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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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TODO O BEM ESTÁ NO PRAZER<br />

Epicuro, fundador da escola que tem o seu nome, nasceu em Atenas, em 270 a.C., e morreu aos setenta<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Foi um fidalgo, mestre eficaz <strong>de</strong> sabedoria aristocrática, que possuía refinado gosto pela<br />

formosura e pela cultura superior. Deu a vida a uma socieda<strong>de</strong> genial em que dominava o vínculo da<br />

amiza<strong>de</strong>.<br />

As amiza<strong>de</strong>s dos epicuristas ficaram famosas, como as dos pitagóricos. A associação conservou-se<br />

organizada mediante uma constituição <strong>de</strong> ajudas materiais, cartas, missões, etc. A sua filosofia foi<br />

consi<strong>de</strong>rada como uma religião, bem como a sua doutrina, que ficou resumida em catecismos, e sua<br />

imagem chegou a ficar gravada em jóias.<br />

O epicurismo, como também o estoicismo — que estudaremos a seguir —, divi<strong>de</strong> a Filosofia em três<br />

partes: lógica, física, e ética. Subordinam a teoria à prática, e a ciência à moral, para garantir ao homem<br />

um bem supremo. Segundo Epicuro, a Filosofia é a arte da vida, é tarefa do mundo da Física, para<br />

libertar o homem dos gran<strong>de</strong>s temores da vida, da morte, do além-túmulo e <strong>de</strong> Deus, fazendo com que ele<br />

viva sem medo.<br />

Epicuro recorre à física atomista mecanicista, pela qual também os <strong>de</strong>uses vêm a ser compostos <strong>de</strong><br />

átomos e habitam felizes o intermúndio, <strong>de</strong>sinteressados por completo dos homens. Assim também a<br />

alma, formada <strong>de</strong> átomos sutis, mas sempre materiais, perece com o corpo, razão por que não <strong>de</strong>vemos<br />

ter nenhuma preocupação com a morte, nem com o além-túmulo.<br />

O epicurista acredita que a necessida<strong>de</strong> universal oprime o homem ainda mais do que o arbítrio<br />

divino. Sendo rigorosamente sensista, afirma que todo o nosso conhecimento <strong>de</strong>riva da sensação que nos<br />

dá o ser material que constitui a realida<strong>de</strong> originária. O processo cognoscitivo da sensação é explicado<br />

mediante os chamados fantasmas, que seriam imagens em miniatura das coisas e, assim chegariam até a<br />

alma imediatamente ou mediatamente através dos sentidos.<br />

Em vista <strong>de</strong>ssa gnosiologia sensista, é natural que o critério fundamental e único da verda<strong>de</strong> no campo<br />

teórico seja a sensação — a percepção sensível imediata, intuitiva e evi<strong>de</strong>nte. Da mesma forma o<br />

sentimento, tanto <strong>de</strong> prazer como <strong>de</strong> dor, será o critério supremo do valor no campo prático.<br />

Pelo fato <strong>de</strong> a gnosiologia epicurista ser rigorosamente sensista, a metafísica epicurista é<br />

rigorosamente materialista. Epicuro, seguindo as pegadas <strong>de</strong> Demócrito, ensina que os últimos elementos<br />

constitutivos da realida<strong>de</strong> são os átomos, que são corpúsculos inúmeros, eternos, imutáveis e invisíveis,<br />

homogêneos, indivisíveis, iguais qualitativamente e diversos quantitativamente no tamanho, na figura e no<br />

peso.<br />

Para Epicuro, a serenida<strong>de</strong> do sábio não <strong>de</strong>ve ser perturbada pelo medo da morte, pois todo o mal e<br />

todo o bem se acham na sensação, e a morte é ausência <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> sofrimento. Dentro <strong>de</strong>sse<br />

critério, nunca nos encontraremos com a morte, porque quando nós somos, ela não o é; e quando ela é,<br />

nós já não somos mais. Epicuro não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o suicídio, que po<strong>de</strong>ria justificar com maior razão do que os<br />

estóicos. Dado este conceito da vida como liberda<strong>de</strong>, paz e contemplação, ele é hostil ao matrimônio e à<br />

família, à ativida<strong>de</strong> pública e à política. No seu enten<strong>de</strong>r, a família e a pátria são causas <strong>de</strong> agitações, por<br />

isso inimigos da autarquia.<br />

Em seu materialismo teórico e em seu ateísmo prático, Epicuro admite a divinda<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

um modo diverso do imanentismo estóico. Ele justifica a divinda<strong>de</strong>, acredita no amor <strong>de</strong> Deus, dos<br />

ascetas e dos místicos.

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