José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O nascimento atesta<strong>do</strong> pela cédula é ainda marca<strong>do</strong> pelo signo da água, presente<br />
nos lexemas “bilha” e “sede”, que, à imagem de “boca”, são recorrentes no poema,<br />
ligan<strong>do</strong>-se a cada uma das simbologias da “boca” que o sujeito poético convoca. É esta<br />
convivência, algo conflituosa, entre as duas bocas, evoca<strong>do</strong>ras, respectivamente, <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> real e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> poético, que preside ao nascimento <strong>do</strong> Poeta para a poesia.<br />
Mais uma vez, associada ao seu nascimento, surge uma tensão que vai pautar toda a<br />
sua produção poética <strong>–</strong> a combinação mun<strong>do</strong> real / mun<strong>do</strong> poético.<br />
Não foi só pela mediação da sua entidade poética que <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> nos<br />
falou <strong>do</strong> seu despertar para a poesia. Por isso, antes de entrarmos no seu Universo<br />
Poético, como o autor não gosta que se escarafunche na sua vida, no anedótico <strong>do</strong> seu<br />
passa<strong>do</strong> pessoal, tão distante e desfeito (cf. <strong>Ferreira</strong>, 1991b:14) 34 , e haven<strong>do</strong><br />
necessidade de conhecer alguns passos seus, 35 para entendermos a sua produção<br />
poética, vamos deixar que seja o próprio a guiar-nos no seu percurso poético e até<br />
social:<br />
Graças a esse arquivo íntimo (que tenciono queimar antes de morrer) posso hoje<br />
seguir com minúcia de mudez indiscreta a evolução surda <strong>do</strong> meu sonho literário<br />
(ibidem: 99)<br />
34 Cf. pág. 33 <strong>do</strong> presente trabalho, onde se faz referência ao pacto que estabelecemos com o autor.<br />
35 Esta necessidade de conhecer traços biográficos de um autor é realçada por Maria João Reynaud<br />
(1993:233) ao referir que Philippe Lejeune pega utiliza casos de autobiografia e de diário intimo para<br />
detectar traços específicos que, ao nível da génese, permitem definir especificidades na relação <strong>do</strong> eu<br />
com a linguagem.<br />
Universo da Criação <strong>Poética</strong> 39