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Livro Azul

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situação social, é sinal de que a igreja não está olhando corretamente para a história se se constata<br />

que não existem organizadas as pastorais sociais. Portanto, como as coisas estão acontecendo é<br />

sinal de que estamos olhando corretamente para a realidade? O programa de vida de Jesus<br />

poderá servir de inspiração para o programa de vida da nossa comunidade eclesial: “Espírito do<br />

Senhor está sobre mim porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a boa notícia aos<br />

pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista,<br />

para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4,18ss).<br />

4. A sede de olhar para o mistério<br />

“Deus é espírito... devem adorá-lo em espírito e verdade” (Jo 4,24)<br />

Jesus evangelizou chamando a atenção dos seus ouvintes para o mistério do Reino de Deus, seu Pai.<br />

A Igreja, fazendo memória deste seu jeito de evangelizar, por este segundo olhar, se depara com o<br />

mistério de Deus, do qual faz parte. Falar em mistério é falar da origem, da vida e do destino<br />

trinitário da Igreja: do desejo do Pai de querê-la, da decisão de Jesus de instituí-la e da presença do<br />

Espírito em guiá-la no seu dia a dia. A Igreja foi esboçada desde a obra da criação, prefigurada na<br />

eleição do povo de Israel e passou a existir concretamente com a encarnação do Filho e o<br />

derramamento do Espírito. Ela não pode ser compreendida e amada sem um olhar sobre a sua<br />

origem, sua identidade e seu sentido, encontrados somente em Deus; A Igreja vem da Trindade<br />

(Ecclesia de Trinitate), se estrutura de forma trinitária (Ecclesia inter tempora), parte e segue em<br />

direção da Trindade (Ecclesia viatorum). Da Trindade aprendemos que ser Igreja é ter atitudes<br />

paternais, filiais e fraternais de uns para com os outros. Esta visão que transparece aqui revela a<br />

existência de uma Igreja mistério, ícone da Trindade, relacionada com Deus e com o povo de Deus,<br />

família dos filhos e filhas de Deus; uma comunidade de fé e de culto, lugar onde se faz experiência<br />

do encontro amoroso e afetuoso com Deus e com os irmãos. Contempla-se por este olhar uma<br />

Igreja invisível, espiritual e da eficácia mistérica. Nela se trabalha o forte apelo religioso do coração<br />

de cada ser humano. Vista nesta ótica, a Igreja pode se considerar feliz porque não possui nada de<br />

próprio, pois, tudo o que ela tem é de Cristo, tudo é dom e deve ser acolhido e recebido com alegria<br />

e gratidão. Como tudo é doado, deve doá-lo gratuitamente.<br />

A Igreja, vista por este prisma, pode parecer algo misterioso, obscuro, escondido, suspeito, alheio e<br />

fechado à realidade. Não é este o significado que estamos usando ao dizer que a Igreja é mistério. O<br />

que estamos afirmando é que ela faz parte integrante do divino e eterno desígnio salvífico do Pai,<br />

por Jesus Cristo, no Espírito Santo. Este mistério se exprime e se torna presente no mundo pela<br />

mediação da Igreja. No entanto, por mais paradoxal que pareça, é neste campo pastoral que<br />

ainda estamos muito fragilizados, enfraquecidos ou não estamos sabendo trabalhar. Afinal, por<br />

que será que apesar de tantos esforços e tantas tentativas muitos ainda não se sentem fascinados<br />

pelo mistério da Igreja? Por que seu mistério não entusiasma tanto as pessoas como os “mistérios”<br />

do mundo? Por que será que “outros mistérios” atraem mais do que o da Igreja? A Igreja que possui<br />

um mistério que não empolga, não cativa, não convoca e não cria convencimento e não atrai. O<br />

fato de se assistir quase passivamente a fuga de muitos fiéis católicos para as mais diversas<br />

expressões religiosas, indica que falta à nossa Igreja trabalhar mais e, de modo mais incisivo, a sua<br />

condição de mediadora do mistério no encontro das pessoas com Deus e vice-versa.<br />

O mistério que a Igreja é chamada a desenvolver (tirar o envolvimento) é o de encaminhar o povo<br />

de Deus para a meta definitiva da sua vocação transcendente: o Reino de Deus. O que constitui a<br />

essência da caridade pastoral é o pastor ensinar o povo a dizer: “Pai nosso...” Ensinar o povo a rezar<br />

é o maior sinal da caridade pastoral que a Igreja pode realizar. E, por meio da oração, descobrir a<br />

relação íntima de Jesus com o Pai e conosco, e familiarizar-se com ela. Concluo esta reflexão sobre<br />

118 Arquidiocese de Palmas

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