O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
O Pasquim nos anos de chumbo (1969 – 1971): A CHARGE COMO ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Desse modo, fica mais fácil enten<strong>de</strong>rmos porque o jovem estava sendo avisado<br />
que suas palavras <strong>de</strong>veriam ser cuidadas naquele momento. Qualquer manifestação<br />
sobre o governo seria punida e os direitos do cidadão prejudicados.<br />
É possível perceber na charge, que os traços que a compõem são fi<strong>nos</strong> e bem<br />
característicos do chargista Millôr Fernan<strong>de</strong>s. Vedovatto fala sobre esta característica:<br />
“A linha fina simboliza leveza, graça, fragilida<strong>de</strong>” (2000, p. 29). A autora contextualiza<br />
também o intuito que o movimento trazido pelo traço, beneficia a charge. “O<br />
movimento potencializa a dinâmica na charge, o que é necessário para que ela traduza<br />
inteiramente a mensagem que se propôs a transmitir” (VEDOVATTO, 2000, p. 46).<br />
Desse modo, na charge A, po<strong>de</strong>mos perceber o movimento das mãos do personagem da<br />
esquerda, que está visivelmente articulando com o outro personagem, e em uma <strong>de</strong> suas<br />
mãos possui um cigarro e a outra complementa a articulação da conversa entre os dois.<br />
Aparentemente, po<strong>de</strong>mos perceber que este personagem está mais animado que o outro,<br />
que aparentemente permanece sério e imóvel.<br />
Quanto à mensagem enviada através das charges, ainda <strong>nos</strong> baseamos em<br />
Vedovatto (2000, p. 3), que contextualiza que “a charge é um texto complexo,<br />
construído a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas estratégias que requerem tanto do produtor quanto<br />
do leitor, uma competência discursiva especial”. Para isso, “os contratos entre emissor e<br />
leitor se concretizem plenamente, é necessário que haja uma cumplicida<strong>de</strong> entre eles”.<br />
Desse modo, enten<strong>de</strong>mos o quão importante é o receptor enten<strong>de</strong>r o que está<br />
sendo dito, para compreen<strong>de</strong>r os diferentes sentidos que a charge po<strong>de</strong> trazer.<br />
Quanto à questão da autocensura suscitada pela imagem, percebemos que ela é<br />
apresentada na fala entre os personagens, no qual um diz euforicamente para o outro,<br />
uma frase que não podia estar sendo dita, ou seja, durante aquele período político do<br />
país, as pessoas não tinham uma manifestação livre, <strong>de</strong>vido à repressão e à censura aos<br />
meios <strong>de</strong> comunicação, portanto, logo, o outro personagem o alerta: Cuidado rapaz.<br />
Seguindo os elementos característicos das charges, os balões também<br />
i<strong>de</strong>ntificam uma função à imagem. De acordo com Cagnin (1975), a forma mais<br />
aplicada na apresentação verbal da charge é através <strong>de</strong> balões <strong>de</strong> fala. A fala <strong>nos</strong> balões<br />
complemente a imagem e <strong>de</strong>ixa o contexto da charge mais claro.<br />
Millôr Fernan<strong>de</strong>s foi um dos principais integrantes d’O <strong>Pasquim</strong>. Desenhista,<br />
escritor e jornalista, Millôr ironizava constantemente a censura imposta às redações,<br />
assim como a autocensura da gran<strong>de</strong> imprensa.<br />
98