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Livro Azul

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sabemos e cremos que a Igreja é de Deus, vem de Deus e volta para Deus, mas é preciso vê-la<br />

primeiramente como uma realidade humana: a Igreja é história, feita de seres humanos, situados<br />

no tempo, forjadores e construtores da história. Ela carrega consigo as marcas do seu passado, recria<br />

continuamente a sua imagem, sofre as angústias e as alegrias do momento presente, lança-se na<br />

aventura de um futuro sempre imprevisível. Por este primeiro olhar contemplamos a Igreja<br />

situada no espaço temporal da história da humanidade deste sofrido cerrado tocantinense. Apesar<br />

da sua capacidade de adaptação, de inculturação e de convivência com esta realidade, às vezes,<br />

subumana em que vive uma parcela significativa do povo sofrido desta região, ainda não se<br />

aclimatou plenamente ao estilo e às necessidades do seu povo. A nossa Igreja que se encarna, vive e<br />

acontece na história da humanidade e que sofre com as urgências das mudanças, pode ser motor<br />

que impulsiona a emancipação e a libertação das pessoas, como também pode ser freio de<br />

liberdade e fator de alienação político-social. O que é certo é que ela não pode ser compreendida e<br />

amada sem um olhar sobre a imagem que fez de si no decorrer dos tempos.<br />

Por meio deste olhar, descobrimos o cenário de uma Igreja institucional, visível em seus quadros e<br />

organizações, presente na sociedade, com forte apelação pública, encarnada na história e na<br />

geografia particular deste povo, talvez ainda com pouca influência na cultura, na arte, na<br />

literatura, na ciência e na moral deste povo; talvez não tenha sido suficientemente profética e<br />

crítica diante das instituições que se deixam manipular por interesses egoísticos e desumanos; ou<br />

talvez tenha sido tão profundamente humana a ponto de ser difícil - sem o olhar da fé - distingui-la<br />

de outras organizações da sociedade civil, podendo até ser chamada de “pecadora” quando<br />

conivente com o pecado social. No processo de encarnação, com o mundo no coração, como<br />

discípula de Jesus, a Igreja, como mãe, deve sempre acolher o distante e o diferente, o pobre e o<br />

excluído que estão dentro e fora dela; e deve, por fim, igualmente, lutar contra a miséria e a fome e<br />

pela justiça social.<br />

Deste olhar para a realidade surgem inevitavelmente as seguintes perguntas: para onde está mais<br />

olhando a nossa Igreja? O que ela deve fazer para valorizar mais neste olhar e o que deve ser mais<br />

evitado? Como está organizada, podemos concluir que ela está olhando corretamente para a<br />

história ou não? Como se pensou, se posicionou historicamente, no decorrer dos últimos anos da sua<br />

história? Como amadureceu com esta experiência histórica? Como se aproveitou da evolução dos<br />

tempos para conhecer-se a si mesma? Que imagem faz hoje de si mesma? E esta auto-imagem é<br />

verdadeira ou é falseada? Que influência recebeu das culturas, dos sistemas sociais, das mudanças<br />

do tempo e do espaço?<br />

Diante deste marco situacional, que pastorais e quais ministérios e serviços poderão surgir deste<br />

olhar histórico? Quando uma Igreja olha corretamente para a sua história surgem inevitavelmente<br />

ações concretas que manifestam sua solidariedade com o mundo, na forma de pastorais e de<br />

ministérios, para responder as suas reais necessidades. A promoção e a defesa da vida, a caridade e<br />

a justiça social, o atendimento e a assistência aos pobres, a atuação nos diversos campos onde se<br />

desenvolvem a vida humana: comunicação, educação, saúde, ecologia, trabalho - surgem com<br />

respostas pastorais aos desafios encontros pelo olhar social. As pastorais sociais e os ministérios que<br />

fomentam a participação da Igreja em movimentos civis e organizações não-governamentais, a<br />

serviço da paz e da fraternidade, dos direitos humanos, do ecumenismo e diálogo inter-religioso e<br />

da ecologia são sinais da inserção na realidade social. Mais concretamente, desta visão de Igreja<br />

nascem todas as pastorais sociais. Mas a existência ou não das pastorais sociais em sua comunidade<br />

revela o que? Quando hoje se ressente a falta, a escassez ou a diminuição do elã profético na Igreja<br />

é necessário que se reafirme o que Paulo VI já dizia que “evangelizar comporta necessariamente a<br />

promoção humana”. Diante de uma realidade excludente como a nossa, fazer vista grossa a<br />

Igreja que acolhe, ama, forma e envia em missão<br />

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