revista do instituto geográfico e histórico da bahia - IGHB

selo de todas as festividades nacionais; porém que no palacete
da Sociedade, que representa o Dia Dois de Julho e o Povo,
faça a primeira figura a – estampa – do Imperador, é o que
nenhum patriota verdadeiro pode desculpar, porque não há nada
mais excêntrico do que isto. O estrangeiro que vir esse palacete
e ignorar a origem da festa, tomá-la-á por festividade régia, e
não por uma solenidade toda popular, toda liberal e patriótica.
Faça-se ao menos uma exceção desse Dia, abstraia-se da idolatria
monárquica no Dia Dois de Julho; ou então não se levantem
mais esses arcos e palacetes, ou como quer que se chamem.
Confundir as recordações do Dia Dois de Julho com os
cultos miseráveis da realeza, é ou grande ignorância da natureza
da festa, ou indesculpável servilismo e adulação ao Poder,
quando nesse Dia não se celebra outra coisa senão a soberania
Popular. Este procedimento da Sociedade, posto que para muitos
seja em extremo louvável, e para outros indiferente, tem todavia
esfriado o entusiasmo de muitas pessoas, tem chegado
mesmo a fechar-lhes a bolsa, porque com todo o fundamento se
entende que no Dia Dois de Julho comemora-se a Liberdade e
não a monarquia, personificada no Sr. D. Pedro 2º.
Muitas reflexões nos vão acudindo neste momento; porém
é prudente pôr termo a este escrito para nos não excedermos.
Povo Baiano, gente tão digna de melhor sorte, não podemos
concluir sem dirigir-vos a palavra. Ouvi-nos. O Dia Dois
de Julho já não existe, já se acabou; resta-vos somente o desejo
ardente de sua restauração; ela se realizará em algum tempo, e
talvez que não muito longe esteja essa época. Continuai, pois, a
sonhar com ele, porque ele por fim raiará, e trazer-vos-á tudo
quanto anelais e nós convoco igualmente anelamos.
314 Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. 103, p. 311-315, 2008
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