revista do instituto geográfico e histórico da bahia - IGHB

O confronto entre o texto do Diário e os variados testemunhos
que recolhemos sobre os acontecimentos aponta algumas
coincidências, destoando, no entanto, no crucial: Getúlio
não faz nenhuma menção sobre construção de açude, barragem
ou reservatório, apesar da referência explícita a Isaías Canário.
No mais a conversa do povo confirma o documento escrito.
Muitos são os que evocam os festejos, alguns mencionam os
personagens citados por Getúlio, mesmo o roteiro percorrido
pelo Ditador não escapa a memorialística sertaneja. Está tudo
na ponta da língua! Então como interpretar testemunhos tão discrepantes?
Seria simplesmente uma elaboração fantasiosa do
imaginário popular? Boato muitas vezes repetido até transformar-se
em verdade? Cotejada as informações apenas o escritor
Eldon Canário e o cidadão poderoso que foi o senhor Antonio
Batista, ambos integrantes da elite local, desmentem o célebre e
controverso diálogo. Batista foi participante privilegiado, mas
Eldon conta o que ouviu, ou melhor, o que não ouviu. Fato concreto
é que não há nada de desproposital ou estranho no suposto
pedido.
A região de Canudos encontra-se no chamado “Polígono
das Secas”, espaço geográfico historicamente castigado por
estiagens longas e cíclicas, demandando por conseqüência a
adoção de políticas públicas para combater tal fenômeno, no
entanto, os sucessivos governos jamais trataram seriamente do
assunto como prioridade. São muitos os exemplos do descaso
governamental.
Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. 103, p. 53-73, 2008 59
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