O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
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transformações aconteceram a partir <strong>de</strong>ssa imagem que, na percepção <strong>de</strong> Jaguar, foi<br />
uma brinca<strong>de</strong>ira, apesar da evi<strong>de</strong>nte provocação ao reproduzir e caçoar da pintura que<br />
tem um caráter patriótico.<br />
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Voltando à questão da análise, é possível analisar, na imagem <strong>de</strong> Jaguar, que ele<br />
manteve os mesmos traços criados pelo pintor Pedro Américo. A charge usa bastante <strong>de</strong><br />
traços grossos e com sombra ao ilustrar a cavalaria <strong>de</strong> Dom Pedro I, dividida entre<br />
cavalos <strong>de</strong> pelagem clara e escura. O balão inserido na imagem, que foi a peça chave,<br />
que honrou o tradicional humor pasquiniano, no qual Jaguar inseriu uma frase <strong>de</strong> fala<br />
em Dom Pedro I: Eu quero mocotó!! A canção que leva o nome <strong>de</strong> Também quero<br />
mocotó, estava em alta na época, fazendo gran<strong>de</strong> sucesso e <strong>de</strong>slanchando a carreira do<br />
cantor Jorge BenJor. A letra da música, porém foi produzida pelo maestro e compositor<br />
Erlon Chaves. A mensagem foi inserida no balão justamente para quebrar protocolos,<br />
ou seja, zombar do patriotismo exagerado que os a<strong>nos</strong> 70 apresentavam.<br />
A palavra mocotó <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma gíria do final do ano <strong>de</strong> <strong>1969</strong>. Devido à moda,<br />
as pernas femininas ganharam <strong>de</strong>staque e as saias das mulheres começaram a ficar mais<br />
curtas, bem acima dos joelhos. Enquanto a minissaia fazia sucesso, o joelho feminino<br />
ganhava um apelido: mocotó. Ou seja, mais uma vez encontramos o duplo sentido <strong>nos</strong><br />
balões das charges <strong>de</strong> O <strong>Pasquim</strong>. No caso da charge C, um único balão <strong>de</strong> fala foi<br />
suficiente para produzir o efeito que os jornalistas buscavam ao ironizar o nacionalismo<br />
exacerbado da época, fazendo um <strong>de</strong>boche com o famoso Dom Pedro I.<br />
Os efeitos <strong>de</strong> sentido que uma charge como esta po<strong>de</strong> surtir, vão <strong>de</strong> uma simples<br />
brinca<strong>de</strong>ira à uma po<strong>de</strong>rosa crítica, como foi o caso, no qual a charge <strong>de</strong> Jaguar ren<strong>de</strong>u à<br />
prisão dos jornalistas e cartunistas do tabloi<strong>de</strong> por dois meses.<br />
Na charge, os <strong>de</strong>talhes são eliminados e as pessoas são i<strong>de</strong>ntificadas apenas por<br />
sua estética óbvia, ou seja, ao vê-la, sabemos quem é o ser humano, quem é o cavalo e<br />
assim por diante. O traço escuro se manifesta na charge, aumentando a dinâmica da<br />
imagem, ou seja, a sua veracida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando-a mais marcada e <strong>de</strong>stacada. O tom<br />
carregado dos elementos os coloca num plano mais próximo do leitor. A imagem<br />
também possui movimento. Ao pôr os olhos na charge, po<strong>de</strong>mos perceber que ela<br />
<strong>de</strong>screve uma cena e realmente a imaginamos em movimento, os cavaleiros e suas<br />
espadas, os cavalos se movimentando, ou seja, a revolução realmente acontecendo.<br />
O espaço da composição é fechado pelos contor<strong>nos</strong> da própria charge, ou seja,<br />
realmente facilita o entendimento do leitor, o aproximando da cena. A cena, constituída<br />
principalmente <strong>de</strong> um primeiro plano, faz com que o leitor tenha a impressão que a