13.04.2013 Views

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

transformações aconteceram a partir <strong>de</strong>ssa imagem que, na percepção <strong>de</strong> Jaguar, foi<br />

uma brinca<strong>de</strong>ira, apesar da evi<strong>de</strong>nte provocação ao reproduzir e caçoar da pintura que<br />

tem um caráter patriótico.<br />

105<br />

Voltando à questão da análise, é possível analisar, na imagem <strong>de</strong> Jaguar, que ele<br />

manteve os mesmos traços criados pelo pintor Pedro Américo. A charge usa bastante <strong>de</strong><br />

traços grossos e com sombra ao ilustrar a cavalaria <strong>de</strong> Dom Pedro I, dividida entre<br />

cavalos <strong>de</strong> pelagem clara e escura. O balão inserido na imagem, que foi a peça chave,<br />

que honrou o tradicional humor pasquiniano, no qual Jaguar inseriu uma frase <strong>de</strong> fala<br />

em Dom Pedro I: Eu quero mocotó!! A canção que leva o nome <strong>de</strong> Também quero<br />

mocotó, estava em alta na época, fazendo gran<strong>de</strong> sucesso e <strong>de</strong>slanchando a carreira do<br />

cantor Jorge BenJor. A letra da música, porém foi produzida pelo maestro e compositor<br />

Erlon Chaves. A mensagem foi inserida no balão justamente para quebrar protocolos,<br />

ou seja, zombar do patriotismo exagerado que os a<strong>nos</strong> 70 apresentavam.<br />

A palavra mocotó <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma gíria do final do ano <strong>de</strong> <strong>1969</strong>. Devido à moda,<br />

as pernas femininas ganharam <strong>de</strong>staque e as saias das mulheres começaram a ficar mais<br />

curtas, bem acima dos joelhos. Enquanto a minissaia fazia sucesso, o joelho feminino<br />

ganhava um apelido: mocotó. Ou seja, mais uma vez encontramos o duplo sentido <strong>nos</strong><br />

balões das charges <strong>de</strong> O <strong>Pasquim</strong>. No caso da charge C, um único balão <strong>de</strong> fala foi<br />

suficiente para produzir o efeito que os jornalistas buscavam ao ironizar o nacionalismo<br />

exacerbado da época, fazendo um <strong>de</strong>boche com o famoso Dom Pedro I.<br />

Os efeitos <strong>de</strong> sentido que uma charge como esta po<strong>de</strong> surtir, vão <strong>de</strong> uma simples<br />

brinca<strong>de</strong>ira à uma po<strong>de</strong>rosa crítica, como foi o caso, no qual a charge <strong>de</strong> Jaguar ren<strong>de</strong>u à<br />

prisão dos jornalistas e cartunistas do tabloi<strong>de</strong> por dois meses.<br />

Na charge, os <strong>de</strong>talhes são eliminados e as pessoas são i<strong>de</strong>ntificadas apenas por<br />

sua estética óbvia, ou seja, ao vê-la, sabemos quem é o ser humano, quem é o cavalo e<br />

assim por diante. O traço escuro se manifesta na charge, aumentando a dinâmica da<br />

imagem, ou seja, a sua veracida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando-a mais marcada e <strong>de</strong>stacada. O tom<br />

carregado dos elementos os coloca num plano mais próximo do leitor. A imagem<br />

também possui movimento. Ao pôr os olhos na charge, po<strong>de</strong>mos perceber que ela<br />

<strong>de</strong>screve uma cena e realmente a imaginamos em movimento, os cavaleiros e suas<br />

espadas, os cavalos se movimentando, ou seja, a revolução realmente acontecendo.<br />

O espaço da composição é fechado pelos contor<strong>nos</strong> da própria charge, ou seja,<br />

realmente facilita o entendimento do leitor, o aproximando da cena. A cena, constituída<br />

principalmente <strong>de</strong> um primeiro plano, faz com que o leitor tenha a impressão que a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!