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O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

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percebidas pelo leitor, provocavam com o mesmo efeito o riso, e cumpriam como disse<br />

Braga (1999, p. 200), afirmando que “as técnicas do jornal, essencialmente voltadas<br />

para a produção <strong>de</strong> subentendidos (a implicitação humorística), tiveram que chegar a<br />

um nível <strong>de</strong> refinamento muito gran<strong>de</strong>, em consequência da censura”.<br />

Desse modo, O <strong>Pasquim</strong> trabalhou <strong>de</strong> um lado com o explícito, que era o<br />

assunto mesmo tratado e também com o implícito. Não po<strong>de</strong>ndo manifestar uma<br />

posição direta contra o Regime, a linha editorial avaliava, criticava e combatia a sua<br />

lógica <strong>de</strong>ixando a informação subentendida nas entrelinhas.<br />

Os assuntos abordados no tabloi<strong>de</strong>, geralmente envolviam temas polêmicos e<br />

proibidos pela censura, como as ativida<strong>de</strong>s ligadas aos movimentos estudantis e<br />

trabalhistas, críticas à economia, entre outros. Além disso, a censura proibia críticas ao<br />

sistema habitacional, propaganda sobre homossexualida<strong>de</strong> e divulgação das<br />

divergências da Igreja com o Regime. As notícias mais perigosas eram as que faziam<br />

referência aos militares e ao sistema. Qualquer assunto que pu<strong>de</strong>sse causar a bravura nas<br />

Forças Armadas, ou tensão entre os militares, era censurado.<br />

Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intensificar a repressão, a censura prévia, na qual era<br />

exigido o envio <strong>de</strong> todos os originais dos materiais à Brasília, foi instalada no <strong>Pasquim</strong><br />

e em outros jornais da imprensa alternativa. Contudo, os jornalistas e humoristas do<br />

tablói<strong>de</strong> não podiam evi<strong>de</strong>nciar que o jornal estava sendo censurado. No lugar <strong>de</strong><br />

diversas matérias, a equipe colocava poesias <strong>de</strong> Camões ou as receitas <strong>de</strong> culinária. Isso<br />

se repetiu por diversas edições.<br />

Através da censura prévia, o Regime Militar foi submetendo aos poucos a<br />

imprensa alternativa cada vez mais repressão. Aos censores era recomendado que, na<br />

dúvida, <strong>de</strong>viam cortar a material.<br />

Esse momento marcou consi<strong>de</strong>ravelmente a produção jornalística, que recebeu<br />

inúmeros vetos e tinha suas matérias rabiscadas com um X. Gentilli (2006) analisa a<br />

importância e o papel que a imprensa alternativa teve nesse período. “Ao mesmo tempo<br />

em que, por traduzir um sentimento <strong>de</strong> mudança e <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> engajamento”, as<br />

propostas dos jornais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, tiveram uma “ação específica para chegar à<br />

mudança pretendida”. (GENTILLI, 2006, p. 69).<br />

Nessas propostas, os membros da patota do <strong>Pasquim</strong>, através do humor,<br />

conseguiram transpor o sentimento <strong>de</strong> revolta, sentido por uma geração insatisfeita com<br />

o governo vigente.<br />

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