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O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

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Como na primeira edição que foi às bancas <strong>de</strong>pois da prisão dos jornalistas, em<br />

março <strong>de</strong> 70. A frase <strong>de</strong>monstrava a ironia da situação e, talvez, um alerta para os<br />

leitores do semanário: “Uma coisa é certa: lá <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ve estar muito mais engraçado<br />

do que aqui fora”. A prisão é um marco na história do <strong>Pasquim</strong> porque é, a partir <strong>de</strong>la,<br />

que uma parte da geração <strong>de</strong> 60 se mobiliza física e intelectualmente para ajudar o<br />

jornal e é justamente neste sentido que este acontecimento é utilizado, nesta pesquisa,<br />

como um divisor entre duas fases da censura sobre o semanário.<br />

O ano <strong>de</strong> 1970 estava sendo <strong>de</strong> crescimento do espaço do <strong>Pasquim</strong>: as vendas<br />

aumentavam significativamente e o jornal <strong>de</strong>ixava, aos poucos, <strong>de</strong> ser limitado ao Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro e à Ipanema e passa a ser aceito em São Paulo, que era objeto <strong>de</strong> piada para<br />

os redatores cariocas. Em vários exemplares, e em vários textos, o jornal não cansava <strong>de</strong><br />

repetir, em vários tons, a sua máxima, “<strong>Pasquim</strong> <strong>–</strong> um ponto <strong>de</strong> vista carioca”.<br />

Os dois últimos meses do ano, porém, mudaram o rumo dos acontecimentos no<br />

semanário. No final <strong>de</strong> outubro, Jaguar publica uma fotomontagem do quadro <strong>de</strong> Pedro<br />

Américo, “O Grito do Ipiranga”, também conhecido como “In<strong>de</strong>pendência ou Morte”.<br />

O cartunista adicionou à imagem <strong>de</strong> Dom Pedro I um balãozinho com a frase extraída<br />

da música <strong>de</strong> Jorge Ben: “EU QUERO MOCOTÓ!”, como mostra a figura 6. (ver<br />

Análise da imagem no capitulo 5 em item especifico)<br />

Devido essa charge, os principais jornalistas do <strong>Pasquim</strong>, exceto Millôr<br />

Fernan<strong>de</strong>s e Henfil, foram presos no início <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1970, e foram liberados<br />

dois meses <strong>de</strong>pois. A <strong>de</strong>tenção dos redatores, apesar <strong>de</strong> não ser acompanhada <strong>de</strong><br />

nenhuma forma <strong>de</strong> tortura, foi uma maneira <strong>de</strong> silenciar o jornal, que continuou<br />

utilizando o riso para <strong>de</strong>monstrar a prisão dos redatores e as condições <strong>de</strong> produção nas<br />

quais o jornal estava inserido.<br />

Para justificar, <strong>de</strong> alguma maneira, o motivos dos jornalistas do <strong>Pasquim</strong> não<br />

estarem na redação, na edição <strong>de</strong> número 73 (ver imagem em capítulo 5.3.2), a capa<br />

anunciava um “surto <strong>de</strong> gripe na redação do <strong>Pasquim</strong>”, ou seja, o <strong>Pasquim</strong> sem os seus<br />

componentes, em evi<strong>de</strong>nte ironia à não-presença <strong>de</strong> Ziraldo, Jaguar, Luiz Carlos Maciel,<br />

Tarso <strong>de</strong> Castro, Paulo Francis, Sérgio Cabral e Fortuna. Mesmo assim, Paiva foi<br />

responsável por imitar o traço dos ilustradores presos. Além <strong>de</strong> Miguel Paiva, Millôr e<br />

Henfil, que não haviam sido presos, passaram à produzir material suficiente para<br />

conseguir publicar o jornal semanalmente.<br />

A prisão dos jornalistas foi publicada pelo jornal New York Times no dia 20 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1970, pouco mais <strong>de</strong> duas semanas após o ocorrido. O jornal norte-<br />

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