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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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gerações passadas;<br />

Ser mundano e viver inteiramente neste mundo é o caminho para a fé e para ser ele mesmo — o homem<br />

— sem tentar ser religioso, santo, etc.<br />

Segundo Bonhoeffer, Cristo não é um homem, mas é homem. O que acontece a Ele acontece aos<br />

homens. A igreja não é uma comunida<strong>de</strong> religiosa que adora a Cristo, mas é o próprio Cristo entre os<br />

homens.<br />

Analisando o problema da responsabilida<strong>de</strong>, Bonhoeffer conclui que mesmo a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um<br />

fim, para se colocar a serviço da consciência livre do cristão. Dentro <strong>de</strong>sse objetivo <strong>de</strong> servir ao<br />

próximo, o homem po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve mentir em certas circunstâncias.<br />

“Dizer a verda<strong>de</strong> muda <strong>de</strong> significado <strong>de</strong> acordo com a situação em que nos encontramos”, afirma o<br />

teólogo, para quem mentir não é faltar com a verda<strong>de</strong>, pois po<strong>de</strong>-se mentir, dizendo toda a verda<strong>de</strong>.<br />

De uma maneira geral, são estas as mais conhecidas posições <strong>de</strong> Bonhoeffer:<br />

A Igreja só é Igreja quando existe para os outros. Portanto, a Igreja <strong>de</strong>ve entregar todo o seu<br />

patrimônio aos necessitados. Os ministros <strong>de</strong>vem viver exclusivamente dos donativos voluntários da<br />

comunida<strong>de</strong>; talvez tenham que exercer qualquer profissão profana. A Igreja <strong>de</strong>ve participar das tarefas<br />

profanas da vida na coletivida<strong>de</strong> humana, não como quem governa, mas como quem ajuda e serve.<br />

Portanto, o cristão tem <strong>de</strong> viver no mundo sem Deus e não po<strong>de</strong> fazer a tentativa <strong>de</strong> encobrir este<br />

estado sem Deus <strong>de</strong> algum modo religiosamente, querendo até glorificá-lo. Ele terá que viver<br />

“mundanamente” e participar assim do sofrimento <strong>de</strong> Deus: ele po<strong>de</strong> viver “mundanamente”, isto é, livre<br />

<strong>de</strong> restrições religiosas falsas e <strong>de</strong> complexos artificiais.<br />

Ser cristão não significa ser religioso em uma <strong>de</strong>terminada direção e sob a pressão <strong>de</strong> qualquer<br />

metódica tornar-se algo (pecador, penitente ou santo), mas, ao contrário, ser cristão é ser homem. Não é<br />

que o ato religioso produz o homem, mas sim a participação no pa<strong>de</strong>cimento <strong>de</strong> Deus na vida do mundo.<br />

Deus nos faz saber que <strong>de</strong>vemos viver como aqueles que se arranjam na vida sem ele. O Deus que está<br />

conosco é o Deus que nos abandona (Mc 15.34). O Deus que nos <strong>de</strong>ixa viver no mundo, sem a hipótese<br />

do trabalho <strong>de</strong> Deus, é o Deus diante do qual permanentemente temos <strong>de</strong> estar. Diante <strong>de</strong> Deus e com<br />

Deus, vivemos sem Deus.<br />

Deus permite que ele seja expulso do mundo até à cruz. Deus é impotente e fraco no mundo, e<br />

exatamente assim ele está ao nosso lado e nos ajuda. Conforme Mateus 8.17 <strong>de</strong>ixa bem claro que Cristo<br />

não ajuda graças à sua onipotência, mas graças à sua fraqueza e ao seu sofrimento.<br />

Isto quer dizer, <strong>de</strong> um lado, falar metafisicamente e, do outro, <strong>de</strong> modo individualista. Ambas as<br />

maneiras não atingem nem a mensagem bíblica nem o homem mo<strong>de</strong>rno. Não é que o problema<br />

individualista pela salvação pessoal da alma quase que totalmente <strong>de</strong>sapareceu? Não <strong>de</strong>vemos hoje ter a<br />

impressão <strong>de</strong> que há problemas bem mais importantes do que este (talvez não como assunto, mais sim<br />

como problema)? Sei muito bem que soa monstruoso afirmar tal coisa, mas não é também, no fundo,<br />

bíblico? Há mesmo no Antigo Testamento o problema pela salvação da alma? Não são justamente a<br />

justiça e o Reino <strong>de</strong> Deus na terra o centro <strong>de</strong> tudo?<br />

Um problema que não chega a uma solução <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim é a questão <strong>de</strong> saber o que é o cristianismo<br />

e, também, quem é Cristo hoje para nós, verda<strong>de</strong>iramente. O tempo em que se podia dizer tudo ao homem<br />

com simples palavras — quer sejam teológicas, quer piedosas — já passou. Assim também já passou o<br />

tempo da interiorida<strong>de</strong> e da consciência, o que po<strong>de</strong>mos resumir nas palavras: passou o tempo mesmo da<br />

religião. Nós marchamos para uma época sem religião alguma.<br />

Um dia há <strong>de</strong> chegar em que os homens novamente serão chamados a proferir a Palavra <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> tal

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