revista do instituto geográfico e histórico da bahia - IGHB

Diz, assim, Augusto Jorge Cury 4 : “A cada momento em
que resgatamos e reconstruímos uma experiência do passado,
nós o fazemos de maneira diferente [...]. Se não ocorressem
esses mecanismos, gravitaríamos em torno das experiências do
passado e não promoveríamos uma revolução na construção de
novas idéias que estimulariam o processo de formação da personalidade
e o processo de evolução da história social do homem”
5 .
A efeméride dos 200 anos da vinda da Corte Portuguesa
para o Brasil permitiu e proporcionou, deste modo, uma revisão
do período histórico em que ela há dois séculos decorreu. Naturalmente,
como já dito, essa atenção por uma determinada
época nunca será completa, dependendo da perspectiva. No
Brasil, as atenções focar-se-ão no fenômeno da chegada da
Corte, na sua interação com os grupos sociais locais, as realizações
levadas a cabo, a emancipação gradual do país da tutela
da longínqua pátria que era Portugal. Em Portugal, naturalmente,
as perspectivas serão diferentes. O que importará mais é a
recuperação do significado e importância do ato de transmigração
da Coroa, numa altura de especial dificuldade para o país, que
muitas vezes a historiografia portuguesa, principalmente a romântica
e liberal, tão acintosamente soube denegrir.
4 Inteligência Multifocal – análise da construção dos pensamentos e da formação
de pensadores. 8 ed., São Paulo: Cultrix, 1998, p. 85.
5 O efeito do pensamento e da reflexão histórica pode ser, talvez, comparado
com o que de outro modo Bill McKibben diz, em desfavor do “IPod”, sobre o
“internet radio” (“Radio Free Everywhere” , “The Atlantic”, Dezembro de
2007): “The IPod shows you mainly what’s already going on in your mind –
it’s cool, but only as cool as solipsim can ever be. I’ve got a way cooler device:
a squat little box that [...] connects you to pretty much the entire Earth”.
Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. 103, p. 165-211, 2008 167
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