a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
a nova hermenêutica e teoria da recepção em jauss e ricoeur
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unicamente estético, pois, ela está também relaciona<strong>da</strong> aos conflitos éticos vividos<br />
na interface do mundo <strong>da</strong> obra e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
É, portanto, através <strong>da</strong>s concretizações, ao longo <strong>da</strong> história <strong>da</strong>s recepções<br />
que pod<strong>em</strong>os assistir os “acentos” históricos <strong>da</strong>s recepções, isto é, os horizontes<br />
dos mundos e seus conflitos éticos que engendram as concretizações <strong>da</strong>s obras<br />
literárias. Mas, como observarmos, a imersão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na literatura, assim como a<br />
identificação do leitor com o mundo <strong>da</strong> obra na <strong>teoria</strong> de Jauss, encontra,<br />
certamente, resistência na <strong>teoria</strong> estética de vanguar<strong>da</strong> de Adorno, que prima por<br />
um distanciamento estético estritamente reflexivo e por uma visa<strong>da</strong> intelectualista.<br />
Por outro lado, o filósofo Paul Ricouer, que caminhou <strong>em</strong> cotejo com os<br />
saberes literários, propunha, assim como Heidegger, uma ontologia <strong>da</strong><br />
compreensão, mas, como vimos, ele discor<strong>da</strong>va <strong>da</strong> noção de compreensão<br />
fun<strong>da</strong>mental do autor de Ser e T<strong>em</strong>po. De forma eclética, Ricouer uniu a tradição <strong>da</strong><br />
filosofia mentalista do cogito com a dos pensadores do anti-cogito, como Freud,<br />
Heidegger, dentre outros. Em outras palavras, Paul Ricouer amalgamou o<br />
Existencialismo, a Hermenêutica e Fenomenologia Husserliana para vislumbrar a<br />
compreensão ontológica. O autor de O Conflito <strong>da</strong>s Interpretações, diferent<strong>em</strong>ente<br />
<strong>da</strong> Nova Hermenêutica, regressa à consciência de forma muito peculiar: primeiro ele<br />
a transforma <strong>em</strong> “cogito ferido” que não visa o assenhoreamento de tudo, mas <strong>da</strong><br />
concepção de uma tarefa a cumprir. Além disso, Ricouer não se conforma apenas<br />
com a intuição racional proposta por Husserl e reabilita as discussões <strong>em</strong> torno <strong>da</strong><br />
<strong>teoria</strong> <strong>da</strong> interpretação, com os seus métodos, já que ele acreditava que a<br />
inteligência <strong>da</strong> interpretação alimentava a reflexão.<br />
E é justamente na reflexivi<strong>da</strong>de, paradoxalmente, que a influência <strong>da</strong> Nova<br />
Hermenêutica se fez presente <strong>em</strong> Ricouer. Sugestionado por Ga<strong>da</strong>mer, ele criou o<br />
conceito de “apropriação” como correspondente ao aplicatio do conceito reativado<br />
pelo autor de Ver<strong>da</strong>de e Método. Desse modo, com a sua noção de tornar o que era<br />
o “outro” <strong>em</strong> “meu”, o filosofo francês ca<strong>da</strong> vez mais amadurece a noção de<br />
identi<strong>da</strong>de do leitor com as obras de arte (self). Paul Ricouer vê nas obras de arte o<br />
terreno ideal para que os homens possam cumprir a tarefa de buscar a sua adultez.<br />
Isso significa que Heidegger se faz presente na <strong>teoria</strong> de Ricouer via Bultimann, pois<br />
ele levou a sério a noção de desmitologização do teólogo al<strong>em</strong>ão que preconiza que<br />
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