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A FILOSOFIA LINGÜÍSTICA<br />
O teólogo Paul Van Buren, <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong>ssa linha teológica, observa o homem mo<strong>de</strong>rno através da<br />
pesquisa lingüística e do princípio da verificação. Sua análise é mais <strong>de</strong> conceitos que <strong>de</strong> palavras, e<br />
constitui um estudo crítico e rigoroso do significado textual.<br />
Buren busca uma forma <strong>de</strong> cristianismo e ética na qual o cristão precisa fazer seus juízos <strong>de</strong> valor<br />
conforme os critérios empíricos do mundo mo<strong>de</strong>rno, consi<strong>de</strong>rando sem significado os conceitos<br />
transcen<strong>de</strong>ntes e transempíricos do Evangelho, e <strong>de</strong>sprezando as formulações bíblicas como<br />
ininteligíveis à luz do pensamento mo<strong>de</strong>rno.<br />
Essa análise funcional que Buren faz da linguagem do Novo Testamento transforma o Cristianismo em<br />
algo empírico e secular, e <strong>de</strong>spreza o verda<strong>de</strong>iro Evangelho por consi<strong>de</strong>rá-lo ofensivo à mentalida<strong>de</strong><br />
contemporânea.<br />
Os conceitos que Van Buren emite acerca <strong>de</strong> Deus estão coerentes com o movimento da morte <strong>de</strong> Deus:<br />
Todas as expressões que falam <strong>de</strong> Deus como um ser pessoal e transcen<strong>de</strong>nte precisam ser extirpadas<br />
por falta <strong>de</strong> significado para o homem mo<strong>de</strong>rno.<br />
É impossível para o homem atual acreditar na entida<strong>de</strong> “absurda” que se chama Deus.<br />
No centro histórico <strong>de</strong> qualquer teologia está Cristo, cuja singularida<strong>de</strong> jaz em sua extraordinária<br />
liberda<strong>de</strong> e disponibilida<strong>de</strong> para os outros.<br />
A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, por ser <strong>de</strong> alguma maneira contagiante, permite aos <strong>de</strong>mais homens<br />
participarem <strong>de</strong>la.<br />
No difícil processo adotado por Van Buren <strong>de</strong> verificação do Cristianismo, as doutrinas basilares<br />
per<strong>de</strong>m totalmente seu sentido. Com respeito à natureza <strong>de</strong> muitas <strong>de</strong>clarações bíblicas, ele escreve:<br />
Afirmações <strong>de</strong> conteúdo-sentido não se po<strong>de</strong>m verificar por meios empíricos ou <strong>de</strong> senso comum. Isto<br />
é, não po<strong>de</strong>m ser verificadas por uma experiência-sentido compartilhada, visto que elas não dizem o que<br />
todos nós po<strong>de</strong>mos ver, mas somente o que eu vi. Nem po<strong>de</strong>m ser verificadas em relação a dados<br />
empíricos que estão ao dispor <strong>de</strong> todos os investigadores competentes que os queiram examinar, porque<br />
mais uma vez, uma afirmação <strong>de</strong> conteúdo-sentido refere-se ao que eu vi, não ao que está “lá para todos<br />
verem”.<br />
Só eu posso registrar o que estava no espelho do meu pensamento. Mas isto é só para dizer que<br />
afirmações <strong>de</strong> conteúdo-sentido não são asserções empíricas, e não se po<strong>de</strong> afirmar mais nada contra<br />
elas. O pro cesso <strong>de</strong> verificar uma afirmação <strong>de</strong> conteúdo-sentido é ver se as palavras e as ações da<br />
pessoa que faz a afirmação se coadunam com ela.<br />
Dentro <strong>de</strong>sta linha <strong>de</strong> interpretação do texto bíblico, Van Buren conclui que:<br />
A páscoa e a ressurreição, por <strong>de</strong>safiarem a discussão empírica, não <strong>de</strong>veriam ser chamadas <strong>de</strong> “fato”.<br />
A afirmação <strong>de</strong> que Jesus é o Filho <strong>de</strong> Deus significa o anúncio da intenção <strong>de</strong> viver como ele viveu.<br />
O mesmo que aconteceu aos discípulos <strong>de</strong> Cristo, que se sentiram participantes da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>le<br />
mediante a pregação apostólica, po<strong>de</strong>ria, da mesma forma, ter acontecido aos discípulos <strong>de</strong> Sócrates!<br />
A palavra pecado quer dizer alienação; liberda<strong>de</strong> é estar livre para o próximo; santificação é amor<br />
pelo próximo.<br />
A palavra Deus, afirma Van Buren, precisa ser eliminada, uma vez que não sabemos o que ela