O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
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um coro <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentes. Segundo conta o cartunista Cláudius (1999), o jornal fazia um<br />
diálogo com os leitores:<br />
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Eu acho que o que havia, era uma cumplicida<strong>de</strong> que nós tínhamos com os<br />
leitores, que era absolutamente extraordinária. A gente sabia muito bem que a<br />
gente podia ser hermético que o censor não ia perceber isso, mas, ali adiante,<br />
certamente o leitor ia saber o que a gente estava dizendo. Era uma espécie <strong>de</strong><br />
um código secreto que a gente utilizava com o leitor (Cláudius <strong>–</strong><br />
Documentário O <strong>Pasquim</strong>, a subversão do humor. TV Câmara, 1999).<br />
Kucinski (1991, p. 156) aponta que o <strong>Pasquim</strong> revolucionou a linguagem do<br />
jornalismo brasileiro, instituindo uma oralida<strong>de</strong> que ia além da mera transferência da<br />
linguagem coloquial para a escrita do jornal. Além disso, ele aponta alguns traços que<br />
caracterizariam o jornal por toda a sua existência, <strong>de</strong>ntre os quais a gran<strong>de</strong> entrevista<br />
provocadora e dialogada.<br />
Com essa linguagem inovadora, o jornal conquistou o objetivo <strong>de</strong> toda<br />
comunicação: a expressivida<strong>de</strong>. “O <strong>Pasquim</strong> gerou uma prosódia, no processo <strong>de</strong><br />
retomar a flui<strong>de</strong>z da escrita. Produziu um tom, uma sonorida<strong>de</strong> que o distinguia dos<br />
outros jornais da época”. Assim, o tom pasquiniano apareceu “como se fosse uma<br />
cacoépia, uma pronúncia errada, diferentemente da ortoépia dos outros periódicos”.<br />
Essa distinção entre os jornais já bastava para gerar um efeito humorístico, uma vez que,<br />
ao tomar distância da escrita da imprensa dominante, O <strong>Pasquim</strong> exerceu um efeito <strong>de</strong><br />
sátira sobre as normas costumeiras. (QUEIROZ, apud BRAGA, 2009, p. 308).<br />
O <strong>Pasquim</strong> era representado com uma série <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong>s que compunham<br />
suas páginas. Estas reunidas caracterizavam o jornal com uma originalida<strong>de</strong> tamanha, a<br />
qual provocou uma imagem do periódico, enquanto marco do jornalismo no Brasil.<br />
Segundo Queiroz (2008), “se por um lado O <strong>Pasquim</strong> criticava o autoritarismo<br />
do regime que se instalou no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1964, e <strong>de</strong>pois com o AI-5, em 1968”, acabou<br />
com as liberda<strong>de</strong>s civis e políticas (...) e <strong>de</strong> acordo com a autora por outro lado, “o<br />
jornal exerceu um autoritarismo ferrenho no que diz respeito a seu comportamento,<br />
principalmente em relação ao bairro <strong>de</strong> Ipanema e à cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro”<br />
(QUEIROZ, 2008, p. 224).<br />
A autora ainda continua a afirmação, relatando que quando se referiam a outros<br />
bairros, em especial os da Zona Norte carioca, os pasquinia<strong>nos</strong> não os incluíam na<br />
memória boêmia do Rio, apesar <strong>de</strong> existirem no jornal, colaboradores vindos <strong>de</strong>ssa<br />
parte da cida<strong>de</strong>, como no caso <strong>de</strong> Aldir Blanc (criado na Vila Isabel) e Millôr