13.04.2013 Views

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

verda<strong>de</strong>; crítica por confrontar o bom-senso e senso comum; e atrativa por se <strong>de</strong>bruçar<br />

sobre a realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>la suscitar novos olhares sobre os acontecimentos.<br />

Através das charges, que <strong>de</strong>sempenharam um papel muito importante na<br />

estratégia do jornal O <strong>Pasquim</strong> (apesar da censura prévia imposta pelo governo Médici),<br />

os humoristas do jornal optaram pela tentativa <strong>de</strong> driblar os censores com seus<br />

instrumentos <strong>de</strong> crítica:o humor e a sátira. Para Bakhtin (1999), o riso popular, por ser<br />

ambivalente expressaria uma opinião sobre o mundo, no qual os que riem estariam<br />

incluídos. O riso popular seria a imagem do “riso carnavalesco, visto que ele é<br />

universal, festivo, e ao mesmo tempo sarcástico e burlador”. (BAKHTIN, 1999: 8-11).<br />

Porém este não seria o caso do humor pasquiniano. Seria mais pru<strong>de</strong>nte creditar aos<br />

cronistas e caricaturistas, que se resistiriam ao moralismo da Ditadura e aos censores<br />

formais e informais, a condição <strong>de</strong> intelectuais que <strong>de</strong>screviam o comportamento das<br />

pessoas reais ou imaginárias <strong>de</strong> modo humorístico. Assim, estas próprias pessoas<br />

representadas não precisariam <strong>de</strong>monstrar humor algum, seriam elas, censores e<br />

representantes do Regime.<br />

Para Nery (1998, p. 39), a charge é uma “interpretação crítica, inteligente e<br />

irônica”. Interpretando a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Nery em seu livro Charge e caricatura na<br />

construção <strong>de</strong> imagens públicas, acrescentamos que a charge é crítica, pois discute e<br />

opina sobre acontecimentos noticiosos, usando a linguagem do <strong>de</strong>senho. É inteligente<br />

porque consegue resumir e criticar no pequeno espaço do <strong>de</strong>senho o que há <strong>de</strong> teor<br />

relevante em um fato, <strong>de</strong> forma que o leitor compreenda do que se trata, e fique<br />

informado sobre algo importante que se passa no seu país ou no mundo naquele dia.<br />

De acordo com Nery (1998, p. 41), “[...] a charge insere-se então a favor dos<br />

grupos ou partidos que editam o jornal e contra seus adversários”. Todavia, o autor<br />

aborda a charge como uma linguagem <strong>de</strong> comunicação que não sobrevive em meio às<br />

ditaduras. Ele acredita que as charges não conseguem exercer seu papel diante <strong>de</strong> um<br />

governo ditatorial baseado em censura. O mesmo autor explica <strong>de</strong> forma mais <strong>de</strong>talhada<br />

o assunto:<br />

76<br />

A exarcebação no traço e nas ações que compõem perfil político e<br />

psicológico <strong>de</strong> suas ‘vitimas’, permite a charge expor as peças da<br />

personalida<strong>de</strong>, objetivos, <strong>de</strong>svios <strong>de</strong> informação que o enfocado queira<br />

manter em segredo. Nas ditaduras, comumente elimina-se a charge e o<br />

incômodo que ela po<strong>de</strong> causar aos ditadores [...] Em socieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>mocráticas, a charge é um importante instrumento <strong>de</strong> expressão da<br />

heterogeneida<strong>de</strong> cultural e <strong>de</strong> pensamentos, pois ridiculariza o<br />

comportamento político dos ‘do<strong>nos</strong> do po<strong>de</strong>r’ e compõe novas cenas no<br />

espetáculo político. (Nery, 1998, p. 187).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!