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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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O FIM JUSTIFICA OS MEIOS?<br />

Dentro do propósito <strong>de</strong> estabelecer na socieda<strong>de</strong> latino-americana a “justiça mais alta” pregada por<br />

Leonardo Boff, o que seria feito mediante o “amor revolucionário” do padre Girardi, por sua vez<br />

obe<strong>de</strong>cendo ao “imperativo da revolução <strong>de</strong> Trujillo”, a teologia da libertação não tem dificulda<strong>de</strong> em<br />

aceitar o princípio maquiavélico <strong>de</strong> que “o fim justifica os meios”.<br />

É evi<strong>de</strong>nte, contudo, que essa “justiça mais alta” tem como mo<strong>de</strong>lo justamente a revolução sandinista<br />

da Nicarágua, que o “amor revolucionário” não po<strong>de</strong> ser o amor <strong>de</strong> Deus “<strong>de</strong>rramado em nossos<br />

corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado” (Rm 5.5), e que o “imperativo da revolução” <strong>de</strong><br />

Trujillo e outros liberacionistas, seguindo a trilha filosófica <strong>de</strong> Maquiavel implícita no marxismo, não<br />

po<strong>de</strong> trazer bem-estar às populações carentes da América Latina, por força da sua própria natureza.<br />

O resultado das revoluções que os liberacionistas tomam como mo<strong>de</strong>lo tem sido a alienação das<br />

populações <strong>de</strong> todo o tipo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, como tem ocorrido na Nicarágua e em outras partes do mundo,<br />

alienação inclusive da liberda<strong>de</strong> política que, embora precária, ainda existe na <strong>de</strong>mocracia.<br />

Na Nicarágua, por exemplo, os revolucionários agiram na força do ódio imanente no marxismo, ódio<br />

que alguns rotulam <strong>de</strong> “amor revolucionário”, e não no po<strong>de</strong>r do amor cristão. Essa revolução, realizada<br />

com o auxílio das comunida<strong>de</strong>s eclesiais <strong>de</strong> base, sem as quais — afirmam os próprios sandinistas — a<br />

<strong>de</strong>rrubada da ditadura seria impossível, culminou numa enorme festa popular originada pela notícia do<br />

assassínio <strong>de</strong> Somosa no Paraguai. Essa alegria não po<strong>de</strong>ria estar mais longe do “amai os vossos<br />

inimigos” <strong>de</strong> Jesus.<br />

É claro que, na Nicarágua, os comunistas agiram <strong>de</strong>ntro do movimento sandinista e <strong>de</strong>ntro das CEBs a<br />

fim <strong>de</strong> conquistar o po<strong>de</strong>r político. Esse po<strong>de</strong>r, entretanto, nunca emana <strong>de</strong>mocraticamente do povo em<br />

benefício do povo, mas centraliza-se nas mãos da rígida hierarquia do partido único como terrível<br />

imposição sobre o povo que, enganado com utópicas promessas, apóia os revolucionários. É oportuna,<br />

aqui, a advertência do arcebispo <strong>de</strong> Porto Alegre, Dom Cláudio Colling: “O comunismo, enquanto<br />

minoria, é bem comportado. Mas, no momento em que cresce e passa a ser maioria, engole a todos”.<br />

Dom Cláudio compara o comunismo “a uma cobrinha, que pequena não faz mal a ninguém, mas que<br />

quando começa a crescer se torna uma ameaça”. Por esse motivo, ele não concordava com a legalização<br />

dos partidos comunistas no Brasil, já que entendia que a <strong>de</strong>mocracia seria colocada em risco. “A<br />

<strong>de</strong>mocracia seria asfixiada. E quem tem por objetivo sufocar a <strong>de</strong>mocracia, não tem o direito <strong>de</strong> se<br />

estabelecer, mesmo num sistema como o <strong>de</strong>mocrático, que permite a participação <strong>de</strong> várias correntes<br />

políticas”. 169

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