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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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ELEIÇÃO DIVINA<br />

Quando afirmo que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência inclui a opção política, estou sendo fiel à Bíblia. Esta<br />

ensina que embora os governantes sejam nomeados por Deus, o povo participa nessa escolha, como no<br />

caso <strong>de</strong> Saul e Davi. Estes, mesmo tendo sido ungidos por or<strong>de</strong>m divina, somente chegaram a ocupar o<br />

trono <strong>de</strong> Israel <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aceitos pelo povo. O próprio Jesus, apresentado pelo Pai a Israel como Rei,<br />

como tal teve <strong>de</strong> ser aclamado pelo povo antes <strong>de</strong> morrer na cruz também como Rei.<br />

Acerca da supremacia da autorida<strong>de</strong> divina em relação à autorida<strong>de</strong> humana, a Bíblia afirma que os<br />

governantes são ministros <strong>de</strong> Deus escolhidos por Deus e não ministros do povo, pois a autorida<strong>de</strong><br />

governamental vem diretamente <strong>de</strong> Deus. Meeter, à luz da Escritura Sagrada, observa que o direito do<br />

povo no Estado “é o <strong>de</strong> exercer controle, julgar e inclusive objetar <strong>de</strong>cisões dos governantes”. 192<br />

A questão da autorida<strong>de</strong> divina salienta-se quando comparamos duas importantes revoluções ocorridas<br />

na mesma época: a Revolução Francesa na Europa e a Guerra da In<strong>de</strong>pendência dos Estados Unidos, na<br />

América do Norte. A primeira, pelo fato <strong>de</strong> estar baseada na autorida<strong>de</strong> do povo e não na <strong>de</strong> Deus,<br />

chegou a resultados <strong>de</strong>sastrosos, pois os revolucionários suprimiram toda autorida<strong>de</strong>, tanto divina quanto<br />

humana. As cabeças rolaram em profusão da guilhotina. A segunda, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> o sentimento das<br />

massas ter sido bem influenciado pelo ensino do Evangelho, jamais <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> reconhecer a soberania<br />

divina, o que se po<strong>de</strong> perceber no fato <strong>de</strong> os norte-americanos terem proclamado quatro festas em ação<br />

<strong>de</strong> graças a Deus, nos anos <strong>de</strong> 1777, 1784, 1789 e 1795.<br />

Infelizmente o <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue ocorrido na Revolução Francesa tem-se repetido em todos os<br />

governos que não reconhecem a autorida<strong>de</strong> divina, como nos regimes ateístas da Rússia, da China, do<br />

Camboja e outros, nos quais a implantação do comunismo tem custado a vida <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhões, e a<br />

sua continuida<strong>de</strong> no po<strong>de</strong>r tem levado milhões <strong>de</strong> outros às prisões e ao extermínio. O massacre <strong>de</strong><br />

estudantes em Beijing, que comoveu o mundo livre no início <strong>de</strong> 1989, mostra que os lí<strong>de</strong>res comunistas<br />

são capazes <strong>de</strong> tudo para se manter no po<strong>de</strong>r.<br />

O mesmo se po<strong>de</strong> dizer daqueles regimes em que o governo, embora religioso, procura<br />

instrumentalizar a igreja em seu próprio proveito político, como ocorreu na Itália <strong>de</strong> Mussolini e na<br />

Alemanha <strong>de</strong> Hitler, e talvez esteja ocorrendo em mais <strong>de</strong> uma nação em nossos dias. Tanto o nazismo<br />

como o fascismo, pelo fato <strong>de</strong> divinizarem o Estado e atribuírem aos seus lí<strong>de</strong>res prerrogativas divinas,<br />

praticamente suprimiram a liberda<strong>de</strong> religiosa e a supremacia divina. O resultado foi o abuso do po<strong>de</strong>r, a<br />

injustiça social, e inomináveis atrocida<strong>de</strong>s.<br />

Irineu Monteiro, em Qual o Rumo da Igreja?, afirma que em 1932 havia na Rússia 800.000 pessoas<br />

presas, sem contar os campos <strong>de</strong> trabalho forçado e as colônias. “No período <strong>de</strong> 1936-1940, o número <strong>de</strong><br />

execuções subiu à casa dos 800 mil... Pessoas alojadas em acampamentos <strong>de</strong> concentração, segundo<br />

estatísticas <strong>de</strong> 1938: 8.000.000. Detidos <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1937 a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1938: 12.000.000. Dos<br />

<strong>de</strong>tidos, 3.000.000 foram executados. Os <strong>de</strong>tentos eram tratados como lixo. Cerca <strong>de</strong> um terço dos presos<br />

morria, principalmente <strong>de</strong> exaustão. Em 1937-38, cerca <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong>les morreram, a partir do<br />

recolhimento aos presídios”. 193<br />

Meeter afirma que os <strong>de</strong>veres do Estado para com a Igreja po<strong>de</strong>riam ser agrupados da seguinte<br />

maneira: Em primeiro lugar, o Estado não po<strong>de</strong> permanecer neutro no que diz respeito à religião em<br />

geral, pois, assumindo tal atitu<strong>de</strong>, chegaria a ser praticamente ateu, e com isso violaria a soberania <strong>de</strong><br />

Deus em todas as esferas da vida. O Estado, além <strong>de</strong> reconhecer a existência <strong>de</strong> Deus, necessita também<br />

reconhecer a sua própria responsabilida<strong>de</strong> perante ele, como ocorre em alguns países, entre eles os<br />

Estados Unidos da América, em cuja Declaração da In<strong>de</strong>pendência se lê: “O Criador dotou as suas<br />

criaturas <strong>de</strong> certos direitos inalienáveis”.

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