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Livro Azul

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3. OS SACRAMENTOS, ATOS ECLESIAIS E PROFÉTICOS<br />

1<br />

A atividade sacramental é a atividade mais densa e comum na Igreja . Muitas de nossas igrejas se<br />

parecem mais com “casas de sacramentos” do que “casas da palavra e de oração”. Especialmente<br />

os finais de semana e as ocasiões de festas especiais, são marcados por uma intensa atividade<br />

centrada nos sacramentos. São eles que ocupam a grande parte do tempo pastoral e os espaços das<br />

agendas dos presbíteros e dos agentes de pastoral. E é em função deles que se organiza o maior<br />

número de equipes de serviços pastorais: pastoral do batismo, da crisma, da primeira eucaristia, do<br />

matrimônio, dos enfermos. Todas essas equipes sobrevivem fundamentalmente em função da<br />

preparação e da celebração dos sacramentos. Mesmo sabendo que a liturgia e os sacramentos<br />

pertencem à totalidade da Igreja, o negativo é que, praticamente em muitas igrejas a única<br />

pastoral que funciona, e às vezes mal, é a pastoral dos sacramentos. E em muitos casos, as<br />

celebrações dos sacramentos são a única fonte espiritual da vida paroquial, especialmente as<br />

celebrações eucarísticas. E ainda são essas celebrações a única fonte ou a única forma de contata de<br />

muitos católicos com a Igreja. Mas, por que apesar dessa atividade intensa, há ainda tanta<br />

“ignorância” com relação aos sacramentos? Por que tantas perguntas são feitas e poucas respostas<br />

são dadas?<br />

Uma reclamação constante dos presbíteros e dos agentes de pastoral é a que esta prática tão<br />

intensa não produz os frutos esperados, não leva as pessoas a vivenciarem sua fé nem a engajarem<br />

sua vida. Ao contrário, cada dia mais se sabe de batizados e casados na Igreja que abandonam sua<br />

fé e migram para outras igrejas que não possuem e até são radicalmente contrárias a essa prática<br />

sacramental. De fato, não precisa fazer muito esforço para detectar o seguinte dilema: quantos<br />

batismos levam à incorporação a Cristo e à Igreja, ou ao menos, ao engajamento comunitário?<br />

Quantas crismas levam à maturidade da fé cristã? Quantas confissões levam realmente à<br />

conversão? Quantos matrimônios sobrevivem depois do período romântico do “noivado”? Quais<br />

celebrações eucarísticas levam à auto-doação e à comunhão fraterna? Quantas ordenações levam<br />

à configuração com Cristo? Resumidamente, o que e com fazer para que os sacramentos expressem<br />

a vida vivida e possam contribuir para que essa vida seja não só pessoalmente, mas social e<br />

2<br />

estruturalmente mais cristã e evangélica?<br />

No estudo da sacramentária contemporânea constata-se a existência de duas realidades que,<br />

embora antagônicas, coexistem simultaneamente. A primeira chama-se crise sacramental e a<br />

segunda chama-se de renovação sacramental. A crise porque passa os sacramentos, possui<br />

uma dupla face: trata-se de uma crise teórica (teológica) e também de uma crise prática<br />

3<br />

(pastoral, existencial) . É crise teórica por causa do imobilismo e da paralisia porque viveu por<br />

muito tempo o conceito de sacramento. Apesar do Concílio de Trento ter definido os sacramentos<br />

como “sinais eficazes de graças” e da manualística ter procurado fazer uma síntese clara, completa,<br />

ordenada e precisa, contudo, não evitaram se cair no abstratismo e na paralisia, com pouca<br />

referência bíblica e antropológica e, por conseguinte, com pouca incidência na vida do povo. A<br />

leitura dos sacramentos ao redor deles mesmos, ou de seus elementos constitutivos (matéria, forma,<br />

graça, caráter, instituição, sujeito), com uma preocupação marcadamente metafísica e isolada do<br />

contexto da fé, terminou por esvaziar o seu autêntico significado.<br />

Crise teórica também porque estamos passando por um período de “inflação” e de dilatação do<br />

conceito de sacramento, sem um conseqüente aprofundamento teológico que, em muitos casos,<br />

chegando a cair ou num maximalismo sacramental (“tudo é sacramento”) ou num minimalismo<br />

sacramental (“nada é sacramento”). Conclui-se, com isso que, se tudo é sacramento, nada mais é<br />

Igreja que acolhe, ama, forma e envia em missão<br />

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