a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
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Mesmo que Heidegger não tivesse escrito mais na<strong>da</strong> depois de Ser<br />
T<strong>em</strong>po, o seu contributo para a <strong>hermenêutica</strong> teria sido decisivo pois<br />
nessa obra ele coloca o probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> compreensão num contexto<br />
radicalmente diferente. Como modo fun<strong>da</strong>nte de existir, transcende<br />
os limites deficionais <strong>em</strong> que Dilthey o colocara ao concebê-lo como<br />
a forma histórica contra a forma científica <strong>da</strong> compreensão.<br />
Heidegger foi mais longe defendendo que to<strong>da</strong> a compreensão é<br />
t<strong>em</strong>poral, intencional, histórica. Ultrapassou concepções anteriores<br />
ao encarar a compreensão, não como um processo mental mas um<br />
processo ontológico, não como um estudo de processos conscientes<br />
e inconscientes mas como uma revelação <strong>da</strong>quilo que é real para o<br />
hom<strong>em</strong>. Antes dele, aceitávamos simplesmente como certa a<br />
definição prévia <strong>da</strong>quilo que era real, e só depois perguntávamos<br />
como é que os processos mentais colocavam essa reali<strong>da</strong>de; ora,<br />
Heidegger veio provar que a compreensão é um passo prévio<br />
indicativo do acto de - fun<strong>da</strong>mentação – revelação- <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, com<br />
o qual se completa a definição anterior. (PALMER, 1969, p.145)<br />
Desse modo, com Heidegger, a compreensão tornou-se um evento, ou seja,<br />
aquilo que é vivido e recepcionado pelo Dasein. Para a orientação heideggeriana,<br />
esse ser não precisava ser analisado <strong>em</strong> seus mecanismos mentais no tocante ao<br />
ato de compreensão, já que esse ato já faz parte sua condição fun<strong>da</strong>mental de<br />
vivente, por isso, n<strong>em</strong> o mentalismo n<strong>em</strong> a epist<strong>em</strong>ologia <strong>da</strong> interpretação se faz<strong>em</strong><br />
necessárias na existência-compreensiva do Dasein.<br />
3.2 Heidegger: Profeta <strong>da</strong> Recepção<br />
Certamente, como l<strong>em</strong>bra Palmer (1969), se Heidegger tivesse escrito<br />
apenas Ser e T<strong>em</strong>po, ele já teria mu<strong>da</strong>do para s<strong>em</strong>pre a Hermenêutica. Entretanto,<br />
depois <strong>da</strong> publicação de sua obra mais conheci<strong>da</strong>, o filósofo anunciou outras<br />
importantes reflexões relativas à questão <strong>da</strong> compreensão, sobretudo, aquelas<br />
referentes à <strong>recepção</strong> <strong>da</strong> obra de arte. Nessa segun<strong>da</strong> fase, Heidegger desenvolveu<br />
uma concepção de linguag<strong>em</strong> e de comunicação estética i<strong>nova</strong>doras, que<br />
influenciaram muitos <strong>em</strong>preendimentos hermenêuticos ao longo do século XX.<br />
Diferent<strong>em</strong>ente de Edmund Husserl, que ao promulgar a sua “vira<strong>da</strong>” para<br />
uma egolatria transcendental perdeu os seus mais representativos discípulos,<br />
Heidegger, pelo contrário, ao anunciar a sua Kehre, isto é, virag<strong>em</strong>, para o “dom <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> poética”, ain<strong>da</strong> assim continuou a influenciar muitos pensadores. Essa vira<strong>da</strong><br />
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