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<strong>Caminhos</strong><br />
– Calma mulher, deixa ele terminar de falar, depois todos teremos oportunidades para contestar, e dizer<br />
o que se pensa de cada assunto!<br />
– Acho bom você calar a sua boca, eu falo o que eu quiser e quando der na telha!<br />
Juliano era sempre tratado muito mal, e a esposa não fazia questão alguma, de demonstrar este<br />
desafeto na frente dos vizinhos e conhecidos, mas como sempre ele se calava, e aceitava em silêncio esta<br />
sua rispidez, e mesmo com algumas interrupções, o sindico voltou a falar:<br />
– Com eu estava falando, os donos dos prédios não vão tolerar mais atrasos, e assim sendo, todos aqui<br />
têm o prazo de quinze dias, para pelo menos negociarem e acertarem parte das dívidas, eu fico muito<br />
sentido por ter chegado a este ponto, mas não há outra solução aparente, e aqueles que realmente não<br />
tiverem condições deste acerto, terão de sair e procurar outro imóvel para morarem.<br />
Silvia era uma das moradoras locais, e sentada ao lado do filho Leonardo, se levantou rapidamente, e<br />
contestou o síndico:<br />
– Isto é mesmo um absurdo, a maioria aqui não tem para onde ir, e não pode ser resolvido assim as<br />
pressas!<br />
– Concordo mãe, é muito pouco tempo para uma questão destas, precisamos de mais tempo!<br />
O síndico entendendo perfeitamente, a imposição da maioria dos presentes, tratou de não se exaltar, e<br />
com uma calma expressiva, pegou o microfone e tornou a falar:<br />
– Sinto muito mesmo, mas é uma decisão tomada por eles, e segundo a empresa é irreversível, e assim<br />
eu declaro encerrada esta reunião, onde todos devem retornar as suas casas, para que com muita calma,<br />
tentem encontrar uma solução adequada!<br />
Silvia era separada do marido, que morava e trabalhava em Curitiba, mas segundo ele havia relatado<br />
por carta, este passava por uma situação financeira complicada, e por isso o dinheiro que era enviado todo<br />
mês, para as despesas básicas de moradia, e para o tratamento e remédios do filho Leonardo, haviam<br />
sido cortadas bruscamente, e até este momento, não havia previsão do retorno destes recursos.<br />
Mãe e filho, já estavam em São Paulo há quase um ano, eles vieram para um tratamento de Leonardo,<br />
pois acreditavam haver mais recursos nos hospitais daqui, o moço havia sido diagnosticado com<br />
um câncer no estômago, mas por ter sido descoberto rapidamente, e pelo tumor estar em sua fase inicial,<br />
as chances de cura seria em torno de sessenta por cento, por isso, eles apostavam que era realmente<br />
possível, e que tinham de achar uma solução rápida, para este problema com as contas atrasadas.<br />
Uma outra inquilina, que não se fez presente, era a moça Vanessa que havia se ausentado, por também<br />
estar passando por problemas de saúde, e esta por sua vez, morava sozinha em um dos apartamentos,<br />
mas ao contrário de os outros moradores, não passava por dificuldades financeiras, pois<br />
sua família bancava à risca todas as suas despesas, mas a sua estadia na capital paulista, era contrária a<br />
vontade de todos os seus entes queridos, era uma espécie de refúgio e teimosia, porque sua doença já<br />
era dada como terminal e sem cura, mas através de medicações caras e importadas, e bem longe de<br />
todas aquelas conversas em tons de despedida, a proporcionava algum tipo de paz e forças, na tentativa<br />
do prolongamento de sua vida.<br />
Com muita certeza, a convivência entre os moradores deste pequeno condomínio, renderá muitos<br />
encontros e desencontros, nos proporcionando verdadeiras experiências da vida real, onde cada um irá<br />
demonstrar o seu caráter, e também a sua personalidade, traçando assim os seus próprios caminhos.<br />
Nos próximos capítulos, teremos com certeza amplas oportunidades, de melhor conhecer estes novos<br />
personagens, onde alguns nos levaram a situações inimagináveis, enquanto outros nos trarão para as<br />
realidades do cotidiano.