O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
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Enfim, segundo Agostinho, [...] os elementos que estruturam a charge po<strong>de</strong>m<br />
ser materiais - que constituem a estrutura - objeto - ou pertencentes a outros<br />
níveis <strong>de</strong> elementos, tais como: sistema <strong>de</strong> referência ao qual a charg recorre,<br />
ou ainda, aos sistemas <strong>de</strong> reações psicológicas contidas no <strong>de</strong>senho. Estes<br />
níveis po<strong>de</strong>m também se subdividir em tantos outros, como os níveis <strong>de</strong><br />
ritmo, <strong>de</strong> sons, <strong>de</strong> enredo, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia etc (AGOSTINHO, 1993, p. 227).<br />
No ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Nery (1998, p. 189), que discute a charge inserida no<br />
jornalismo, “a imprensa brasileira assimilou a charge como gênero opinativo e inseriu-a<br />
em suas páginas, criando condições para que se estabelecesse o hábito <strong>de</strong> sua leitura<br />
como parte do hábito <strong>de</strong> ler jornal ou revista”.<br />
Desse modo, é importante observarmos a construção <strong>de</strong> uma linguagem do<br />
humor e a presença do ridículo no discurso das obras cômicas. A apropriação do humor<br />
na divulgação ou contestação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, no ataque contra inimigos políticos, por<br />
exemplo, como no caso das charges no período do Regime Militar, tem o ato <strong>de</strong><br />
ridicularizar como um caminho seguro para a produção <strong>de</strong>ssas obras cômicas. Porém, é<br />
necessário enten<strong>de</strong>r que a utilização do humor como instrumento social não implica, é<br />
claro, numa liberda<strong>de</strong> total <strong>de</strong> ação, ou seja, aquilo que produz um efeito cômico para<br />
<strong>de</strong>terminado grupo, po<strong>de</strong> gerar revolta em outros, como aconteceu nesse período do<br />
Regime.<br />
A censura instituída durante a Ditadura Militar tinha, <strong>de</strong>ntre outras obrigações, o<br />
controle dos possíveis excessos que po<strong>de</strong>riam ser cometidos pelo uso do Estado como<br />
alvo <strong>de</strong> produções <strong>de</strong> cunho humorístico. O senso <strong>de</strong> humor do cartunista atribui a sua<br />
obra uma ação capaz <strong>de</strong> gerar uma interpretação diferente da i<strong>de</strong>ia inserida nessa mesma<br />
obra, multiplicando os seus sentidos.<br />
Chartier (1990, p. 19), em A História Cultural <strong>–</strong> Entre Práticas e<br />
Representações, discute a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação dos códigos criados entre<br />
cartunistas e leitores, quando afirma que é vital “consi<strong>de</strong>rar como ‘simbólicos’ todos os<br />
sig<strong>nos</strong>, atos ou objetos, todas as figuras intelectuais ou representações coletivas, graças<br />
aos quais os grupos fornecem uma organização conceptual ao mundo social ou natural”.<br />
Freud mostra, em sua obra “Os chistes e sua relação com o inconsciente”<br />
(1927), os domínios do risível. Para ele, são três as formas <strong>de</strong> manifestação cômica do<br />
inconsciente: o chiste, consi<strong>de</strong>rado piada ou anedota; o cômico, que é a manifestação -<br />
com contrastes - <strong>de</strong> caráter alegre; e, por fim, o humor, que existe quando há<br />
intencionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma leitura sátira <strong>de</strong> fatos negativos. “O humor goza das <strong>nos</strong>sas<br />
dificulda<strong>de</strong>s e ao fazer isso diminui os <strong>nos</strong>sos problemas, e mesmo que sejam alívios<br />
temporários, fazem muito bem para a vida. Porque viver os problemas com bom humor