13.04.2013 Views

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

78<br />

Enfim, segundo Agostinho, [...] os elementos que estruturam a charge po<strong>de</strong>m<br />

ser materiais - que constituem a estrutura - objeto - ou pertencentes a outros<br />

níveis <strong>de</strong> elementos, tais como: sistema <strong>de</strong> referência ao qual a charg recorre,<br />

ou ainda, aos sistemas <strong>de</strong> reações psicológicas contidas no <strong>de</strong>senho. Estes<br />

níveis po<strong>de</strong>m também se subdividir em tantos outros, como os níveis <strong>de</strong><br />

ritmo, <strong>de</strong> sons, <strong>de</strong> enredo, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia etc (AGOSTINHO, 1993, p. 227).<br />

No ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Nery (1998, p. 189), que discute a charge inserida no<br />

jornalismo, “a imprensa brasileira assimilou a charge como gênero opinativo e inseriu-a<br />

em suas páginas, criando condições para que se estabelecesse o hábito <strong>de</strong> sua leitura<br />

como parte do hábito <strong>de</strong> ler jornal ou revista”.<br />

Desse modo, é importante observarmos a construção <strong>de</strong> uma linguagem do<br />

humor e a presença do ridículo no discurso das obras cômicas. A apropriação do humor<br />

na divulgação ou contestação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, no ataque contra inimigos políticos, por<br />

exemplo, como no caso das charges no período do Regime Militar, tem o ato <strong>de</strong><br />

ridicularizar como um caminho seguro para a produção <strong>de</strong>ssas obras cômicas. Porém, é<br />

necessário enten<strong>de</strong>r que a utilização do humor como instrumento social não implica, é<br />

claro, numa liberda<strong>de</strong> total <strong>de</strong> ação, ou seja, aquilo que produz um efeito cômico para<br />

<strong>de</strong>terminado grupo, po<strong>de</strong> gerar revolta em outros, como aconteceu nesse período do<br />

Regime.<br />

A censura instituída durante a Ditadura Militar tinha, <strong>de</strong>ntre outras obrigações, o<br />

controle dos possíveis excessos que po<strong>de</strong>riam ser cometidos pelo uso do Estado como<br />

alvo <strong>de</strong> produções <strong>de</strong> cunho humorístico. O senso <strong>de</strong> humor do cartunista atribui a sua<br />

obra uma ação capaz <strong>de</strong> gerar uma interpretação diferente da i<strong>de</strong>ia inserida nessa mesma<br />

obra, multiplicando os seus sentidos.<br />

Chartier (1990, p. 19), em A História Cultural <strong>–</strong> Entre Práticas e<br />

Representações, discute a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação dos códigos criados entre<br />

cartunistas e leitores, quando afirma que é vital “consi<strong>de</strong>rar como ‘simbólicos’ todos os<br />

sig<strong>nos</strong>, atos ou objetos, todas as figuras intelectuais ou representações coletivas, graças<br />

aos quais os grupos fornecem uma organização conceptual ao mundo social ou natural”.<br />

Freud mostra, em sua obra “Os chistes e sua relação com o inconsciente”<br />

(1927), os domínios do risível. Para ele, são três as formas <strong>de</strong> manifestação cômica do<br />

inconsciente: o chiste, consi<strong>de</strong>rado piada ou anedota; o cômico, que é a manifestação -<br />

com contrastes - <strong>de</strong> caráter alegre; e, por fim, o humor, que existe quando há<br />

intencionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma leitura sátira <strong>de</strong> fatos negativos. “O humor goza das <strong>nos</strong>sas<br />

dificulda<strong>de</strong>s e ao fazer isso diminui os <strong>nos</strong>sos problemas, e mesmo que sejam alívios<br />

temporários, fazem muito bem para a vida. Porque viver os problemas com bom humor

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!