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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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encara<strong>do</strong> como egoísmo gera<strong>do</strong>r de preocupações «indignas» e de remorso, em<br />

confronto com a primeira vertente. E aí justamente reside o cerne dessa poesia<br />

(Moisés, 1983:191).<br />

O méto<strong>do</strong> de representação <strong>do</strong> real é indirecto, ancora<strong>do</strong> no olhar subjectivo <strong>do</strong><br />

sujeito. A partir deste, da sua percepção peculiar, enuncia-se o presente e adquire<br />

relevância o passa<strong>do</strong>. O facto de as percepções serem veiculadas por diferentes faces <strong>do</strong><br />

eu implica uma ampliação prismática <strong>do</strong> olhar sobre o real.<br />

Há uma dialéctica constante entre a realidade e a irrealidade, entre as suas<br />

tendências individuais e a necessidade de partilhar o sofrimento alheio 80<br />

(aproximação/distanciamento <strong>do</strong> neo-realismo). Desta tensão conceptual real/ideal<br />

surge a criação literária 81 da qual o real é o material da criação 82 . Assim, o mun<strong>do</strong> real é<br />

absorvi<strong>do</strong> pelo par mun<strong>do</strong> real/imaginário. O processo cria<strong>do</strong>r manipula a vida em<br />

permanente transformação poética para construir a obra. A obra é, pois, uma<br />

reorganização criativa da realidade e não apenas um seu produto ou um seu deriva<strong>do</strong>.<br />

80 Como reconhece <strong>José</strong> Car<strong>do</strong>so Pires: “Pu<strong>do</strong>r e fidelidade natural ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s outros, qualquer<br />

coisa de príncipe republicano nasci<strong>do</strong> em bairro comunal” (1986:146).<br />

81<br />

E “Factos vivi<strong>do</strong>s tornam-se cinzas, acomodam-se aos ninhos da memória e são ofereci<strong>do</strong>s ao sol <strong>–</strong><br />

como uma Fénix <strong>–</strong> para renascer a serviço da obra em criação. É uma nova Fénix. É o canto <strong>do</strong><br />

pássaro na janela <strong>do</strong> poeta que renasce com a força <strong>do</strong> canto de to<strong>do</strong>s os pássaros na janela <strong>do</strong>s<br />

homens” (Sales, 1996:81).<br />

82<br />

Diz a este propósito Carlos Felipe Moisés “a poesia de intervenção social (…) pretende intervir na<br />

realidade, para reformá-la, idealisticamente, e com amargura se reconhece incapaz; aquela, [a efusão<br />

imaginativa] envergonhada, acusa-se de evasionista e demissionária, mas afinal é dela que provém a<br />

90 <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>: a <strong>Poética</strong> <strong>do</strong> <strong>Canto</strong> e <strong>do</strong> <strong>Grito</strong><br />

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