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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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MÍSTICA E TOMÍSTICA<br />

A partir do século segundo da era cristã, quando ainda o cânon do Novo Testamento não estava<br />

<strong>de</strong>finido, a filosofia grega ameaçou toda a estrutura do Cristianismo, tentando helenizar as doutrinas<br />

apostólicas, ou seja, contextualizá-las à luz da cultura grega.<br />

A controvérsia tornou-se mais acentuada em relação à divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo e ao valor do Antigo<br />

Testamento nas igrejas. Contra essa tentativa reagem Justino, Irineu, Clemente, Orígenes, Atanásio,<br />

Cirilo, Basílio e outros, <strong>de</strong>finindo, por meio <strong>de</strong> concílios, os dogmas da Trinda<strong>de</strong> e da Encarnação.<br />

Na Ida<strong>de</strong> Média, embora as luzes da cultura grega per<strong>de</strong>ssem a sua intensida<strong>de</strong> no Oci<strong>de</strong>nte, o<br />

catolicismo romano inclinou-se, todavia, para o outro extremo, aceitando <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> doutrinas<br />

antibíblicas, por causa da influência da sua nebulosa tradição patrística.<br />

Entre os séculos VI e XII, floresce a tal ponto no Oriente a teologia mística, influenciada pela cultura<br />

grega, que os místicos chegaram a consi<strong>de</strong>rar-se “noivas” do Re<strong>de</strong>ntor e a usar mesmo uma linguagem<br />

erótica. Entre estes estão os oci<strong>de</strong>ntais Bernardo <strong>de</strong> Clairvaux e os místicos S. P. Victor. São Boaventura<br />

chegou a i<strong>de</strong>ntificar sua vida com a paixão <strong>de</strong> Jesus.<br />

Existindo também no islamismo, no judaísmo e em todas as religiões não cristãs, a mística é muito<br />

mais rica no cristianismo do Oriente, herança <strong>de</strong> Bizâncio, on<strong>de</strong> Gregório Palamas (1296-1359)<br />

revivifou, no século IV, sua teoria e prática. De Bizâncio (mais tar<strong>de</strong> Constantinopla e atualmente<br />

Istambul) a mística atingiu a Rússia, conseguindo ali seus a<strong>de</strong>ptos, os staretz, entre os quais o monge<br />

Serafim <strong>de</strong> Sarov (1759-1833). Dostoievski, nos seus romances, fala <strong>de</strong>sses religiosos.<br />

Enquanto a cristanda<strong>de</strong> oficial paganizava-se cada vez mais, grupos dissi<strong>de</strong>ntes, mesmo limitados<br />

pelas cruéis perseguições e dispondo, muitas vezes, <strong>de</strong> apenas fragmentos das Escrituras, procuravam ser<br />

fiéis às doutrinas dos apóstolos, praticando, assim, o que se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> teologia bíblica. Alguns<br />

<strong>de</strong>sses grupos foram os donatistas, os paterinos, os paulicianos, os cátaros, os anabatistas, os<br />

petrobusianos, os arnoldistas, os henricianos, os albingenses e val<strong>de</strong>nses.<br />

A patrística, que compreen<strong>de</strong> os escritos dos pais da Igreja do período subapostólico, foi consi<strong>de</strong>rada<br />

a filosofia dos cristãos até 312 d.C., época em que Constantino passou a favorecer o Cristianismo. Em<br />

sua luta contra o paganismo, os cristãos se ultilizaram da filosofia grega, particularmente do platonismo,<br />

na <strong>de</strong>fesa dos dogmas cristãos. Tratava-se <strong>de</strong> uma patrística apologética.<br />

Com Tomás <strong>de</strong> Aquino, no século XII, ressurge a teologia especulativa, mas com outras vestes. Esse<br />

famoso doutor do catolicismo procurou explicar racionalmente os dogmas cristãos, e acabou invertendo o<br />

princípio bíblico <strong>de</strong> que “pela fé enten<strong>de</strong>mos”, ao afirmar que o conhecimento conduz à fé. É o pai não<br />

apenas da teologia tomística, mas também da filosofia tomística, como já vimos.

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