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Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

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O REINO DE DEUS<br />

Sobressai nos evangelhos a ênfase que Jesus Cristo <strong>de</strong>u ao Reino <strong>de</strong> Deus, ao qual Ele se referiu nada<br />

menos que 70 vezes, enquanto apenas duas vezes à Igreja. Por isso o Evangelho é também conhecido<br />

como o Evangelho do Reino, presente em quase todas as parábolas contadas pelo Salvador. Esse Reino<br />

<strong>de</strong> Deus, já inaugurado por Jesus há dois milênios, ainda não está consumado, mas continua avançando.<br />

Esse mundo vindouro, em certo sentido, já chegou, pois temos provado o seu po<strong>de</strong>r presente na Igreja.<br />

Embora sejamos filhos <strong>de</strong> Deus e não mais escravos do pecado, ainda não entramos na plena<br />

“liberda<strong>de</strong> da glória dos filhos <strong>de</strong> Deus” (Rm 8.21), pois o velho mundo, ou antiga era, ainda não passou<br />

completamente. O cristão precisa manter o equilíbrio entre o já e o ainda não. “A ênfase exagerada no<br />

“já” conduz ao triunfalismo, a reivindicação <strong>de</strong> perfeição — moral (falta <strong>de</strong> pecado) ou física (saú<strong>de</strong><br />

completa) — que pertence somente ao reino consumado, o “ainda não”. A ênfase exagerada no “ainda<br />

não” leva ao <strong>de</strong>rrotismo, uma aquiescência à continuação do mal incompatível com o “já” da vitória <strong>de</strong><br />

Cristo. 113<br />

Os teólogos da libertação, entretanto, não crêem assim. Leonardo Boff, num dos seus livros mais<br />

vendidos no Brasil (tenho em mãos a décimaprimeira edição), afirma que a “nova e <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />

manifestação <strong>de</strong> Cristo não <strong>de</strong>ve ser representada como algo que vem <strong>de</strong> fora, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma catástrofe<br />

cósmica. Mas como um irromper daquilo que já estava presente e atuante no mundo. A vinda <strong>de</strong> Cristo<br />

(parusia) constitui realmente uma epifania (aparição, manifestação), isto é, a emergência da sua presença<br />

atuante neste mundo mas invisível (cf. 1 Jo 3.2). O fim do mundo se dará quando se manifestar a completa<br />

e transparente visibilização da ação <strong>de</strong> Cristo <strong>de</strong>ntro do mundo humano e cósmico. Quando isso se <strong>de</strong>r,<br />

então terá acabado também a função unitiva e re<strong>de</strong>ntora do Cristo cósmico: et tunc erit finis, o mundo<br />

implodirá e explodirá para <strong>de</strong>ntro da sua verda<strong>de</strong>ira meta”. 114<br />

O mesmo autor diz, mais adiante, que “os textos apocalípticos do Novo Testamento, nos Sinóticos e no<br />

Apocalipse <strong>de</strong> João, não visam fazer uma reportagem antecipada dos últimos dias do mundo”. 115<br />

À luz <strong>de</strong>sses pensamentos liberacionistas, como <strong>de</strong>vemos compreen<strong>de</strong>r as claras palavras dos dois<br />

varões vestidos <strong>de</strong> branco aos discípulos, quando estes assistiam à ascensão do seu Mestre e Senhor:<br />

“Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que <strong>de</strong>ntre vós foi assunto ao céu,<br />

assim virá do modo como o vistes subir” (At 1.11)?<br />

Há, na Bíblia, seis pontos salientes acerca do reino <strong>de</strong> Deus para os quais <strong>de</strong>vemos atentar:<br />

1. O reino <strong>de</strong> Deus é <strong>de</strong> fato o reinado <strong>de</strong> Deus e não do homem.<br />

2. Trata-se <strong>de</strong> um reino espiritual, pois o reto e soberano Deus reina sobre aqueles que são redimidos<br />

e que aceitam viver em obediência à vonta<strong>de</strong> dEle. Por isso Jesus disse que o seu reino não era <strong>de</strong>ste<br />

mundo (Jo 18.36).<br />

3. O reino é invisível. Jesus disse: “Não vem o reino <strong>de</strong> Deus com visível aparência” (Lc 17.20).<br />

4. O reino está no coração do homem. É o gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus ativo no coração humano.<br />

5. O reino é individual e social. Esse reino não po<strong>de</strong> vir ao mundo a não ser através do indivíduo, pois<br />

somente quando as pessoas aceitam o reino <strong>de</strong> maneira pessoal é a socieda<strong>de</strong> aos poucos transformada<br />

para melhor, sem, contudo, tornar-se o reino <strong>de</strong> Deus, pois esse reino não po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificado com o<br />

progresso social.<br />

6. Finalmente, o reino é ainda futuro no sentido <strong>de</strong> estarem todas as coisas sujeitas ao domínio<br />

soberano <strong>de</strong> Deus. O próprio Jesus, <strong>de</strong>pois do seu reino milenial, entregará o reino ao Pai: “Quando,<br />

porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas [a Jesus], então o próprio Filho também se sujeitará àquele<br />

que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos” (1 Co 15.24-28).<br />

À luz do ensino claro da Bíblia Sagrada, a Igreja, e somente esta, constitui hoje o reino <strong>de</strong> Deus na

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