O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
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Militar, e mais especificamente, o mesmo do cartunista Henfil, um dos integrantes do<br />
jornal O <strong>Pasquim</strong>. Pires (2008) <strong>de</strong>staca a importância que o jornalismo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ou<br />
alternativo, teve nesse período <strong>de</strong> transformações políticas no país:<br />
Durante a ditadura militar brasileira, a imprensa alternativa mostrou-se<br />
fundamental para a viabilização <strong>de</strong> importantes canais <strong>de</strong> expressão para<br />
grupos marginalizados como negros, mulheres e homossexuais, favorecendo,<br />
ao mesmo tempo, a consolidação <strong>de</strong> uma cultura afirmativa e <strong>de</strong> confrontação<br />
ao caráter liberal-conservador do discurso político hegemônico. (PIRES,<br />
2008, p. 1).<br />
Como já foi citado anteriormente, foram inúmeros jornais que nasceram nesse<br />
período, com ou sem uma i<strong>de</strong>ologia, porém com o passar do tempo, foram tomando<br />
forma e enfatizando seus i<strong>de</strong>ais. Entre os diferentes enfoques ainda citamos os jornais<br />
feministas, indígenas, estudantis, entre outros.<br />
Quando se fala em produção humorística em prol <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia ou protesto, os<br />
jornais alternativos buscaram no humor, através <strong>de</strong> linguagens <strong>de</strong> charges e <strong>de</strong> cartuns,<br />
expor suas i<strong>de</strong>ias, mesmo sendo <strong>de</strong> forma subentendida, disfarçada. De acordo com<br />
Oliveira (2011, p. 2972), Henfil, em suas charges no jornal O <strong>Pasquim</strong>, buscou mostrar<br />
através do humor, “a insegurança política que o país viveu tanto na instauração quanto<br />
no momento <strong>de</strong> abertura do Regime Militar”.<br />
Maringoni (1996) aborda que o humor <strong>de</strong>ve seguir uma espécie <strong>de</strong> código, em<br />
cada publicação, para que assim, o seu objetivo seja realmente alcançado:<br />
Para se fazer humor é preciso haver cumplicida<strong>de</strong> com o público. Ninguém ri<br />
da piada que você conta, se não existe um código prévio entre você e seus<br />
ouvintes. Muitas vezes, este código está baseado no mais repugnante dos<br />
preconceitos, mas ele - o vínculo - <strong>de</strong>ve existir. (MARINGONI, 1996, p. 88).<br />
A citação aponta uma das principais características <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> humor: o<br />
humor como forma <strong>de</strong> resistência. O código, que o autor trata, é realmente o diferencial<br />
<strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong> fazer, no qual as charges e cartuns apresentados <strong>nos</strong> jornais do período<br />
ditatorial.<br />
Kucinski (1991) também aborda esse humor, dotado <strong>de</strong> características libertárias<br />
e transformadoras. “Cínicos e libertários, os escritores satíricos e cartunistas<br />
<strong>de</strong>sempenharam um papel central na resistência à ditadura brasileira” (KUCINSKI,<br />
1991, p. 26). De acordo com o autor, nenhuma outra categoria se opôs <strong>de</strong> forma tão<br />
coerente.<br />
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