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14. ORIENTAÇÕES PASTORAIS SOBRE A PRESENÇA SOCIAL DA<br />
IGREJA<br />
“O que é esta 'realidade'? O que é real? São 'realidade' só os bens materiais, os problemas sociais,<br />
econômicos e políticos? (...) “Só quem reconhece a Deus, conhece a realidade e pode responder a ela<br />
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de modo adequado e realmente humano” . “Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o<br />
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conceito de realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas” .<br />
1. Iluminação teológica<br />
1.1. O Brasil, segundo o Censo 2010, tem em torno de 84% da sua população vivendo na cidade. Em<br />
poucas décadas, passou de um país prevalentemente rural para um país de população de maioria<br />
urbana. O campo foi praticamente abandonado como lugar de residência e a cidade se converteu<br />
em lugar de produção de cultura, de modismo, de sonho e de produção de fascínio e de consumo,<br />
gestando e impondo uma nova cultura, linguagem e simbologia. É no mundo urbano que<br />
acontece as complexas transformações sociais, econômicas, culturais, políticas e religiosas que têm<br />
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profundo impacto em todas as dimensões da vida . “As condições de vida de muitos abandonados,<br />
excluídos e ignorados em sua miséria e dor, contradizem o projeto do Pai e desafiam os discípulos<br />
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missionários a maior compromisso a favor da cultura da vida” . A injustiça social assume<br />
proporções de ofensa a Deus que nos criou à sua imagem e semelhança, e se opõe ao mandamento<br />
do amor fraterno que Jesus Cristo instituiu como lei de nova e eterna aliança.<br />
1.2. Estes dados, no entanto, não podem ser relativizados pastoralmente e nem causar<br />
simplesmente espanto. A ação pastoral deve levá-lo em conta na hora das escolhas das prioridades<br />
pastorais e missionárias. Como viver a fé na cidade? Como evangelizar a cidade? Como enfrentar<br />
os desafios da cidade com suas lógicas? Mas como também viver a fé no campo? Como evangelizar<br />
as comunidades rurais, pobres, distantes e isoladas? Como viver a fé em um país de batizados, mas<br />
que convive com grandes injustiças sociais?<br />
1.3. “Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, porque Eu estou contigo. Ninguém te porá a<br />
mão para fazer mal. Nesta cidade há um povo numeroso que me pertence” (At 18,9-10). A Igreja,<br />
em seu início, se formou a partir da cidade e, ao mesmo tempo, se serviu delas para se propagar e<br />
propagar o Evangelho. Hoje, deve realizar, com alegria e coragem, a evangelização da realidade<br />
atual. A fé nos ensina viver como cristão no sertão ou na cidade, em meio às alegrias, aos desejos, às<br />
esperanças, às sombras, às dores e aos sofrimentos que marcam o cotidiano das cidades: violência,<br />
pobreza, individualismo e exclusão.<br />
1.4. A realidade urbana acelera e aprofunda a ineficácia da família, da escola, e até da mesma<br />
Igreja, para iniciar na fé as pessoas. Esta situação, de mudança de época, exige uma radical<br />
transformação no modo de concretizar a ação evangelizadora. Diante deste quadro, deve nascer<br />
uma maior sensibilidade pelas pastorais sociais. Mas o que geralmente se percebe são atitudes de<br />
medo em ralação à cidade e à pastoral urbana; a tendência de se fechar nos métodos antigos e de<br />
tomar atitude de defesa diante da nova cultura, com sentimentos de impotência diante das<br />
grandes dificuldades das cidades. É necessário, ao contrário, que a Igreja se coloque a serviço da<br />
realização do projeto de Deus no campo ou na cidade, mediante a proclamação e a vivência da<br />
Palavra, a celebração da liturgia, a comunhão fraterna e o serviço e o amor social, especialmente<br />
aos mais pobres e aos que mais sofrem, e desta forma se transformar em fermento na massa, sal da<br />
terra e luz do mundo.<br />
Igreja que acolhe, ama, forma e envia em missão<br />
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