Livro Caminhos

Caminhos
– Você gosta mesmo dele né, não perde um movimento do rapaz, fica sempre atenta a todos os seus
passos, ou estou errada?
– Acha que tem alguma chance, dele lagar desta mulher idiota, que só sabe lhe dar patada, e ficar junto
comigo?
– Isso vai depender muito da parte dele, porque da sua já parece estar resolvida, mas nada nos impede
de dar uma espiadinha, nos conselhos que o tarô pode nos dar, quer que eu ponha as cartas para você?
Nem foi preciso palavras para confirmar, o peculiar e cativante sorriso de Regina, que era a sua marca
registrada, demonstrava que concordava com a sugestão, e quem sabe as lâminas antigas e misteriosas,
lhe revelariam a atitude certa a tomar, ainda mais num momento como este, que ela começava a enxergar,
possibilidades de ter em seus braços, o homem que há muito tempo já vem amando.
Do outro lado da capital, no quarto do Hotel, Raul já totalmente recuperado de seus ferimentos, brincava
com o filho Gabriel, enquanto Iris e Elvira assistiam a um filme na tevê, e por se tratar de uma
acomodação enorme e luxuosa, havia uma sala ampla, entre o lavabo e o quarto principal, e mais tarde,
após o garoto ter apagado no sofá, a cozinheira retornou para o seu apartamento, e o casal finalmente
pode ficar a sós.
– Raul, sabe no que eu estava pensando?
– Não faço a mínima ideia, mas seja o que for estou interessado!
– Não se faça de bobo, sabe muito bem do que estou falando, não está com saudades?
– Claro que estou, senti demais a sua falta, faz tempo que a gente não fica juntos, só que antes nós
precisamos conversar, tem algumas coisas que você precisa saber.
– Seja o que for, hoje nada mais me importa, deixa isso para depois, vem e me beija!
E sem tocar numa palavra sequer, os dois se entregaram um ao outro, completamente de corpo e alma,
e após um longo período de separação, marido e esposa finalmente se reencontravam, em seus próprios
caminhos.
Enquanto Iris e Raul se amavam no hotel, Seu Barbosa dono do bar no condomínio, contava a Juliano
que tomava a sua cerveja, sobre sua vinda a São Paulo, depois ter vivido grande parte de sua vida, nas
lindas terras nordestinas da Bahia, e como só havia os dois no pequeno recinto, puderam conversar bem a
vontade.
– Tem certeza que não estou lhe perturbando, com estas histórias de minha terra natal?
– De forma alguma, senta comigo e tome um copo, e me conta tudo sobre a sua antiga vida.
– Lá é um lugar maravilhoso, cheio de histórias importantes, e de uma natureza deslumbrante, com suas
praias de águas cristalinas, e repleta de pessoas simples e hospitaleiras, tenho saudades das tardes de
sábado, junto a meus irmãos na praia do forte!
– E porque deixou este lugar, a sua família, e veio para São Paulo?
– Falta de trabalho e oportunidades, quando cheguei aqui tinha trinta e dois anos, passei por diversos
empregos, fui ajudante de pedreiro, vigia noturno, e fiz diversos tipos de bicos, até que abri um pequeno
boteco, onde eu morava nos fundos, mas o aluguel foi ficando muito caro, até que soube das construções
dos três condomínios, eu acabei conseguindo alugar um apartamento, e de quebra me cederam este
cantinho aqui, para poder ganhar o meu sustento.
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