07.11.2017 Views

Teologia Contemporanea - Abraao de Almeida

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

QUEM É O POBRE?<br />

“Os pobres evangelicamente são aqueles que se põem à disposição <strong>de</strong> Deus na realização dos projetos<br />

<strong>de</strong>le neste mundo, e portanto tornam-se instrumentos e sinais do reino divino. A teologia da libertação<br />

gostaria <strong>de</strong> ver a todos os cristãos, incluindo os sócio-economicamente pobres, e pobres<br />

evangelisticamente. O objetivo é aplicar a dimensão libertadora da fé para que os frutos do reino <strong>de</strong><br />

Deus possam ser fruídos <strong>de</strong>ntro da história. Esses frutos são, principalmente, agra<strong>de</strong>cimento ao Pai,<br />

aceitação da adoção divina, vida e justiça para todos, e comunhão universal”. 123<br />

A VERDADEIRA JUSTIÇA SOCIAL SOMENTE PODERÁ SER PROMOVIDA PELA<br />

TRANSFORMAÇÃO ESPIRITUAL DO SER HUMANO NO AMBIENTE DE UMA<br />

SOCIEDADE LIVRE.<br />

Gutierrez, ao <strong>de</strong>finir os pobres como “os portadores do sentido da história”, 124 i<strong>de</strong>ntifica-os com o<br />

proletariado <strong>de</strong> Marx. Seria essa uma <strong>de</strong>finição bíblica <strong>de</strong> “pobre”? Po<strong>de</strong>mos substituir, na Bíblia,<br />

“pobre” por “proletário”? De acordo com o profeta Jeremias, pobre é o aflito e o necessitado (Jr 22.16).<br />

Herman Ri<strong>de</strong>rbos, interpreta “pobres” no sentido <strong>de</strong> “pobres <strong>de</strong> espírito”, seguindo uma exegese que o<br />

próprio Gutierrez em certo sentido <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> como o “po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> acolher a Deus, uma disponibilida<strong>de</strong> para<br />

Deus, uma humilda<strong>de</strong> diante <strong>de</strong> Deus”.<br />

O teólogo europeu G. D. Gort, por sua vez, enfatiza a necessida<strong>de</strong> e o direito que também o rico tem <strong>de</strong><br />

ser salvo e conseqüentemente <strong>de</strong> ser liberto da sua pobreza sociológica. Ao assumir essa posição, ele<br />

discorda, assim, do conceito exclusivista do Evangelho aceito pelos liberacionistas latino-americanos, e<br />

questiona uma das proposições doutorais do Dr. Costas na Universida<strong>de</strong> Livre <strong>de</strong> Amsterdã, na qual se<br />

afirma que o Evangelho está dirigido particularmente aos pobres.<br />

O Dr. Orlando Costas, ao discordar tanto do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Ri<strong>de</strong>rbos e Gort quanto do sentido<br />

radical marxista que alguns grupos <strong>de</strong> cristãos dão ao termo “libertação”, faz <strong>de</strong>sse termo uma<br />

reinterpretação à luz da Bíblia e das injustiças sociais reinantes nos países pobres. A conclusão do Dr.<br />

Costas é a <strong>de</strong> que a igreja possui missão integral tríplice: proclamar as boas novas, fazer discípulos e<br />

comprometer-se no processo <strong>de</strong> libertação social, econômica e política dos povos oprimidos.<br />

Depois <strong>de</strong> salientar que a ênfase à evangelização dos pobres não tem nada <strong>de</strong> glorificação da pobreza,<br />

Costas diz que a Bíblia, longe <strong>de</strong> glorificar a pobreza, con<strong>de</strong>na-a como algo escandaloso e exige justiça<br />

para com o pobre, e que, precisamente por esta razão, Deus se i<strong>de</strong>ntifica com o pobre.<br />

“Por isso”, afirma Costas, “Jesus optou por uma vida <strong>de</strong> pobreza e por isso Paulo associa a pregação<br />

da cruz com o humil<strong>de</strong> e ignorante (1 Co 1.18). O Evangelho é um protesto contra o escândalo da pobreza<br />

e um chamado a erradicá-la da vida humana. Os que respon<strong>de</strong>m à sua mensagem <strong>de</strong>vem renunciar a todo<br />

tipo <strong>de</strong> manipulação e opressão e consagrarse ao bem comum. Devem submeter-se totalmente a Deus, que<br />

em Cristo Jesus prometeu libertar o mundo da opressão. E a opressão (conseqüência óbvia do pecado) é<br />

uma causa fundamental da pobreza”. 125<br />

Jesus mostrou que a pobreza não é uma coisa ruim, pecaminosa ou vergonhosa em si mesma. Temos<br />

aqui outro erro fundamental da teologia da libertação, que parte da premissa <strong>de</strong> que só existem ricos e<br />

pobres, e <strong>de</strong> que os ricos são sempre maus e os pobres sempre bons. Esse dualismo, pelo fato <strong>de</strong><br />

polarizar toda a humanida<strong>de</strong> em apenas duas classes, não dignifica a raça humana e nem honra a Escritura<br />

Sagrada, que parte <strong>de</strong> princípios muito diferentes. A análise liberacionista não se baseia em nenhum<br />

critério objetivo, racional ou comprovado, e muito menos bíblico.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!