revista do instituto geográfico e histórico da bahia - IGHB

pretensa falta de seriedade, isso, sobretudo, por não terem sido
jamais prestigiadas pela escritura em livros que se tornaram sagrados,
tais como a Bíblia para os católicos, o Corão para os
muçulmanos e o Torá para os judeus.
Quanto às línguas negro-africanas, essas passaram a ser
marginalizadas na categoria de dialetos, em sua conotação depreciativa,
concebidas como falares sem importância social ou
inaceitáveis aos ouvidos “civilizados”, numa projeção de tal ordem
que se pode chegar às raias de outro absurdo ainda maior,
o de se querer re-inventar a teoria escravista do negro-africano
na condição inumana de “coisa” ou de “peças” e que, portanto,
só começou a falar “língua de gente”, isto é, articuladamente
humana, quando adquiriu uma das línguas de colonização européia,
em nosso caso o português, prestigiado no mundo ocidental
pela sua notável produção literária.
Tradição e oralidade
A oralidade é característica fundamental na tradição das
sociedades africanas. Nelas, a comunicação jamais conheceu o
apoio do letrismo como artifício indispensável ao processo de
aquisição da sabedoria. Pelo contrário. Os textos são regravados
pela memória do grupo e a ele pertencem, uma atitude radicalmente
oposta à que ocorre na criação literária, que é mais de
cunho individual e de propriedade autoral reconhecida. O que
vale é repassar a transmissão do saber através de gerações pela
tradição oral, depositária do conhecimento empírico das experiências
materiais e espirituais vivenciadas pelo grupo, com o
qual o narrador tem uma interatividade constante.
Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. 103, p. 13-24, 2008 15
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