong>da</strong>meriana a lição de Heidegger<br />
<strong>em</strong> Ser e T<strong>em</strong>po. No capítulo <strong>da</strong> obra intitulado A tarefa de uma destruição <strong>da</strong><br />
história <strong>da</strong> ontologia, Heidegger fala, justamente, de uma apropriação autêntica e<br />
inautêntica <strong>da</strong> tradição, pois de acordo com esse filósofo, apropriamo-nos<br />
inautenticamente <strong>da</strong> tradição quando ela encobre o nosso acesso às fontes<br />
experiência senão justamente a de colher o dito. Por isso, a palavra grega que é traduzi<strong>da</strong> pelos<br />
latinos como “fábula” apresenta-se <strong>em</strong> contradição conceitual com o logos que pensa a essência <strong>da</strong>s<br />
coisas e possui a partir <strong>da</strong>í um saber a qualquer momento dedutível sobre as coisas”. (GADAMER,<br />
2010, p.59)<br />
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