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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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TRAFICANTES DE FALSA SABEDORIA<br />

Em virtu<strong>de</strong> da vitória dos gregos sobre os persas, ao tempo <strong>de</strong> Alexandre, o Gran<strong>de</strong>, Atenas assumiu o<br />

domínio sobre o mar Egeu, e a <strong>de</strong>mocracia vitoriosa obteve gran<strong>de</strong> progresso com a crescente<br />

importância das assembléias, dos tribunais, das discussões sobre a moral, a política, etc.<br />

Tais circunstâncias levaram os gregos a uma maior preocupação com os problemas humanos, pois as<br />

instituições e as crenças do passado eram agora insuficientes para fazer face às novas perguntas que<br />

surgiam. Desenvolveu-se, assim, uma cultura <strong>de</strong> valor prático, preocupada com as coisas humanas. Uma<br />

cultura dialética, que não mais encontrava, no âmbito das velhas concepções filosóficas, uma resposta às<br />

suas perguntas, o que levou os filósofos a penetrarem em um novo terreno: o homem.<br />

A fase antropológica da Filosofia substitui a fase cosmológica, dando origem ao surgimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> sábios, mestres, vagabundos, hábeis oradores e expositores <strong>de</strong> doutrinas, que contavam com o<br />

apoio da juventu<strong>de</strong> que os acompanhava. Eram os sofistas.<br />

Esses sábios eram muito admirados por todos os que lhes pagavam para que lhes ensinassem a arte <strong>de</strong><br />

argumentar e <strong>de</strong> discutir. Não formavam propriamente uma corrente, pois havia entre eles todas as<br />

tendências. O que os caracterizava, porém, era a exaltação que davam ao homem como indivíduo.<br />

Como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, os sofistas eram <strong>de</strong>sprezados pelos aristocratas do saber, pelos<br />

filósofos. Segundo Aristóteles, “a sofística é uma sabedoria aparente, não real, e o sofista é um traficante<br />

<strong>de</strong> sabedoria aparente”.<br />

Sendo a sofística mais uma atitu<strong>de</strong> do espírito do que uma doutrina, seus a<strong>de</strong>ptos eram, aparentemente,<br />

os continuadores e os discípulos dos sábios da geração prece<strong>de</strong>nte. O próprio nome sofistas (Gr. Sophia,<br />

sabedoria) não possuía em sua origem nenhum sentido pejorativo, mas esses “retóricos <strong>de</strong> má fé”, como<br />

Platão os chamou, na realida<strong>de</strong> diferiam essencialmente dos verda<strong>de</strong>iros filósofos, visto que não mais<br />

tomavam o objeto a ser conhecido como fim e regra <strong>de</strong> sua ciência, mas se concentravam nos interesses<br />

do sujeito que <strong>de</strong>sejava o conhecimento do objeto.<br />

Mestres ambulantes que ensinavam por dinheiro, enciclopedistas, conferencistas, jornalistas, e até<br />

mesmo super-homens ou diletantes, os sofistas eram tudo, menos sábios. Sem <strong>de</strong>sejarem a verda<strong>de</strong>, eles<br />

queriam as vantagens da ciência enquanto esta significava para seus possuidores po<strong>de</strong>r e dominação.<br />

Assim, parecendo professores <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, os sofistas notabilizavam-se como racionalistas e sábios<br />

universais, dando explicações falsamente claras para todas as coisas, e preten<strong>de</strong>ndo reformar tudo. Por<br />

tais razões se interessavam <strong>de</strong> preferência pelas coisas humanas, por serem as mais complexas e menos<br />

certas.<br />

Procurando, por meios inteligentes, apenas o meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar superiorida<strong>de</strong>, os sofistas<br />

transformaram uma das mais dignas ciências na arte <strong>de</strong> negar e <strong>de</strong>struir pelo raciocínio. Com sua moral<br />

maleável, eram capazes <strong>de</strong> sustentar os prós e os contras com a mesma verossimilhança. Con<strong>de</strong>navam<br />

toda a lei imposta ao homem como uma convenção arbitrária, e a virtu<strong>de</strong> que pregavam reduzia-se ou à<br />

arte do bom êxito ou ao <strong>de</strong>sejo do po<strong>de</strong>r.<br />

Desta maneira, <strong>de</strong> todos os gran<strong>de</strong>s projetos filosóficos da época prece<strong>de</strong>nte, os sofistas haviam<br />

conservado apenas o orgulho científico. Queriam ser gran<strong>de</strong>s pela ciência, e acreditavam nela, mas não<br />

criam na verda<strong>de</strong>.<br />

Eis alguns passos importantes para se compreen<strong>de</strong>r a sofística:<br />

Foi um movimento cultural <strong>de</strong>stinado a satisfazer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> culturalização das<br />

massas <strong>de</strong>mocráticas;

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