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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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O VALOR DA LIBERDADE<br />

Inicio este capítulo citando palavras <strong>de</strong> Franklin Delano Roosevelt, proferidas durante um discurso no<br />

Congresso dos Estados Unidos da América, em 1941: “Esperamos um mundo fundado sobre as quatro<br />

liberda<strong>de</strong>s humanas essenciais. A primeira é a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> palavra e <strong>de</strong> expressão — por toda a parte<br />

no mundo. A segunda é a liberda<strong>de</strong> da pessoa <strong>de</strong> reverenciar Deus à sua maneira — por toda a parte no<br />

mundo. A terceira é a <strong>de</strong> ficar livre da necessida<strong>de</strong> — por toda a parte no mundo. A quarta é a <strong>de</strong> ficar<br />

livre do medo — por toda a parte no mundo”.<br />

Se é verda<strong>de</strong>, como disse Voltaire, que “se o homem nasceu livre <strong>de</strong>ve governar-se, e se ele tem<br />

tiranos há <strong>de</strong> <strong>de</strong>stroná-los”, é também verda<strong>de</strong>, como afirmou Rousseau, que “o homem nasceu livre e por<br />

toda a parte vive acorrentado”. 133<br />

É claro que tanto o presi<strong>de</strong>nte Roosevelt como os filósofos franceses acima referidos falaram da<br />

liberda<strong>de</strong> no plano secular, que abrange as áreas política, social, econômica e religiosa. Essa liberda<strong>de</strong><br />

oferece <strong>de</strong> fato ambiente favorável a todos os homens, permitindo-lhes expressar os seus pensamentos,<br />

planejar o seu futuro, trabalhar mediante justa remuneração, casar e criar os seus filhos, alcançar os seus<br />

sonhos conforme os talentos, habilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> cada um. Essa liberda<strong>de</strong>, mesmo no plano secular,<br />

é tão preciosa que por ela inúmeras pessoas <strong>de</strong>ram a vida. “Dez vidas eu tivesse, <strong>de</strong>z vidas eu daria”,<br />

disse Tira<strong>de</strong>ntes, o mártir da in<strong>de</strong>pendência do Brasil, pouco antes <strong>de</strong> ser enforcado e esquartejado no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro pelas autorida<strong>de</strong>s portuguesas. O slogan do Estado <strong>de</strong> New Hampshire, nos EUA, é:<br />

“Viva livre ou morra”. Realmente, sem liberda<strong>de</strong> a vida não vale a pena ser vivida.<br />

A liberda<strong>de</strong>, contudo, nunca será libertinagem, nunca será licença nem anarquia. Por isso <strong>de</strong>ve ser<br />

rigorosamente limitada ou controlada pela lei a fim <strong>de</strong> evitar possíveis abusos e injustiças. Concordo<br />

com Milton, o poeta inglês, que disse que “ninguém po<strong>de</strong> amar a liberda<strong>de</strong> sinceramente, senão pessoas<br />

boas; as <strong>de</strong>mais amam não a liberda<strong>de</strong>, mas a licenciosida<strong>de</strong>”.<br />

No meio <strong>de</strong> um povo corrupto, a liberda<strong>de</strong> não tem vida longa, mas essa mesma liberda<strong>de</strong>, “quando<br />

começa a criar raízes, é uma planta <strong>de</strong> crescimento rápido”, disse George Washington. “Quem quer<br />

garantir a própria liberda<strong>de</strong>”, disse Thomas Paine, “<strong>de</strong>ve preservar da opressão o próprio inimigo; pois,<br />

se fugir a esse <strong>de</strong>ver, estará estabelecendo um prece<strong>de</strong>nte que até a ele próprio há <strong>de</strong> atingir”. Muitos<br />

pensadores concordam em que é mais difícil preservar a liberda<strong>de</strong> do que obtê-la.<br />

Tratando da liberda<strong>de</strong> com relação à Pátria, Rui Barbosa, um dos maiores juristas do Brasil, afirmou:<br />

“Das idolatrias conhecidas na história da cegueira popular, nenhuma é menos sensata que a das formas <strong>de</strong><br />

governo. Acima <strong>de</strong>stas está a felicida<strong>de</strong> da pátria. Mas acima da pátria há ainda alguma coisa: a<br />

liberda<strong>de</strong>; porque a liberda<strong>de</strong> é a condição da pátria, é a consciência, é o homem, é o princípio divino do<br />

nosso existir, é o único bem, cujo sacrifício a pátria não nos po<strong>de</strong> reclamar, senão <strong>de</strong>liberada ao suicídio,<br />

com que o amor da pátria não nos permitiria con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>r”.<br />

A liberda<strong>de</strong> não acompanha automaticamente o nosso nascimento, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do país em que<br />

nascemos, mas <strong>de</strong>vemos procurá-la, alcançá-la e mantê-la com gran<strong>de</strong> sacrifício. Alguns povos<br />

tristemente “libertados” só perceberam o valor da liberda<strong>de</strong> quando a per<strong>de</strong>ram por completo.<br />

Partindo da premissa da teologia da libertação <strong>de</strong> que as populações opressas <strong>de</strong>vem ser libertas, isto<br />

é, <strong>de</strong>vem ser trazidas à liberda<strong>de</strong>, como será essa liberda<strong>de</strong>? Seria aquela liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida por<br />

Roosevelt e Rui Barbosa? pelo Evangelho <strong>de</strong> Cristo? por Marx, Engels e Lenin?

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