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O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

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censura, os responsáveis respon<strong>de</strong>ndo, naturalmente, diante da lei, pelos<br />

<strong>de</strong>smandos que cometerem - já vinha sendo exercida <strong>de</strong> maneira sufocante.<br />

Jornais pobres, como este, resistiam <strong>de</strong>bilmente, gastando 20 horas para<br />

refazer um trabalho anteriormente feito em 10 e tendo o dobro e, às vezes, o<br />

triplo <strong>de</strong> gastos para a confecção do material <strong>de</strong> suas folhas. Coincidindo com<br />

o número 200, atingimos o limite das <strong>nos</strong>sas possibilida<strong>de</strong>s, fronteira natural<br />

<strong>de</strong> <strong>nos</strong>sas ilimitadas impossibilida<strong>de</strong>s. As poucas normas que ainda havia<br />

foram substituídas por um <strong>de</strong>svairo total das canetas pilotis, em que não há<br />

nem mesmo aquilo que se po<strong>de</strong>ria exigir como último direito do cidadão <strong>–</strong> o<br />

respeito ao seu trabalho. Nosso trabalho, mesmo os <strong>nos</strong>sos piores adversários<br />

reconhecem que o fazemos com conhecimento e serieda<strong>de</strong>. Trabalho <strong>de</strong><br />

criação, único, pois artigos e <strong>de</strong>senhos humorísticos não po<strong>de</strong>m ser<br />

substituídos <strong>de</strong> um momento para o outro como se fossem simples<br />

reproduções <strong>de</strong> discursos ou resenhas <strong>de</strong> acontecimentos sociais. (MILLÔR<br />

FERNANDES, Réquiem para um Jornal Humorístico, 1973).<br />

Millôr havia assumido a diretoria do jornal em outubro <strong>de</strong> 1972. Apesar do<br />

episódio, o jornal continua a circular mantendo a mesma linha editorial baseada no<br />

humor e no <strong>de</strong>boche, o que fica claro nas capas publicadas nesse período. Millôr (1999)<br />

conta que a equipe do jornal foi sempre muito unida. “Todos <strong>nos</strong> éramos bons<br />

companheiros <strong>de</strong> certa maneira, apesar <strong>de</strong> todas as divergências que pu<strong>de</strong>sse haver,<br />

todos os humoristas sempre se <strong>de</strong>ram bem”. (Documentário Humor com gosto <strong>de</strong><br />

<strong>Pasquim</strong>, SESC TV, 1999).<br />

A importância do <strong>Pasquim</strong> na história da imprensa brasileira está registrada em<br />

suas imagens. Até seus textos eram imagéticos, na medida em que eram repletos <strong>de</strong><br />

símbolos gráficos e compunham as páginas como um quadro, sem muita concordância<br />

ou sentido. O jornal foi publicado durante mais <strong>de</strong> 20 a<strong>nos</strong>, em diferentes condições <strong>de</strong><br />

produção e suas capas se tornaram históricas, polêmicas e até enigmáticas, no qual<br />

mostraram a participação <strong>de</strong> uma geração que ajudou a fazer o semanário <strong>–</strong> seja como<br />

personagens ou colaboração direta nas edições. São imagens que, ainda hoje,<br />

surpreen<strong>de</strong>m os olhos acostumados com o jornalismo politicamente e graficamente<br />

correto. Com improviso e falta <strong>de</strong> padronização, o jornal ajudou a posicionar a<br />

naturalida<strong>de</strong> da oralida<strong>de</strong> e das gírias no papel impresso pela primeira vez no<br />

jornalismo.

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