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A PERSPECTIVA HUMANISTA<br />
Possuindo opinião bem diferente da teologia clássica, os liberacionistas dizem que a pobreza é<br />
expressão do pecado, que por sua vez é negação do amor. Gustavo Gutierrez conclui que a pobreza “é<br />
incompatível com a vinda do Reino <strong>de</strong> Deus, um Reino <strong>de</strong> amor e justiça. A pobreza é um mal, uma<br />
condição escandalosa, que nos nossos tempos assumiu proporções enormes. Eliminá-la é aproximar-se<br />
mais do momento <strong>de</strong> encarar a Deus face a face, em união com os outros homens”. 72<br />
Assim, na teologia liberacionista, o pecado, como algo externalizado, refere-se às estruturas sociais<br />
opressivas que necessitam ser removidas como causa única da pobreza e da injustiça.<br />
O pecado, portanto, consistiria, fundamentalmente, na separação ou alienação <strong>de</strong> uma pessoa ou grupo<br />
<strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> sua verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. De acordo com a <strong>Teologia</strong> Negra, que segue a mesma linha<br />
liberacionista, o pecado do oprimido não é o <strong>de</strong> ele ser responsável pela sua própria escravidão, mas<br />
sim o <strong>de</strong> tentar “compreen<strong>de</strong>r” o escravizador e <strong>de</strong> “amá-lo” nos termos do oprimido. “O resultado<br />
cumulativo do pecado humano”, afirma o liberacionismo, “é a estrutura injusta e a opressão. Estas<br />
estruturas diabólicas trazem consigo sua própria <strong>de</strong>struição. Elas têm <strong>de</strong> ser confrontadas e<br />
combatidas”. 73<br />
Em nível mais profundo, essa libertação po<strong>de</strong>ria ser aplicada ao entendimento da história, em que o<br />
homem seria visto assumindo responsabilida<strong>de</strong> consciente do seu próprio <strong>de</strong>stino. Seria esse<br />
entendimento que proveria um contexto dinâmico e alargaria os horizontes das alterações sociais<br />
<strong>de</strong>sejadas. Gutierrez, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> afirmar que um homem “faz-se através <strong>de</strong> sua vida e através da história”,<br />
sugere que a “conquista gradual da verda<strong>de</strong>ira liberda<strong>de</strong> leva à criação <strong>de</strong> um novo homem e <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong> qualitativamente diferente”. 74<br />
Assim, o que antes Deus fazia — a criação <strong>de</strong> um novo homem — agora é o homem que faz, ou<br />
melhor, que preten<strong>de</strong> fazer, fechando os olhos à sua própria <strong>de</strong>pravação total diante <strong>de</strong> um Deus santo.<br />
Esse humanismo i<strong>de</strong>alista consi<strong>de</strong>ra o ser humano capaz <strong>de</strong> regenerar-se a si próprio e <strong>de</strong> assumir todo o<br />
domínio da realida<strong>de</strong> da vida presente, e, portanto, <strong>de</strong> estabelecer uma socieda<strong>de</strong> justa sobre a terra, uma<br />
socieda<strong>de</strong> sem os pecados do ódio, da ganância e da injustiça.<br />
Nessa perspectiva humanista, os liberacionistas confun<strong>de</strong>m até mesmo a re<strong>de</strong>nção bíblica final, isto é,<br />
a transformação do nosso corpo em corpo glorioso (1 Co 15.51-53; 1 Ts 4.16; 1 Jo 3.2) com uma<br />
presente emancipação social e econômica. Um <strong>de</strong>sses teólogos afirmou que “o que nós necessitamos é <strong>de</strong><br />
vida antes da morte e não vida <strong>de</strong>pois da morte”, e que “precisamos ser livres da coação para o pecado<br />
na nossa vida coletiva”.<br />
Mais adiante o mesmo teólogo, após perguntar se <strong>de</strong>vemos falar com Deus o re<strong>de</strong>ntor ou Deus o<br />
emancipador sobre vida e pecado, respon<strong>de</strong>: “Deus é um só. Conhecemos libertação, e libertação<br />
somente através da nossa participação. Não há nada que Deus possa fazer por nós sem a nossa<br />
participação ou envolvimento. Viver significa participar. O gemer do Universo criado nos <strong>de</strong>ixa abertos à<br />
participação no que foi chamado criação. Se nós nos conscientizamos da revelação <strong>de</strong> sermos filhos<br />
participantes, então nos tornamos unidos com a força libertadora na história, assim como na natureza.<br />
Temos que participar da chamada, i<strong>de</strong>ntificar a necessida<strong>de</strong> e entrar na luta”. 75<br />
Essa perspectiva humanista e renascentista, sem apoio bíblico, tem produzido pessoas alienadas <strong>de</strong><br />
Deus porque não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m dEle, e essas pessoas, pelo fato <strong>de</strong> rejeitarem a verda<strong>de</strong> divina revelada nas<br />
Escrituras e <strong>de</strong> não se submeterem ao senhorio do Senhor Jesus Cristo, assemelham-se a guias cegos, que<br />
não cairão sós no abismo.<br />
O mesmo humanismo pregado pela teologia da libertação esteve presente no liberalismo teológico, que<br />
tanto valor <strong>de</strong>u ao ser humano. Contudo, <strong>de</strong>pois das duas guerras mundiais <strong>de</strong>ste século, as quais