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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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A FILOSOFIA LINGÜÍSTICA<br />

O teólogo Paul Van Buren, <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong>ssa linha teológica, observa o homem mo<strong>de</strong>rno através da<br />

pesquisa lingüística e do princípio da verificação. Sua análise é mais <strong>de</strong> conceitos que <strong>de</strong> palavras, e<br />

constitui um estudo crítico e rigoroso do significado textual.<br />

Buren busca uma forma <strong>de</strong> cristianismo e ética na qual o cristão precisa fazer seus juízos <strong>de</strong> valor<br />

conforme os critérios empíricos do mundo mo<strong>de</strong>rno, consi<strong>de</strong>rando sem significado os conceitos<br />

transcen<strong>de</strong>ntes e transempíricos do Evangelho, e <strong>de</strong>sprezando as formulações bíblicas como<br />

ininteligíveis à luz do pensamento mo<strong>de</strong>rno.<br />

Essa análise funcional que Buren faz da linguagem do Novo Testamento transforma o Cristianismo em<br />

algo empírico e secular, e <strong>de</strong>spreza o verda<strong>de</strong>iro Evangelho por consi<strong>de</strong>rá-lo ofensivo à mentalida<strong>de</strong><br />

contemporânea.<br />

Os conceitos que Van Buren emite acerca <strong>de</strong> Deus estão coerentes com o movimento da morte <strong>de</strong> Deus:<br />

Todas as expressões que falam <strong>de</strong> Deus como um ser pessoal e transcen<strong>de</strong>nte precisam ser extirpadas<br />

por falta <strong>de</strong> significado para o homem mo<strong>de</strong>rno.<br />

É impossível para o homem atual acreditar na entida<strong>de</strong> “absurda” que se chama Deus.<br />

No centro histórico <strong>de</strong> qualquer teologia está Cristo, cuja singularida<strong>de</strong> jaz em sua extraordinária<br />

liberda<strong>de</strong> e disponibilida<strong>de</strong> para os outros.<br />

A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, por ser <strong>de</strong> alguma maneira contagiante, permite aos <strong>de</strong>mais homens<br />

participarem <strong>de</strong>la.<br />

No difícil processo adotado por Van Buren <strong>de</strong> verificação do Cristianismo, as doutrinas basilares<br />

per<strong>de</strong>m totalmente seu sentido. Com respeito à natureza <strong>de</strong> muitas <strong>de</strong>clarações bíblicas, ele escreve:<br />

Afirmações <strong>de</strong> conteúdo-sentido não se po<strong>de</strong>m verificar por meios empíricos ou <strong>de</strong> senso comum. Isto<br />

é, não po<strong>de</strong>m ser verificadas por uma experiência-sentido compartilhada, visto que elas não dizem o que<br />

todos nós po<strong>de</strong>mos ver, mas somente o que eu vi. Nem po<strong>de</strong>m ser verificadas em relação a dados<br />

empíricos que estão ao dispor <strong>de</strong> todos os investigadores competentes que os queiram examinar, porque<br />

mais uma vez, uma afirmação <strong>de</strong> conteúdo-sentido refere-se ao que eu vi, não ao que está “lá para todos<br />

verem”.<br />

Só eu posso registrar o que estava no espelho do meu pensamento. Mas isto é só para dizer que<br />

afirmações <strong>de</strong> conteúdo-sentido não são asserções empíricas, e não se po<strong>de</strong> afirmar mais nada contra<br />

elas. O pro cesso <strong>de</strong> verificar uma afirmação <strong>de</strong> conteúdo-sentido é ver se as palavras e as ações da<br />

pessoa que faz a afirmação se coadunam com ela.<br />

Dentro <strong>de</strong>sta linha <strong>de</strong> interpretação do texto bíblico, Van Buren conclui que:<br />

A páscoa e a ressurreição, por <strong>de</strong>safiarem a discussão empírica, não <strong>de</strong>veriam ser chamadas <strong>de</strong> “fato”.<br />

A afirmação <strong>de</strong> que Jesus é o Filho <strong>de</strong> Deus significa o anúncio da intenção <strong>de</strong> viver como ele viveu.<br />

O mesmo que aconteceu aos discípulos <strong>de</strong> Cristo, que se sentiram participantes da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>le<br />

mediante a pregação apostólica, po<strong>de</strong>ria, da mesma forma, ter acontecido aos discípulos <strong>de</strong> Sócrates!<br />

A palavra pecado quer dizer alienação; liberda<strong>de</strong> é estar livre para o próximo; santificação é amor<br />

pelo próximo.<br />

A palavra Deus, afirma Van Buren, precisa ser eliminada, uma vez que não sabemos o que ela

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