20.01.2015 Views

Joao-Barone-1942

Joao-Barone-1942

Joao-Barone-1942

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

depois do final da guerra, não é à toa que, durante as cerimônias e os eventos, nos<br />

vários discursos proferidos pelas autoridades, a expressão que mais se escutava era<br />

“non dimenticare”, que significa “não esquecer”.<br />

O que chamou a atenção de todos foi a lembrança terna e sentimental que os<br />

italianos têm dos brasileiros que lutaram em suas cidades e em seus vilarejos. Onde<br />

quer que nosso grupo chegasse, era saudado com entusiasmo e alegria, aos gritos de<br />

“Brazzile! Brazzile!”, assim que os habitantes reconheciam a insígnia da cobra<br />

fumando em nossos uniformes e a bandeira do Brasil em nossos veículos. Giovanni<br />

Sulla, morador de Montese, por décadas se dedicou ao estudo do Brasil na Segunda<br />

Guerra, saindo em campo para fazer a chamada arqueologia militar. Munido de um<br />

detector de metais, encontrou inúmeras relíquias de guerra, que estavam enterradas<br />

durante décadas. Nos últimos vinte anos, Giovanni encontrou vários restos mortais<br />

de soldados brasileiros e alemães. Ele relatou os inúmeros depoimentos dos italianos<br />

que na época da guerra viram as tropas americanas, inglesas e francesas cavarem<br />

enormes buracos, onde jogavam e queimavam todas as sobras de seus<br />

acampamentos. Descartavam comida, roupas e até remédios, em vez de distribuírem<br />

os preciosos restos à população carente. Quando os brasileiros entraram em ação,<br />

aos poucos quebraram uma regra que parecia muito rígida entre as outras<br />

nacionalidades que lutavam por lá: a de manter distância da população local. Em<br />

pouco tempo, os pracinhas construíram a reputação de buona gente com os<br />

italianos. Muito além dos casos dos descendentes de italianos que chegaram a<br />

encontrar parentes durante a guerra, os veteranos relataram com muita frequência<br />

sobre como se emocionavam ao ver as crianças pedindo comida e os velhos e<br />

mulheres sem agasalho no frio, o que inevitavelmente levou muitos deles a entregar<br />

sua própria comida aos necessitados. Em pouco tempo, uma verdadeira rede<br />

solidária se criou entre as unidades da FEB e a população dos lugares por onde<br />

passavam. Esse foi o grande diferencial dos brasileiros em relação às forças de<br />

outros países naquele cenário de luta, brutalidade e destruição. Giovanni contou que,<br />

nos lugares por onde a FEB passou, presentear alguém com uma lata de pêssego em<br />

calda se tornou um gesto de amizade, uma lembrança dos tempos em que as latas de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!