O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
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auxilio dos que não haviam sido presos e <strong>de</strong> outros colaboradores. O <strong>Pasquim</strong> retomou<br />
os trabalhos sem que os seus leitores soubessem o que havia acontecido. “Com a<br />
criativida<strong>de</strong> que lhes era peculiar, os membros da patota fizeram com que os leitores<br />
soubessem da prisão <strong>de</strong> uma forma que só O <strong>Pasquim</strong> po<strong>de</strong>ria fazer, por intermédio do<br />
humor, referindo-se a prisão como um surto <strong>de</strong> gripe” (VAUCHER, 2012, p. 8).<br />
A repercussão da prisão foi gran<strong>de</strong>, e o jornal passou por diversos momentos <strong>de</strong><br />
dificulda<strong>de</strong>s, tanto <strong>de</strong>vido à repressão e censura quanto financeira.<br />
Os atos institucionais assinados nesse período, principalmente o nº5, foram tão<br />
severos quanto à censura. Jornais <strong>de</strong> esquerda e jornais consi<strong>de</strong>rados pró João Goulart,<br />
como Politika, Folha da Semana e O Semanário, foram invadidos e <strong>de</strong>struídos pelos<br />
militares. Jornais respeitados como o Última hora e Correio da Manhã, tiveram suas<br />
redações <strong>de</strong>struídas da mesma forma. Nota-se que o Regime não se importava com o<br />
nome e prestígio do veículo. Tudo isso aconteceu <strong>nos</strong> gover<strong>nos</strong> <strong>de</strong> Castelo Branco e<br />
Costa e Silva, porém, em comparação à censura que estava por vir, esse momento não<br />
foi consi<strong>de</strong>rado o mais severo.<br />
Apesar <strong>de</strong> toda essa repressão, a cultura e a oposição à Ditadura Militar parecem<br />
constituir um grupo que mantinha os cariocas unidos. Instigados pela criativida<strong>de</strong> e pelo<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mudança, constitui-se uma geração que tentou negar e, assim, criticar a<br />
violência das repressões culturais com uma receita natural: “viver essa liberda<strong>de</strong><br />
cotidiana em um vínculo indissociável com a experiência completa, total, inteira.<br />
Inevitavelmente, as obras <strong>de</strong>stes inovadores culturais retratam, <strong>de</strong> alguma forma, esse<br />
sentimento” (BUZALAF, 2009, p. 42).<br />
O <strong>Pasquim</strong> conseguiu transmitir esse pensamento e ao mesmo tempo cumprir<br />
uma espécie <strong>de</strong> semi-papel. Já que não conseguia informar a população com total<br />
liberda<strong>de</strong>, tentava fazer o máximo possível para informar usando o humor como<br />
principal arma. O semanário queria informar ao Regime, que estava ven<strong>de</strong>ndo e que<br />
seus leitores eram fiéis, como explica Buzalaf.<br />
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A frase-editorial da edição 70, publicada em 1970, <strong>de</strong>monstra, com exagero e<br />
ironia, o momento <strong>de</strong> crescimento das vendas do jornal: “Milhões <strong>de</strong> leitores<br />
seguram este <strong>Pasquim</strong>”. Em outros números, seus redatores utilizaram a capa<br />
para mostrar a importância dos leitores no vínculo com o jornal. Na edição<br />
90, publicada em <strong>1971</strong>, a frase recorreu ao recurso bastante utilizado da<br />
autopromoção do jornal, diz: “Na terra <strong>de</strong> cego, quem lê O <strong>Pasquim</strong> é rei”.<br />
(BUZALAF, 2009, p. 42).<br />
Ao ler o <strong>Pasquim</strong>, se tornava simples <strong>de</strong> perceber que ali, continha uma equipe<br />
<strong>de</strong> muito talento e criativida<strong>de</strong>. Seria impossível que os militares não <strong>de</strong>tectassem