O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
jornal modificou a linguagem. Nele se escrevia como se falava e isso reformulou a<br />
propaganda no Brasil inteiro, libertou todo mundo com o uso <strong>de</strong> palavrões. Por<br />
exemplo, “pô, putisgrila, paca. (...) E outra coisa: a gente podia escrever e <strong>de</strong>senhar <strong>de</strong><br />
uma maneira muito pessoal — foi essa a chave do negócio — e muito irreverente”<br />
(Henfil em entrevista a Jorge Ferreira, 1976).<br />
O discurso através do humor foi visto como uma arma a favor, pelo me<strong>nos</strong> essa<br />
era a versão que se estabelecia em torno dos intelectuais que faziam parte da equipe do<br />
semanário. A ruptura da linguagem e a invenção <strong>de</strong> um novo paradigma textual,<br />
baseados nas artes visuais, foram explicados por Millôr Fernan<strong>de</strong>s, na crônica: Uma<br />
senhora efeméri<strong>de</strong>, publicada em 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1970, no <strong>Pasquim</strong>. O cronista<br />
<strong>de</strong>stacaria, <strong>de</strong> forma satírica, o abalo moral que o jornal produziu por ter libertado a<br />
linguagem escrita e falada da República:<br />
59<br />
Hoje, por exemplo, nesta fase, posso escrever indiferentemente, ‘uma<br />
senhora efeméri<strong>de</strong>’ ou ‘uma puta efeméri<strong>de</strong>’. O <strong>Pasquim</strong> acabou com a<br />
diferença <strong>de</strong> classe entre puta e senhora. Como adjetivos, claro. Com relação<br />
aos substantivos o jornal é altamente conservador. Sobre esta observação<br />
po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que o periódico, apesar <strong>de</strong> ter rompido com alguns<br />
paradigmas sociais, ainda mantinha um discurso conservador,<br />
principalmente, no que diz respeito ao papel das mulheres e ao dos<br />
homossexuais na socieda<strong>de</strong>. (FERNANDES, 1970).<br />
Sobre a citação po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que o periódico, apesar <strong>de</strong> ter rompido com<br />
alguns paradigmas sociais, ainda mantinha um discurso conservador, principalmente, no<br />
que diz respeito ao papel das mulheres e ao dos homossexuais na socieda<strong>de</strong>.<br />
Desse modo, o semanário <strong>Pasquim</strong> foi um gerador <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s mudanças,<br />
<strong>de</strong>vido, não só <strong>de</strong> suas influências <strong>nos</strong> meios <strong>de</strong> comunicação, como também no<br />
cotidiano da socieda<strong>de</strong>, que introduziu uma espécie <strong>de</strong> novo vocabulário, uma nova fala<br />
pasquiniana. E, diante disso, é importante ressaltar que todos aqueles que fizeram parte<br />
do periódico, colaboradores ou leitores, marcaram a história do jornalismo no Brasil<br />
como a geração <strong>Pasquim</strong>.<br />
A linguagem não foi a única estratégia que o <strong>Pasquim</strong> usou para conviver com a<br />
censura. A relação com os censores é, também, cheia <strong>de</strong> particularida<strong>de</strong>s. A conhecida<br />
censora Dona Marina (Marina Brum Duarte) tornou-se parceira <strong>de</strong> uísque da dos<br />
redatores; o general Juarez Paz Pinto censurava parte do material nas areias da praia.<br />
Sérgio Augusto, que também participou do <strong>Pasquim</strong> e recentemente organizou a<br />
coleção O Melhor do <strong>Pasquim</strong>, juntamente com Jaguar, <strong>de</strong>fine no livro que o semanário<br />
era um “jornal sem patrão”: