revista do instituto geográfico e histórico da bahia - IGHB

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metido aos moradores a construção da futura barragem de Cocorobó. O escritor Eldon Canário, sobrinho de Isaías, desmente categoricamente esta e outras versões semelhantes, classificado-as como “imaginosas”. Vejamos o parágrafo abaixo: Uma delas, surgida mais recentemente, conta que, quando da visita do Presidente Getúlio Vargas a Canudos, o governante brasileiro, ao despedir-se do seu anfitrião, Isaías Canário, perguntou-lhe o que poderia fazer em benefício do lugar, ao que o filho da terra respondeu: “a construção de uma barragem”. “Será construída”, teria respondido o grande estadista. (CANÁRIO, 2002, 55). O senhor Antônio Batista, 90 anos, que, na década de 40, era poderoso comerciante na Vila e membro da comitiva que recepcionou o Presidente, em depoimento concedido ao autor deste artigo, em 1999, foi enfático ao afirmar a inexistência de qualquer conversa sobre a construção de uma barragem entre Vargas e os membros do receptivo canudense, durante a curta estadia do Presidente na pequena cidade: “Recebi ele. Ainda havia um cruzeiro, nós fomos para o pé do cruzeiro. Ele com Os sertões debaixo do braço”. Quanto ao pedido feito pelo Sr. Isaías, a resposta é incisiva: “Não, a gente não esperava nem essa evolução. Só queríamos uma rodagem porque faltava transporte, mas não foi pedido por Isaías não. Ninguém esperava que o açude tivesse tanta vantagem para a região. Ninguém pensava nem em açude, porque era um rio perene, não é 2 ? 2 Depoimento prestado ao autor e a José Carlos Pinheiro, em 25/8/1999, no município de Euclides da Cunha. Vale destacar também que o rio Vasa Barris, em terras do município de Canudos, não é um manancial perene. Acervo CEEC/UNEB. Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. 103, p. 53-73, 2008 57 IGH-2.pmd 57 28/11/2008, 08:36
A dúvida, entretanto, permanece. A maioria absoluta dos habitantes, especialmente os mais idosos, sempre que inquiridos sobre o assunto, repetem a versão, a qual, o escritor e o comerciante negam com tanta veemência. A senhora Salustiana Santos, 87 anos, mais conhecida como dona Salú 3 relata o fato como muitos outros dos seus conterrâneos. Ela inicia sua narrativa recordando a chegada do visitante ilustre: “Nós viemos em fila, tudo marchando na chega de Getúlio Vargas. Nós tudo na fila esperando a chegada dele na casa do Isaías Canário, que era quem recebia os graúdos daí. Quando chegou já estava tudo preparado, cantamos o hino nacional”. E prossegue: “O açude foi porque o Getúlio Vargas falou com Isaías Canário, falando com ele, que ele pedisse o que ele quisesse, então ele pediu: “um açude para Canudos, um açude e uma vaca turina”. Outra testemunha presencial, Edmundo Cerqueira 4 , servidor aposentado do DNOCS, 78 anos, confirma o fato, narrando-o de forma assemelhada: Getúlio disse assim: “Sr. Isaías Ferreira Canário me diga o que o senhor quer que eu faça nessa região”. Aí “seo” Isaías disse: Eu queria que o senhor arranjasse para fazer uma barragem ou um açude aqui no rio Vaza Barris. Aí Getúlio chamou um caboclo forte para anotar, e ele anotou tudo. Tudo indica que era Gregório 5 ". E acrescentou peremptório: “Eu assisti. Eu estava lá”!. 3 Entrevista concedida em 24/8/1999, ao autor e ao historiador José Carlos Pinheiro, da UNEB. Acervo CEEC/UNEB. 4 Depoimento ao autor em 6/12/1999. Acervo CEEC/UNEB. 5 Tenente Gregório Fortunato, Chefe da Guarda Pessoal do Presidente Vargas. 58 Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. 103, p. 53-73, 2008 IGH-2.pmd 58 28/11/2008, 08:36
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