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O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

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os grupos revolucionários, assinatura <strong>de</strong> listas e abaixo-assinados e participação em<br />

ativida<strong>de</strong>s culturais e estudantis.<br />

A censura não assustou o grupo <strong>de</strong> colaboradores do jornal, que po<strong>de</strong>ria ter<br />

optado por manter-se afastado para não ser associado aos subversivos jornalistas presos.<br />

Pelo contrário, aproximou e fortaleceu as interações entre os membros da geração do<br />

<strong>Pasquim</strong>, que, neste momento, sentem-se parte do jornal. O termo patota, por mais<br />

generalista que seja, é harmônico com esse sentimento e foi impresso diversas vezes nas<br />

edições do tabloi<strong>de</strong>. Também fica claro que o momento que dividiu o <strong>Pasquim</strong> e as<br />

circunstâncias da publicação do jornal durante a prisão dos jornalistas consolidou a<br />

linguagem e o estilo do jornal.<br />

A mudança da censura do <strong>Pasquim</strong> para Brasília, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1973, esvazia<br />

o espaço <strong>de</strong> relações e possibilida<strong>de</strong>s que foi criado quando os redatores entregavam e<br />

buscavam pessoalmente o material vetado. Ali, em alguns momentos, como vimos,<br />

existiu uma interação que, mesmo quando não limitava a ação do censor, possibilitava<br />

um entendimento maior <strong>de</strong> como a censura interpretava os textos e ilustrações<br />

produzidas.<br />

Com vários intelectuais no exterior, exilados ou auto-exilados, a redação do<br />

jornal toma um novo ritmo <strong>de</strong> produção. O <strong>Pasquim</strong> passa por modificações que,<br />

ampliadas, revelam momentos <strong>de</strong> silêncio, como edições sem frases-editoriais, na<br />

tentativa <strong>de</strong> manter o jornal sob o mesmo ritmo.<br />

Quando os jornalistas foram soltos, a censura prévia voltou, mas continuava<br />

sendo executada no Rio <strong>de</strong> Janeiro. O censor mencionado pelos jornalistas do <strong>Pasquim</strong>,<br />

em suas memórias, era o General Juarez Paz Pinto, pai da Garota <strong>de</strong> Ipanema, Helô<br />

Pinheiro, que também teve um relacionamento interessante com os jornalistas. Não que<br />

ele fosse companheiro <strong>de</strong> uísque, mas existia uma situação que se afasta, e muito, do<br />

que se imagina como um ambiente <strong>de</strong> censura. A relação com o general, como recorda o<br />

jornalista Sérgio Augusto em um documentário sobre o <strong>Pasquim</strong> mostra as<br />

particularida<strong>de</strong>s e condições do cotidiano do jornal e dos censores cariocas:<br />

70<br />

Um dia da semana, o Ivan Lessa ia com o Jaguar lá, para ver os cortes e fazer<br />

uma troca <strong>de</strong> favores. Ai o general dizia: Tem certeza <strong>de</strong> que não tem<br />

nenhuma sacanagem aí, não? (...). Os textos do Francis que chegavam por<br />

último, que vinham <strong>de</strong> avião pela Varig, ele lia na praia. Ele ficava ali no<br />

Posto 6, jogando biriba com os amigos <strong>de</strong>le, <strong>de</strong>pois ele ia à redação do<br />

<strong>Pasquim</strong> <strong>de</strong> calção, toalhinha, pé sujo <strong>de</strong> areia, entregar. (Documentário O<br />

<strong>Pasquim</strong>, a subversão do humor. TV Câmara, 1999).

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